O escravocrata foi escrita em 1882 por Artur Azevedo, em
colaboração com Urbano Duarte (1855-1902), teatrólogo e jornalista
baiano. É um típico exemplo de peça abolicionista do Segundo Império,
quando o teatro foi um dos veículos mais populares de divulgação das
idéias anti-escravagistas no Brasil. Entretanto o texto, que
intitulou-se inicialmente A família Salazar, dado ao seu teor
extremamente polêmico, não recebeu o aval do Conservatório Dramático
Brasileiro, sendo, portanto, impedido de ser encenado. Dois anos depois,
os autores o publicaram em volume (Ed. A.Guimarães, Rio de Janeiro,
1884) "a fim de que o público o julgue e pronuncie. " Do ponto de vista
do estilo, O escravocrata é um drama, ou melhor, um dramalhão, pois o
acúmulo de situações escabrosas solucionadas de modo abrupto e radical o
classifica como tal. Há poucas nuances no terceiro ato, que, comparado
aos dois primeiros, parece ter sido terminado de modo apressado e
insatisfatório. Essa aliás é uma das principais características do
teatro dramático brasileiro no século XIX, presente tanto nos raros
dramas de Martins Pena (Leonor Telles), quanto nos de José de Alencar
(Mãe) e Gonçalves Dias (Leonor de Mendonça). A vertente da comédia de
costumes envelheceu menos e vai ser nela que encontraremos os melhores
exemplos da nossa dramaturgia novecentista. O próprio Artur Azevedo vai
se tornar futuramente um mestre nesse gênero mais ligeiro. O que mantém o
interesse dessa peça e justifica sua inclusão na Biblioteca Virtual é a
possibilidade de conhecermos um exemplo típico de teatro militante (tão
militante que foi proibido) e observarmos o tratamento entre
patrão/escravo nos últimos anos do cativeiro, uma intimidade que beira o
sado-masoquismo e que foi igualmente retratada por Joaquim Manoel de
Macedo no livro As vítimas algozes. Em ambos os casos, os autores
denunciam que, se o escravo é inegavelmente vítima de um regime
desumano, a sua presença igualmente desagrega a sociedade branca no que
ela teria de mais recomendável. Daí a necessidade urgente da abolição.
Em O escravocrata, encontramos um exemplo raríssimo de uma sinhá que
trai o marido fazendeiro com um negro, e também uma revolta armada dos
escravos contra o patrão. Sem dúvida foram esses os motivos que
determinaram o veto do Conservatório Dramático.
Resumos / Material
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