Na primeira metade do século XVII, Portugal
ainda dependia politicamente da Espanha, fato que, se por um lado
exasperava os sentimentos patrióticos de um frei Antão, como mostrou
Gonçalves Dias, por outro lado a ele se acomodavam os conservadoristas e
os portugueses de pouco brio. D. Antônio de Mariz, fidalgo dos mais
insignes da nobreza de Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização
dentro mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Representa,
com sua casa-forte, elevada na Serra dos Órgãos, um baluarte na Colônia,
a desafiar o poderio espanhol. Sua casa-forte, às margens do Pequequer,
afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres portugueses, afinados no
mesmo espírito patriótico e colonizador, mas acolhe inicialmente, com
ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos de ouro e
prata, como o aventureiro Loredano, ex-padre que assassinara um homem
desarmado, a troco do mapa das famosas minas de prata. Dentro da
respeitável casa de D. Antônio de Mariz, Loredano vai pacientemente
urdindo seu plano de destruição de toda a família e dos agregados. Em
seus planos, contudo, está o rapto da bela Cecília, filha de D. Antônio,
mas que é constantemente vigiada por um índio forte e corajoso, Peri,
que em recompensa por tê-la salvo certa vez de uma avalancha de pedras,
recebeu a mais alta gratidão de D. Antônio e mesmo o afeto espontâneo da
moça, que o trata como a um irmão. A narrativa inicia seus momentos
épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio,
inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada.
Indignados, os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri,
enquanto espreitavam o banho de Ceci, para logo após assassiná-la, dois
aimorés caem transpassados por certeiras flechas; o fato é relatado à
tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido. A luta que se
irá travar não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a
destruição de todos os que não o acompanhem. Pela bravura demonstrada do
homem português, têm importância ainda dois personagens: Álvaro, jovem
enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor, senão numa fraterna
simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal defensor da
casa de D. Antônio. Durante todos os momentos da luta, Peri, vigilante,
não descura dos passos de Loredano, frustrando todas suas tentativas de
traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão
ganhando a luta passo a passo. Num momento, dos mais heróicos por sinal,
Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução
tipicamente indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são
antropófagos, desce a montanha e vai lutar "in loco" contra os aimorés:
sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí
estaria a salvação da casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu
organismo já estaria de todo envenenado. Depois de encarniçada luta,
onde morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já sem forças,
espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. Álvaro (a esta
altura enamorado de Isabel, irmã adotiva de Cecília) consegue
heroicamente salvar Peri. Peri volta e diz a Ceci que havia tomado
veneno. Ante o desespero da moça com essa revelação, Peri volta à
floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder
letal do veneno. De volta, traz o cadáver de Álvaro morto em combate
com os aimorés. Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel,
inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se sobre seu
corpo. Loredano continua agindo. Crendo-se completamente seguro, trama
agora a morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é
preso e condenado a morrer na fogueira, como traidor. O cerco dos
selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz
cristão, única maneira possível para que D. Antônio concordasse, na fuga
dos dois, os únicos que se poderiam salvar. Descendo por uma corda
através do abismo, carregando Cecília entorpecida pelo vinho que o pai
lhe dera para que dormisse, Peri, consegue afinal chegar ao rio
Paquequer. Numa frágil canoa, vai descendo rio abaixo, até que ouve o
grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os
aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo
índios e portugueses. Testemunhas únicas do ocorrido, Peri e Ceci
caminham agora por uma natureza revolta em águas, enfrentando a fúria
dos elementos da tempestade. Cecília acorda e Peri lhe relata o
sucedido. Transtornada, a moça se vê sozinha no mundo. Prefere não mais
voltar ao Rio de Janeiro, para onde iria. Prefere ficar com Peri,
morando nas selvas. A tempestade faz as águas subirem ainda mais. Por
segurança, Peri sobe ao alto de uma palmeira, protegendo fielmente a
moça. Como as águas fossem subindo perigosamente, Peri, com força
descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando uma canoa. O
romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem antes
Alencar ter sugerido, nas últimas linhas do romance, uma bela união
amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira...
Resumos / Material
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