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Resumos / Material

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Mulato - Aluísio de Azevedo

Saindo criança de São Luís para Lisboa, Raimundo viajava órfão de pai, um ex-comerciante português, e afastado da mãe, Domingas, uma ex-escrava do pai. Depois de anos na Europa, Raimundos volta formado para o Brasil. Passa um ano no Rio e decide voltar para São Luís para rever se tutor e tio, Manuel Pescada. Bem recebido pela família do tio, Raimundo loga desperta as atenções de sua prima Ana Rosa que, em dado momento, declara-lhe seu amor. Essa paixão correspondida, encontra, todavia, três obstáculos : o do pai, que queria a filha casada com um dos caixeiros da loja; o da avó Maria Bárbara, mulher racista e de maus bofes; o do cônego Diogo, comensal da casa e adversário natural de Raimundo. Todos os três conheciam as origens de raimundo. e o cônego Diogo era o mais empenhado em impedir a ligação, uma vez que foi responsável pela morte do pai do jovem. Foi assim : depois que Raimundo nasceu, seu pai, José Pedro da Silva, casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção particular que José Pedro dedicava ao pequeno raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as partes genitais. Desesperado, José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à fazenda, imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes em seu quarto. Invadindo-o, o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre Diogo em pleno adultério. Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo Diogo como testemnha. Graças à culpa do adultério e à culpa do homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade entre ambos. Diante de mais essa desgraça, José Pedro abandona a fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece. Algum tempo depois, já restabelecido, josé Pedro resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é tocaiado e morto. Por outro lado, devagarzinho, o Padre Diogo começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada. Raimundo ignorava tudo isso. Em São Luís, já adulto, sua preocupação básica é a de desvendar suas origens e, por isso, insiste com o tioo e visistar a fazenda onde nascera. Durante a percursoa São Brás, raimundo começa a descobrir os primeiros dados sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe conceda mão de Ana Rosa. Depois de várias recusas, raimundo fica sabendo que o motivo da proibiÇão devia-se à cor da sua pele. De volta à a São Luis, Raimundo muda-se da casa do tio, decide voltar para o Rio, confessa em carta a Ana Rosa seu amor, mas acaba não viajando. Apesar das proibições, Ana Rosa e ele concertam um plano de fuga. No entanto, a carta principal fora interceptada por um cúmplice do cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manuel Pescada e forte pretendente, sempre repelido, à mão de Ana Rosa. Na hora da fuga, os namorados são surpreendidos. Arma-se o escânda=lo do qual o cônego é o grande regente. Raimundo retira-se desolado e, o abrir a porta de casa, um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o cônego Diogo, o caixeiro Dias assassina o rival. Ana Rosa aborta. Entretanto, seis anos depois, vemo-la saindo de uma recepção oficial, de braço com o Sr. dias e preocupada com os "três filhinhos que ficaram em casa, a dormir".
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O Monge de Cister - Alexandre Herculano

 Vasco da Silva deseja matar Lopo Mendes, que tinha casado com Leonor , sua bem- amada; também queria vingar o pai, ofendido por um cavaleiro que, ainda por cima, tinha abusado de sua irma Beatriz. Depois que assassina o rival, Vasco se arrepende profundamente, e torna-se padre. Enquanto isso , o sedutor de Beatriz - Fernando Afonso - a abandona. D. João de Ornelas , abade de Alcobaça, incentiva o ódio de Vasco, dizendo - lhe que Fernando Afonso era amante de Leonor ( a mulher que Vasco nunca deixara de amar) . Beatriz morre e Vasco conta ao rei D. João Ï o tenebroso, nefando, terrível e maldoso, além de maléfico, passado de Fernando Afonso, que é condenado a morrer queimado, ou seja na fogueira. Por fim - uff! - Vasco morre e a narrativa acaba . A ação do romance transcorre no século XIV ( 1385). Com seus 3 romances históricos - Eurico, o Presbítero , O Monge de Cister e O Bobo - Herculano pretendia reconstituir a história de Portugal, desde as lutas da reconquista do território aos árabes invasores, até o final da Idade Média, com a formação do Estado português.
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sábado, 15 de maio de 2010

O Moleque Ricardo - José Lins do Rego

O moleque Ricardo faz parte das chamadas obras independentes do autor, juntamente com Pureza e Riacho Doce, que apresentam ligação com os dois ciclos: o da cana-de-açúcar e o do cangaço.
O Moleque Ricardo é o romance mais político de José Lins. Nesta obra, a realidade nordestina está retratada no personagem Ricardo, que, de moleque e serviçal de engenho, passa a proletário urbano. É o romance satélite do ciclo da cana-de-açúcar. Sob o ponto de vista cronológico, fica entre Banguê e Usina. É a história de um daqueles moleques de eito, aparecidos em Menino de Engenho, e que se destaca dos companheiros, abandona Santa Rosa e vai para a cidade com a intenção de mudar de vida.
O romance demonstra o temor dos regionalistas com as novas práticas e o estilo de vida trazido pelas espaços modernos. Assim, analisando a obra, podemos perceber como a construção histórica do nordestino também possui suas descaracterizações, presente nas cidades (modelos de decadência dos costumes "tradicionais"), com práticas consideras desvirilizantes.

EXILADOS EM FERNANDO DE NORONHA
(O moleque Ricardo - Trecho)
Eles iam para Fernando de Noronha. O governo caíra em cima dos centros operários com uma fúria de ciclone. Não ficou um que não fosse arrebentado e que os seus diretores não comessem virola e cadeia. O Dr. Pestana, metido em prisão por umas horas, teve a mulher para gritar por ele, habeas-corpus que o livrasse dos constrangimentos. Os chefes operários iriam para Fernando. Lá estavam os ladrões e criminosos curtindo penas. Para lá iriam os operários. Sebastião e o povo da padaria de seu Alexandre estavam na lista para seguirem. Diziam os jornais que Sebastião era um perigoso agitador e a padaria onde ele trabalhava um foco terrível. Fernando de Noronha com eles.
Seu Lucas andava triste. Foi ao desembargador que ele curara da mulher, mas o homem lhe desenganou. Ninguém fosse falar ao governo em favor de operário. O governador queria fazer uma limpeza na cidade, porque a canalha não deixava ninguém descansar com esta história de greve todos os dias. Ele estava perdendo o tempo. E a mulher de Jesuíno e os filhos nas grades do jardim do seu Lucas, chorando.
- Vai para casa, mulher! - dizia o pai-de-terreiro. Ele volta! Um dia ele volta!
E os filhos de Deodato e os de Simão pedindo notícias a seu Alexandre:
- Foram para os infernos! Perderam-se porque quiseram! Agora que agüentem!
Mas seu Alexandre se lastimava. Os homens sabiam trabalhar de verdade. Os outros que tinham vindo substituí-los não valiam nada. Onde encontrar um boca-de-fogo como Deodato, um pãozeiro como Ricardo, um masseiro como Simão? Seu Antônio foi ao patrão e disse mesmo:
- Precisas fazer voltar esses homens senão eu me retiro.
- Voltar como, homem de Deus? Já falei com o Dr. Demócrito. O governo faz questão de castigar, de dar um termo a esta greve.
Não havia mesmo jeito. Os homens iriam mesmo para Fernando. Seu Lucas, no jardim, andava triste, debruçava-se sobre as roseiras sem entusiasmo. Os negros iriam para Fernando. Jesuíno e Ricardo na ilha com os ladrões e criminosos. O jardineiro olhava o chão pensando nos homens. O que tinham feito eles demais? Jesuíno e Ricardo não mataram ninguém, não tiraram o alheio. Iam para Fernando. Seu Lucas viu o sol nas suas plantas sem saber o que o sol fazia. Botava água nos canteiros, sem saber o que a água fazia. Os amigos dele seriam mandados de navio para o mar, para o meio do mar, com ladrões e assassinos. E os outros? Simão e Deodato? Eram bons também, as mulheres também chorariam de fome. Por que não mandavam o Dr. Pestana? De cócoras, mexendo na terra molhada, o velho censurava as coisas, o velho sentia a miséria das coisas. Aquilo era uma ruindade sem tamanho.
Numa manhã, os homens saíram para Fernando. Ricardo, Deodato, Simão, Jesuíno para um canto do navio olhavam o Recife coberto ainda de sombras da madrugada. Viam vapores grandes no cais, catraieiros trabalhando àquela hora. Mas havia um silêncio grande, um silêncio medonho nos barcos dormindo e nas águas do rio. Eles olhavam para o lado do cais e viam as casas e a terra que iam deixar. Simão para um lado, triste, de cabeça baixa, Deodato dizendo:
- Se ao menos eu pudesse ver os meninos!
E o negro Jesuíno sentado em cima de umas cordas. Sebastião só fazia dizer:
- A gente volta. Um dia a gente volta.
Ricardo olhava para todos. Ele sentia uma vontade desesperada de vomitar, aquele cheiro aborrecido de bordo lhe embrulhava o estômago. Iam para Fernando. Conhecera no engenho um homem, um assassino que estivera em Fernando de Noronha. Chamava-se Noé e contava tanta coisa triste de lá. Fernando de Noronha, ninho de tudo que era homem sem remédio e sem jeito. Ele ia para lá e não sabia o mal que tivesse feito.
- Homem, dizia Jesuíno para Simão, o governo só faz isto porque não tem família.
- Eu até nem penso mais nos meninos, respondia Simão. Vai se perder tudo, Jesuíno. Vai se perder tudo.
Deodato era mais forte:
- Não faz mal, eles arranjam jeito de viver.
Sebastião, de pé:
- É isto mesmo. Se a gente esmorecer, sofre mais.
Ricardo se lembrava da mãe Avelina. Com que alegria ela recebera a carta dizendo que ele ia! Os negros todos da rua se assanharam na certa com a notícia. Ricardo ia chegar calçado de botina e de gravata no pescoço, como o José Ludovina no dia da eleição. Ricardo no Recife não tirava a botina dos pés, mas agora era isto que estava se vendo. Cercado de água por todos os lados, para o resto da vida. Morreriam por lá.
Agora o sol já cobria o cais, já os sobrados altos se mostravam para eles. E o navio ia sair com pouco mais, com as máquinas dando sinal. Eles viram então seu Lucas em pé no cais. O vapor já não estava atracado. Seu Lucas dava com as mãos para eles. O negro velho em pé, com o sol na cabeça branca, dando com os braços para eles. Ricardo olhava para o amigo.Sempre ele tinha o que lhe perguntar nas grades de seu jardim. O negro velho gostava dele. E o vapor ia saindo devagarinho. Simão botava as mãos na cabeça para chorar. Deodato firme e Jesuíno gritando:
- Lá está pai Lucas! Pai Lucas, toma conta dos menino!
Sebastião não dizia nada. O vapor ia virando para o outro lado e eles correram para dar com as mãos para o velho amigo. O negro velho em pé como uma estaca de cercado no cais de cimento.
Os negros bons iam para Fernando. O que tinham feito eles? dizia seu Lucas voltando para casa. O que tinham feito eles, os negros que não faziam mal a ninguém? Jesuíno era uma besta de bondade, Ricardo tão bom! Os outros deviam ser também. O que tinham feito eles para ir pra Fernando? Seu Lucas não sabia. Queriam de comer, queriam de vestir, queriam viver. E seu Lucas chegou no jardim com esta dor no coração. Vira os seus negros no vapor mandados para Fernando. Murchassem as roseiras, cortassem as formigas as folhinhas das plantas, secassem os canteiros. Os seus negrinhos iam pra Fernando. Que tinham feito eles para ir pra Fernando? Seu Lucas cuidava das plantas. Os trens passavam roncando pelas grades de seu jardim. Passavam vendedores cantando as suas vendagens. O homem da vassoura parou para falar:
- Soube, seu Lucas, o navio saiu hoje cheio de gente. Da minha rua foi um. Ninguém fez nada não. Foi por causa da greve.
Seu Lucas não disse nada e o homem se foi. O feiticeiro sentiu uma cousa de fora entrando dentro dele. Era bem diferente da entrada de Deus em seu corpo. Era uma coisa que nunca tinha sentido em sua vida. Tinha sofrido muito neste mundo de Deus. Prisões, cadeia, mas tudo ele agüentava com fé, agüentava sabendo que era bom para ele sofrer. Agora não. Uma coisa de fora mexia com o negro velho. O sol queimava as folhas de suas plantas, as roseiras abriam-se para o sol. Seu Lucas não via o jardim, a sua cássia-régia gloriosa, as dálias cheias de vida. Não olhava, não via. Os seus negrinhos iam para Fernando. Num mar navegando, num mar carregados para o cativeiro. Ficou pensando. Uma coisa esquisita entrava pelo seu corpo. Que fizeram os negros? Que fizeram Ricardo e Jesuíno? Mataram? Roubaram? O governo mandara os infelizes pra Fernando.
Seu Lucas ficou assim até de noite. Era noite de culto, noite de rezar para o seu Deus.
Os cantos das negras, os passos das negras, no Fundão, tiniam no terreiro com os instrumentos roncando. Naquela noite o negro velho vestia as suas vestes sagradas sem saber o que ia fazer. Todos já estavam prontos para os ofícios, para as rezas familiares. Seu Lucas de lado tirava as rezas. Era o cantar mais triste que um homem podia tirar de sua garganta. Os negros respondiam no mesmo tom. E foi crescendo a mágoa e foi subindo a queixa para o céu estrelado do Fundão. O sapatear dos negros estremecia o chão, os instrumentos acompanhavam as queixas, os lamentos. E com pouco seu Lucas começou a dizer o que não queria, o que sentia. As palavras do ritual não eram aquelas que lhe queriam sair da boca. Deus estava no céu. Ogum no céu com S. Sebastião. Ele queria cantar outra coisa que não aquilo que ele cantava todas as noites. E os negros na dança iam ouvindo o que pai Lucas dizia. O mestre falava dos negros que iam pra Fernando.
- Que fizeram eles? Que fizeram eles?
- Ninguém sabe não.
Que fizeram os negros que iam pra Fernando? A voz de Lucas vibrava. Todo o seu corpo se estremecia.
- Que fizeram eles que vão pra Fernando?
E os negros respondiam misturando a língua da reza deles com as perguntas do sacerdote, de braços estendidos para o céu.
- Que fizeram eles? Ninguém sabe não!
E o canto subia, subia com uma força desesperada. As negras sacudiam os braços para os lados como se sacudissem para fora do corpo. Os peitos, as carnes se movimentando numa impetuosidade alucinante. A terra do Fundão estremecia. Pés de doidos, de furiosos furavam a terra. E seu Lucas com a boca para cima misturando as mágoas com as suas rezas:
- Que fizeram ele que vão pra Fernando? Ninguém sabe não!
O sacerdote quebrando o ritual para deixar escapar a sua dor. Seu Lucas era mais um Deus naquela hora. Como um homem qualquer ele falava pelos pobres que no mar se perdiam. O canto dele varava a noite, varava o mundo:
- Que fizeram eles que vão pra Fernando? Ninguém sabe não!
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O Moço Loiro - Joaquim Manuel de Macedo

O moço loiro foi lançado em 1845, ano em que aceitaria o cargo de professor no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde passaria a ter contato direto com poetas como Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães, os quais o aproximariam de questões sociais que o fariam ingressar, posteriormente, na vida política.
O livro é um sensível retrato da sociedade burguesa da antiga capital federal, no século XIX, criticada discretamente pelo autor, que faz do romance um discurso sobre o amor idealizado e, portanto, livre do contato com a realidade, representado nas figuras de Honorina e do herói que dá nome ao livro. Daí segue toda a trama, que, mesmo sendo um retrato social, não se aprofunda em questões políticas ou psicológicas. Apesar dos conflitos existenciais, seus personagens são superficiais, pouco complexos, restringindo-se a pequenos dilemas éticos, com exceção talvez da viúva Lucrécia, metáfora da hipocrisia social de seu tempo. As reflexões encontradas na narrativa são ingênuas, expostas em linguagem simples e, por vezes, demasiadamente explicativas.
A sentimentalidade, típica dos escritores românticos de sua época, é bastante exacerbada, passando a ser força motora sobre a razão, fazendo com que os personagens se mostrem propensos a viver fora do tempo, sempre fugindo do real em devaneios intermináveis.
Assim, a intriga se desenrola em tom de encantamento, numa tênue linha entre realidade e puro delírio.
Sua leitura se faz valiosa até hoje, tanto por seu tema atemporal - o amor adolescente, as dúvidas e os conflitos interiores que simbolizam tanto esta fase da vida, o sonho do primeiro e verdadeiro amor - quanto pela revelação de alguns aspectos de um Rio antigo, com saraus, pequenas embarcações de transporte com remadores e mansões localizadas no bairro da Glória, frente ao mar.
Uma cruz de ouro , relíquia de família desde o século XIII, é roubada aos Mendonças, recaindo a culpa sobre um deles, o jovem Lauro, que abandona os seus e desaparece, amaldiçoado pela avó. Sua prima Honorina, anos depois, é cortejada misteriosamente, através de bilhetes, por um desconhecido - que assume os mais estranhos disfarces, intervém, nos mais vários acontecimentos, está em toda parte, sabe tudo, como convém aos heróis folhetinescos.
Ele é o Moço Loiro, que acaba por salvar o pai da moça da ruína (a que o ia levando o empregado infiel , o verdadeiro ladrão da jóia) , além de punir os maus, amparar os bons, etc.
No final, o óbvio fica evidente: ele é Lauro e casa com a priminha, deixando em conformada melancolia a maior amiga desta, Raquel, que, para variar, também o amava em segredo.
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O Mandarim - Eça de Queirós

Em 1880, apenas dois anos depois de O Primo Basílio, Eça vai dar a público O Mandarim - uma novela fantástica, em cujo enredo tem participação decisiva uma figura declaradamente romântica: o Diabo.
Numa carta ao editor da Revue Universelle, que serviu de prefácio à publicação francesa da novela, Eça se mostrava bem consciente da singularidade do livro face à tendência estética dominante: “tendes aqui, meu Senhor, uma obra bem modesta e que se afasta consideravelmente da corrente moderna da nossa literatura, que se tornou, nestes últimos anos, analista e experimental”. Isso porque O Mandarim era “um conto fantasista e fantástico, onde se vê ainda, como nos bons velhos tempos, aparecer o diabo, embora vestindo sobrecasaca, e onde há ainda fantasmas, embora com ótimas intenções psicológicas”. A percepção do escritor é claríssima: apesar da atualização do ambiente da trama, o enredo fabuloso, o gosto pronunciado do exotismo, a ausência de interesse nos vários condicionalismos que determinam a ação dos indivíduos e a intervenção do sobrenatural configuram um narrativo de molde romântico, ou neo-romântico.
Nessa mesma carta, prosseguia Eça de Queiroz com uma frase que vale a pena transcrever: “entretanto, justamente porque esta obra pertence ao sonho e não à realidade, porque ela é inventada e não fruto da observação, ela caracteriza fielmente, ao que me parece, a tendência mais natural, mais espontânea do espírito português.” Pode ser que a frase se aplique também ao espírito português, mas o que realmente importa é observar que se aplica perfeitamente ao espírito do próprio Eça, que, a partir de O Mandarim, vai abandonar progressivamente os caminhos do Naturalismo e retomar algumas características que já se encontravam nos seus primeiros textos: o gosto pelo exotismo das paisagens e civilizações e o pendor alegórico e moralizante. São essas características - centrais no texto de O Mandarim - que no final da vida de Eça de Queiroz irão dar origem às impressionantes vidas de santos e histórias de mistério.
Do ponto de vista da evolução literária de Eça de Queiroz, O Mandarim representa, portanto, um momento de virada: aquele em que o escritor abandona a “preocupação naturalista”, que, segundo o próprio Eça, embora tivesse servido para lhe disciplinar o espírito, também “o condenara a reprimir, muitas vezes sem vantagem, os seus ímpetos de verdadeiro romântico que no fundo era”.
Determinado seu lugar na produção queiroziana, observemos rapidamente essa obra singular. O Mandarim é antes um conto que uma novela, pois sua trama se concentra à volta de uma só personagem e a ação se reduz a um único acontecimento central, que implica todos os desenvolvimentos posteriores. O registro genérico é o da farsa moralizante, e o ponto de partida é um problema moral que era conhecido, no século passado, como o “paradoxo do mandarim”. Formulado em 1802 por Chateaubriand, consistia numa pergunta: se você pudesse, com um simples desejo, matar um homem na China e herdar sua fortuna na Europa, com a convicção sobrenatural que nunca ninguém descobriria, você formularia esse desejo? Vários autores glosaram esse tema ao longo do século passado, e o texto de Eça é talvez o seu último e mais literal desenvolvimento.
Do ponto de vista da crítica moral, lendo O Mandarim percebemos que há duas linhas independentes de desenvolvimento. A primeira é a mais simples. Mostrando-nos que todos o tratam de acordo com o dinheiro que possui, Teodoro nos vai apontar a hipocrisia que domina as relações pessoais e sociais. A segunda é a mais complexa, porque envolve a auto-representação do narrador. A idéia geral é a de que o crime não compensa, independentemente de qualquer outra consideração. Como ilustração desse princípio é que Teodoro narra aos seus leitores o seu caso exemplar: ao longo do tempo, após o crime que lhe propicia a riqueza, foi-se tornando infeliz, a tal ponto que o retorno à vida rotineira e medíocre de hóspede pobre da pensão de d. Augusta chega a parecer-lhe uma forma de conseguir alguma paz de espírito.
Do ponto de vista da estruturação da narrativa, há igualmente duas observações a fazer. No que diz respeito à história da obra queiroziana, talvez valha a pena lembrar que O Mandarim é a primeira obra relativamente extensa escrita em primeira pessoa. Essa observação pode reforçar o argumento, desenvolvido acima, de que o conto representa um momento de rejeição do modelo naturalista, que propunha a narrativa em terceira pessoa, mais adequada à análise objetiva. Já no que diz respeito à história do tratamento literário do paradoxo, a novidade do texto de Eça é a viagem à China. No seu texto, a China não é apenas o lugar abstrato, incógnito e remoto, onde vive um homem desconhecido cuja vida é destruída por um ocidental. Pelo contrário, ganha concretude e responde por cerca de metade do número de páginas da história. Da mesma forma que o Médio-Oriente em A Relíquia, a China é praticamente tudo em O Mandarim. Mas a diferença é que, enquanto em A Relíquia, Eça descreve um ambiente e civilização que observara pessoalmente, em O Mandarim nos apresenta um lugar construído a partir de relatos de terceiros, de leituras e, principalmente, pela livre imaginação. Daí, justamente, o interesse da viagem de Teodoro, que nos conduz a uma China colorida, bastante bizarra, em que encontramos uma espécie de súmula da visão européia do que fosse o Extremo-Oriente.
Para o leitor de hoje, como para o de ontem, sem dúvida a parte mais atraente de O Mandarim continua a ser a viagem chinesa. O resto do conto tem um sabor conhecido e um registro genérico em que o desfecho é bastante previsível. Assim, é mesmo a fantástica viagem ao Império do Meio o que constitui o núcleo do texto e o mantém vivo e interessante. É também a viagem que singulariza esse texto na literatura portuguesa do final do século, fazendo dele um delicioso capítulo na história do exotismo orientalista que percorreu toda a cultura européia da segunda metade do século passado.
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O Juiz de Paz da Roça - Martins Pena

O Juiz de Paz da Roça se passa, logicamente, na roça e tem apenas um ato. Conta sobre Aninha e José. Aninha e José amam-se e planejam casar em segredo, mas José é capturado para tornar-se soldado contra a Revolução Farroupilha. Após algumas deliberações sobre as disputas locais entre os lavradores, o juiz ordena Manuel João, pai de Aninha, a levar José a manter-lhe em casa por um dia e levá-lo quartel a seguir (ninguém sabe do amor do casal). No meio da noite o Aninha e José fogem e casam-se em segredo. Após descobrirem o fato consumado os pais perdoam a jovem e vão até o juiz esclarecer o caso. O rapaz fica assim desobrigado de servir e a peça acaba com todos comemorando.
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O Juca Mulato - Menotti Del Picchia

Provavelmente uma reação ao Jeca-Tatu de Monteiro Lobato, como aponta Paulo Rónai, é um poemeto sertanista de comunicabilidade fácil e vigorosa, o que justifica sua popularidade de permanência (?). Publicado em 1917, conheceu até hoje numerosas edições. O entrecho resume-se no seguinte: Juca Mulato era o caboclo feliz até o dia em que deitou o olhar na filha da patroa. Imerso agora num irreprimível sofrimento, procura num curandeiro o lenitivo. Em vão. Acreditando que só na fuga encontraria o esquecimento, abraça-se à terra em despedida , e ouve da alma das coisas uma imprecação contra seu gesto extremista. Apaziguado, recobra o alento e volta ao mundo a que realmente pertence. Aqui o final do poemeto: E mulato parou Do alto daquela serra, Cismando , o seu olhar era vago e tristonho: "Se minha alma surgiu para a glória do sonho, o meu braço nasceu para a faina da terra." Reviu o cafezal, as plantas alinhadas, Todo o heróico labor que se agita na empreita, Palpitou na esperança imensa das floradas, Pressentiu a fartura enorme da colheita... Consolou-se depois:" O Senhor jamais erra... Vai! Esquece a emoção que na alma tumultua, Juca Mulato! Volta outra vez para a terra, Procura o teu amor numa alma irmã da tua, Esquece calmo e forte. O destino que impera Um recíproco amor às almas todas deu. Em vez de desejar o olhar , que te espreita e te espera, Que há por certo um olhar que espera pelo teu... O "Juca Mulato"- "gênio triste da nossa raça", como foi apelidado na época , constituiu-se numa unanimidade nacional. Identíficava-se na obra "conformidade com o meio, perfeita radicação no solo pátrio", dentro do propósito de que "a arte brasileira, isto é , girar na ambiência física e moral da nossa terra e do nosso povo", conforme anotou Tristão de Ataíde, referindo-se ao poemeto. No seu discurso da 2ª noite da Semana de 1922, Menotti clamava por "uma arte genuinamente brasileira". E acrescentava: "Hoje que , em Rio Preto, o "cow-boy" nacional reproduz , no seu cavalo chita, e epopéia eqüestre dos Rolandos furibundos; que o industrial de visão aquilina amontoa milhões mais vistosos que os de Creso; que Edu Chaves reproduz com audácia paulista o sonho de Ícaro, porque não atualizarmos nossa arte", cantando essas Ilíadas brasileiras?"
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