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domingo, 24 de outubro de 2010
Um Crime Delicado - Sérgio Sant Anna
Postado por Marlon às 13:48
Romance metaliterário (o narrador fala
da obra) em linguagem fragmentária, através da qual o narrador, um
crítico de teatro, conta-nos seu envolvimento criminoso com Inês, uma
mulher manca e misteriosa. Consciente de que a verdade em si é uma
composição de signos (representações), se diverte com o leitor. Afinal,
onde a verdade do ocorrido estará? Nas ações do teatro que ele critica?
Nas pinceladas do pintor? Nas palavras do escritor? Como espelhos
estilhaçados que precisam se unir, ou como linguagens diferentes
costurando-se umas às outras, talvez encontremos a(s) resposta(s) para o
fato: um crime delicado! E foi através desses espelhos, que refletem
uns aos outros, que minha observação se deu, bastante discreta e
oblíqua. O que importa, então, é deixar correr solta a mente, e talvez a
esse fluxo é que se deva chamar verdadeiramente de vida. Pois mesmo
quando nos envolvemos em grandes aventuras, o que é vivê-las senão a
subjetividade de quem as vive? Sou crítico profissional de teatro. Mas a
profissão talvez explique muitas coisas em meu comportamento e na minha
forma de viver, em minha personalidade enfim, embora eu não saiba dizer
se foi esta personalidade que me conduziu naturalmente à crítica, ou se
foi o exercício desta que terminou por contaminar meu comportamento e
minha personalidade. Antônio Martins, ao tentar reconstituir
retrospectivamente sua história, representando-a em diferentes
linguagens, deixa em aberto várias possibilidades de interpretar o que
se passou. Teria ele sido vítima de uma armadilha elaborada pelo artista
plástico Vitório Brancatti, protetor e possível amante de Inês? Estaria
ele próprio falando a verdade sobre o seu relacionamento com a moça, ou
apenas criando o seu texto? O crítico agora é você, leitor! Resumo
Romance narrado em 1ª pessoa, em três partes, subdivididas em capítulos e
numa linguagem que acompanha o vaivém da memória do narrador, um
crítico profissional de teatro, que alguns consideravam excêntrico,
solitário: Antônio Martins. Inicia o texto falando que teria visto Inês
num café cujas paredes e colunas eram espelhadas. ...uma visão discreta e
oblíqua, mas que por vezes, podia jurar que o observado era ele. Inês,
uma mulher com rosto de traços finos e delicados, seios pouco salientes,
mulher magra, com o corpo bem- proporcionado, cabelos claros,
encaracolados - de olhar melancólico e solidão recatada - assim a teria
visto, após duas doses de conhaque - o que, segundo o narrador, eram
suficientes, pois se continuasse a beber... ...no dia seguinte poderia
descambar, acelerar de forma desritmada os fluxos de sua mente, passar
de uma exaltação quase feliz para um abatimento cheio de imagens e
pensamentos dolorosos - uma tendência que ele procurava controlar: o
alcoolismo. Antes de se retirar do café, ele observa que um homem de
meia-idade, com cabelos revoltos e grisalhos, inicia uma conversa
familiar com a moça, mas percebe que ele os observa, lançando-lhe um
olhar firme, mais curioso do que hostil. No capítulo seguinte, certa
tarde, Antônio atravessava o largo do Machado, no centro do Rio de
Janeiro, e fora acometido por uma premonição, a de que algum incidente
estava prestes a ocorrer. No metrô, ainda quando descia os degraus da
escada, ao virar-se instintivamente uma mulher cai sobre o seu corpo, e é
amparada em seus braços. A moça é manca, mas de uma beleza singular.
Antônio a reconhece como a moça que o impressionara no café. Segue-a até
a rua Paissandu, local de sua residência. Inês era seu nome, e ela
também o reconhece. Num espetáculo teatral, Antônio percebe que o que se
passara com Inês e ele no metrô o emocionara - e isso interferiria -
embora não devesse, em seu julgamento da peça que analisava. ...dois
jovens em crises existenciais que, segundo o crítico, uma simulação do
amor beirando a impotência e buscando ostentar-se na própria
teatralidade, numa pretensa metalinguagem que não passava de um álibi -
uma coisa tediosa e medíocre. Enfim o espetáculo. Folhas de outono
(folhas secas que caíam através de uma janela cênica) representavam o
aprisionamento da atriz. Podemos ler esse aprisionamento observado na peça
como signo- sinal da relação de também aprisionamento entre Inês e
Brancatt, ou seja, uma dica do narrador, que retira fragmentos da
linguagem do teatro que analisa para construir o seu texto e confundir
ou brincar com o leitor. Neste "texto" também há forte comparação da
atriz com Inês. ...a imagem de Inês que insistia em pairar, no decorrer
da peça, em meu palco interior? Relembrando: Antônio e Inês trocam
olhares no café; Inês cai em seus braços no metrô no dia seguinte;
Antônio a acompanha até a rua de seu apartamento; marcam um encontro num
bar- restaurante no Leblon, onde Inês já o estaria esperando. ...ele
que chega 10 minutos antes da hora marcada, depois de haver tomado um
uísque em casa, de puro nervosismo. Inês ri ao saber que Antônio era
crítico de teatro e, entre goles de uísque, Antônio tem a impressão
desconfortável de que ela apenas se deixara tomar pela mão sem nenhum
tipo de retorno; mas o induziria a ir a seu apartamento, e que no dia
seguinte entre imagens superpostas, lembranças e projeções vagas que lhe
vinham em forma de lampejos, ele descreve-nos o local: uma muleta e uma
tela sobre o cavalete, sons de um trompete, cheiro de tinta e perfume
no ar além de um biombo negro com ramagens prateadas. Embriagado,
envolto nos sentimentos que o levavam a desvendar Inês, acreditou na
força do destino, mas já em casa questionava: seria ela uma pintora? E o
biombo escondia uma Inês com problemas físicos? Seria o local para
despir-se fora das vistas mesmo de um amante? Ou preparado por Inês para
enciumá-lo? Inês teria neste encontro no Leblon pedido a Antônio que
fosse comprar analgésicos e tranqüilizantes enquanto esta daria um
telefonema. Antônio sequer a viu andando. Sua perna manca teria sido um
artifício para eles se aproximarem? No apartamento, Inês se coloca
inerte no divã. Teria misturado o tranquilizante álcool? Sente por ela
um arrebatamento de uma força delicada. Antônio a conduz para a cama,
despindo-a. Inês abre os olhos, arregalando-os em pânico. Antônio tem a
reação de exibir a transparência de suas intenções, mas ao acender a
luz, Inês tinha os olhos fechados. Parecia dormir, ou fingia que dormia?
Exibir transparência ou como narra Antônio: ...tentava fugir para não
ser surpreendido numa situação dúbia? O resto? Ele apenas se erguera e
voltara para casa, acordando em sua cama. Antônio teme um reencontro com
Inês, preocupa-se com a seqüência dos fatos produzidos por uma memória
prejudicada, deixando vazios que possivelmente encobririam algum ato que
sua mente não ousava trazer à tona. Antônio a teria despido? E o cheiro
de tinta que ainda ficava em sua memória olfática, saíra do biombo? O
que Inês pensaria de seu delicado gesto? Despi-la para a cama? Como ela
os interpretaria? E o quadro, e o cavalete atrás do biombo? Relembra o
encontro no metrô, teme reencontrá-la e se isso ocorresse, como
despistá-la da coincidência sem que ela tecesse suspeitas? Em casa
constata um pequeno ferimento no joelho; desiste de um contato com Inês,
vai ao teatro. Antônio recebe um envelope de Inês Brancatti, levado por
um homem de moto e uma moça. Enciumado por imaginar Inês com o
motoqueiro , rasga o envelope com raiva e junto a um convite há uma
cartinha em papel perfumado e cor-de-rosa, com o endereço e telefone.
Trata-se de uma mostra coletiva de pintura com o título de Os
Divergentes. Os Divergentes expunham no Centro de Expressão Vida, na rua
Viúva Lacerda, no Humaitá. Ao sondar a exposição, crítico que era, não
encontra nela valores contemporâneos mas: ...fruto de pincéis de pessoas
medianas, talvez normais, com suas figuras, paisagens, naturezas
mortas. Antônio encontra Inês próxima a um quadro que revelava o
apartamento onde estiveram. Imagens refletidas reproduziam, em detalhes,
o cenário em que se encontraram, e Inês ali o concretizava. Ele percebe
que ela não os poderia ter pintado (um auto-retrato fazendo uso de um
espelho). Fora usada como modelo do pintor Vitorio Brancatti - o homem
que a acompanhava no café quando se viram pela primeira vez. Antônio é
fotografado em frente ao quadro, e a sensação que tem é que caíra numa
armadilha. Na tentativa de encontrar uma confidente entre as muitas
amigas que tinha, tenta ligar para Maria Luísa, uma professora
universitária, bonita, madura um tanto séria, mas relaciona o telefone a
outra Maria Luísa, essa uma atriz de teatro e TV. Luísa atuava em uma
adaptação de Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues - era Lúcia, uma das
irmãs que disputavam o mesmo homem: Pedro. Na saída da peça, esperando-a
trocar de roupa, Antônio bebe um conhaque para relaxar. Vai ao café com
Luísa, e lá não vê Inês. Entre Antônio e Luísa o encontro é um
fracasso. Ambos cumpriam um ritual de interesse e sedução. Da parte
dele, um equívoco. Antônio procura Maria Clara, uma amiga quarentona e
solitária, que o aconselha a transar com Inês, nem que fosse apenas para
libertar-se dela. Antônio vai a peça Albertine - uma adaptação livre de
temas proustianos , de autoria da paulista Beatriz Sampaio. Nessa peça
há algo de traiçoeiro para o leitor: o narrador por meio de códigos,
oferece-nos pistas sobre seu envolvimento com Inês. A peça é em pré-
texto. Proust sempre numa cama adornada de rendas, enquanto vários de
seus personagens - numa movimentação por vezes lenteada, pairavam
surgindo e desaparecendo ao redor do leito - numa cenografia móvel,
constituída, entre outras coisas, de obras de arte ou pretensamente
(como já vulgarizadas reproduções de Monet, Renoir.), além de texto do
mestre Proust que podia ser ouvido, ora em off, ora através de
personagens. Lembre-se, leitor, do biombo, do perfume, da muleta, da
música, enfim... sinais que nos remetem ao apartamento de Inês. Dois
dias depois do espetáculo Albertine, Antônio encontra um recado de Inês
em sua secretária eletrônica: precisava falar com ele. Ele aceita um
convite de Inês para um chá naquela tarde em seu apartamento, e mais
confiante não pretendia baixar a guarda emocional e a crítica. Exporia
isso ao revelar suas impressões quanto ao quadro de Vitório Brancatti.
Veja: modelo em plano desproporcional em relação aos demais elementos da
composição; · Perspectiva chapada, aproximando e realçando os elementos
de fundo - a tela no cavalete, a muleta e o divã - sem ofuscar o
principal; · Desvio estético - Inês devassada em sua intimidade; · O
biombo tornava a cena mais poética - cingindo de uma auréola de
inocência a modelo, que, atrás daquele compartimento, não estaria
supostamente se percebendo observada, e que não teria como se achar
presente naquele espaço; · Gosto duvidoso ao macular pela exibição,
sobre a borda do biombo, a calcinha branca e o sutiã vermelho, cuja
textura em tintas materializava como algo tátil sobre a tela. Tudo isso,
pensa Antônio, quase alegre, confiante por ter cercado criticamente a
obra de Vitório por todos os ângulos enquanto se aproxima do edifício de
Inês. Inês o introduz ao apartamento elegantemente e Antônio ao atingir
a sala é assaltado pela sensação... ...vizinha da loucura - de que não
penetrava num cômodo real e sim num espaço preparado, onde havia algo de
falso, como um cenário, ou mais abissalmente, o interior de um quadro
de Vitório Brancatti. Inês agradece, referindo-se à noite em que ela
havia sido levada para a cama e que não desgostara do fato. Estaria
querendo reviver o que se passou? Ou estaria usando Antônio que teve uma
brilhante intuição. ...se Vitório dispunha de Inês, que tentava dispor
de mim, Vitório estaria dispondo de mim, caso eu me deixasse levar; e
alguém (Vitório?) poderia estar se ocultando atrás do biombo para nos
espionar... Durante o chá, Antônio questiona e analisa Inês, que aos
poucos, cai em contradição - E o apartamento, é de Vitório? Inês
ergue-se subitamente, derrubando a xícara, com um resto de chá, sobre a
mesa. Eu só a vira assim tão transtornada depois da queda na estação do
metrô. - Ele o alugou para mim. Eu sou sua modelo. O que está querendo
ensinuar? Depositei minha xícara na mesa. - Desculpe-me, não quis ser
indelicado. Mas ele também o reformou para você, não foi? - Sim,
reformou a seu gosto e daí? Vitório é um artista. - Será possível que
você não se dá conta? - Dou-me conta de quê? - ela disse, com a voz
embargada. - De que o apartamento é um cenário para você se movimentar
dentro dele segundo um esquema de probabilidades previsto por Vitório de
acordo com seus caprichos? E de que a obra que vi na exposição não
passa de uma documentação disso? A obra de Vitório, de certa forma é
você mesma, Inês, e ele precisa mantê-la encerrada aqui. É diabólico e
aviltante. Mas posso dizer que ele está de parabéns. Antes de, pelo
menos aparentemente Inês perder os sentidos, julguei ouvi-la sussurrar,
quase coincidindo com o fim da música: - Ele me escraviza. Tomado por
uma delicadeza e impetuosidade indescritiva, Antônio toma Inês nos
braços - como que se a personagem-modelo e personagem da pintura que
Antônio via na exposição houvesse se soltado da obra , naquele cenário
com seus móveis e adereços, fazendo deles imagens de um quadro em
movimento; uma cena para qual Antônio fora tragado. Amam-se sem
resistência, mesmo que nos últimos momentos Inês tenha murmurado
repentinamente "oh não", "oh não", que Antônio interpreta como um sim de
entrega dentro de um código amoroso. Na consciência de estar agindo
como autor e ator de uma cena de uma instalação de Vitório, Antônio
volta a si e percebe Inês chorando, denunciando a chegada,
provavelmente, de Brancatti, Nilton, o motoqueiro e Lenita - o que faz
Antônio, às pressas, deixar o apartamento. Ao passar pela portaria,
Antônio está com uma aparência suspeita – roupas e cabelos desgrenhados,
o colete vestido pelo avesso - e enfrenta o olhar do porteiro, que o
faz sentir-se como alguém que foge depois de ter cometido alguma ação
criminosa. No entanto, Antônio está comendo um biscoitinho! Raivoso com o
ato de Inês e já em seu apartamento, percebe no canto dos lábios um
resquício ínfimo de sangue, sente-se dominado por Inês, e num impulso,
escreve-lhe uma carta que mais tarde seria publicada nos jornais, dando
margem a chacotas no meio teatral. Veja leitor como um ato aparentemente
viril segundo Antônio como uma dose de agressividade e até de maneira
brutal) isso serve aos envolvidos à Inês como para Brancatti
principalmente como fato para uma acusação judicial contra Antônio:
estupro. É intimado portanto a comparecer à 9º DP, no catete, para
justificar seu envolvimento com Maria Inês de Jesus. Fim do 2º Capítulo
Antônio é submetido a exames legais: mostras seminais, resquícios de
pele colhidos nas unhas de Inês, arranhões, enfim marcas que
corroboravam terem sido produzidos por Inês. Antônio rejeita a hipótese
de ter coagido ou muito menos violentado Inês, mas sim ter havido
entrega sem reservas por parte de Inês, que aliás não trazia em seu
corpo marcas à exceção de um corte na orelha – aliás fato importante
pois na falta de provas Antônio tem chances de responder em liberdade à
acusação: " – Não estariam eles na presença de um criminoso delicado,
refinado"? Antônio duvida de si mesmo, "teria usado Inês, uma prostituta
evitando assim, ser usado por ela e o amante Brancatti?" Na sala de
audiência o olhar de ambos se encontram como da primeira vez no café."
Antônio percebe não ter realmente conhecido Inês, o que ela pensava de
tudo aquilo e dele? Uma nova realidade abre-se a percepção de Antônio:
Brancatti usava Inês e Lenita como fachadas para esconder seu
relacionamento com Nílton – Veja sua crítica: "um pintor europeu do
terceiro escalão que se refugia artisticamente num país provinciano e
toma como esposa e ornamento uma beleza exótica dos trópicos; como
amante elege um motociclista primitivo e, como modelo ou enteada e até
quem sabe eventual amante uma frágil e bela jovem coxa." E para ele,
qual teria sido seu papel nessa teia diabólica? Para Antônio parecia uma
luta estética: um jogo de xadrez entre o crítico e o pintor. "Este
escravizando a modelo num cárcere privado, físico, psicológico e
artístico, e pior condenando Antônio por um pretenso crime sexual se
auto prevalecia, enfim ......empenhava-se em convencer as pessoas do
alto valor artístico de sua obra – propaganda em suma – o crítico
teatral manipulado num cenário em plena performance entre o casal!" Fora
bem sucedido em grande parte em seus objetivos escusos, conclui
Antônio. Durante o inquérito será acusado também de ter saído do
apartamento praguejando contra Inês – enraivecido, mordendo um
biscoitinho – argumento rejeitado por seu advogado como sinal da calma,
da paz de espírito dos que nada têm a temer, depois de um encontro
amoroso consentido. Nessa fase processual Antônio vem a saber que os
desmaios de Inês tinham uma causa cerebral definida – que sua lesão na
perna, se originava de um atropelamento na infância; fato esse que
legitima a idéia dela ter desmaiado ao ser possuída e a coloca como
vítima de Antônio, que por sua vez percebe a força de sedução de tal
desmaio, o que valorizou ainda mais a relação de ambos. Tentando
reverter seu papel, Antônio contra-argumenta: " _ Não serão o verdadeiro
amor e a sexualidade mais autêntica, sempre, o encontro de dois
incoscientes? No que o advogado de acusação responde: - "No caso das
violações, não estaremos diante da imposição do inconsciente de um sobre
o incosciente de outro? Antônio tenta um novo argumento dizendo que
Inês foi subjugada pela força psíquica de Brancatti e que ele a teria
libertado em momentos preciosos, possuindo e sendo correspondido por ela
– e tudo ocorrendo dentro de um cenário – instalação, portanto fazendo
parte da mesma, ou seja, tudo fora maquinalmente enquadrado por
Brancatti, e Antônio e Inês vítimas. Segundo o juiz, aturdido em face
dos argumentos inusitados – e até esdrúxulos utilizados por ambas
partes, absolve Antônio por falta de provas. As conseqüências do fato:
Antônio perde seu lugar de consultor na fundação cultural do estado, já
afastado do jornal que trabalhava, ruas a índole sensacionalista fez com
que o jornal concorrente o contratasse para ser seu colunista de teatro
e o caso Inês esmiuçado em seus páginas – Antônio foi criticado
severamente por seus colegas como: " exemplo vivo e eloqüente dos
extremos patológicos a que pode ser conduzida uma personalidade que se
destaca pela contenção de seus sentimentos por meio de uma racionalidade
exacerbada, a qual de repente, libera-se através do crime. Brancatti
conquista renome e reconhecimento artístico – a obra A Modelo foi
exibida como instalação com grande alarido crítico, na Alemanha. Quanto à
Nilton abre uma academia de psicultura, bastante concorrida. Antônio
não deixou de considerar o jato ou seja as duas hipóteses sedutoras –
afinal como o próprio tribunal apontou – um sedutor ou violador muito
especial e delicado? Claro sem deixar de lado o escutor que também era -
"nessa tarefa que é narrar todas as contradições, truques e
divergências e conclui. " – tanto na obra de Brancatti ou neste relato –
encontra-se o absurdo, a loucura da arte, essa tentativa ansiosa,
desesperada e as vezes vã, que nos alucina, de, à parte toda vaidade,
registramos, no breve tempo em que estamos na vida, nossa passagem por
ela, em momentos que realmente estivemos vivos e merecem ser
perpetuados. Personagens - Antônio Martins: crítico profissional de
teatro, narrador. Alguns o consideram excêntrico – solitário –
cinquentão. - Maria Inês de Jesus, modelo do pintor Vitório Brancatti,
mulher com rosto de traços finos e delicados, magra, cabelos claros,
encaracolados, de olhar melancólico e solidão recatada com pequeno
defeito na perna – manca. - Vitório Brancatti – pintor que envolveria
Antônio e Inês em suas performances, meia idade, com cabelos revoltos e
grisalhos, vestia-se com a desenvoltura de um jovem, calça jeans e
camiseta branca. - Nílton – motociclista que conduzira Inês ao edifício
de Antônio Martins, provável amante de Vitório Brancatti. - Lenita –
jovem negra, bonita, esposa – álibi de Vitório? - Maria Luísa I –
professora universitária séria, amiga e confidente de Antônio. - Maria
Luísa II – jovem atriz de teatro e tv, atlética e exuberante. - Maria
Clara – ex jornalista, quarentona, também amiga de Antônio. Enredo:
Romance narrado em terceira pessoa. A ação desenvolve-se em Belo
Horizonte e no Rio de Janeiro, trazendo à tona os conflitos de uma
geração em busca da própria identidade e de um sentido para a vida.
Eduardo, protagonista deste drama existencial, sentindo-se esmagado por
uma sociedade opressiva e aniqualadora, tenta desesperadamente, até o
fim, encontrar uma saída. Preste atenção: no misterioso homem de smoking
que por três vezes aparece na narrativa. Estilo: Contemporâneo.