Sem ser um romântico, há tonalidades do Romantismo em seus
versos. Nunca pelo estilo e preceitos da Escola, já então superada, mas
por um sentimentalismo que neles se esconde. Este, entretanto, é uma
constante da alma e de quase toda a poesia portuguesa. Numa de suas
composições mais louvadas – O Sentimento dum Ocidental – está o retrato
de Cesário Verde, e é como que uma súmula da substância poética de sua
obra, somente transfigurada transitoriamente no bucolismo da última
fase, o que lhe arrefeceu o tédio, amenizou-lhe o estro, sem, todavia,
anular as qualidades que fizeram dele um renovador da poesia portuguesa
do século XIX. Na verdade, situa-se no Realismo e antecipa mesmo de
muitos anos e em muitos aspectos Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, pela
temática da inspiração e dos processos poéticos. É, por isso, o
precursor do Modernismo em Portugal.
Resumos / Material
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quarta-feira, 26 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
O Sentimento do Mundo - Carlos Drummond de Andrade
Postado por Marlon às 14:49
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Os poemas de
Sentimento do mundo foram produzidos entre 1935 e 1940. São 28 no total.
Poema: Sentimento do mundo O primeiro poema (que deu nome ao livro)
revela a visão-de-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da
realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a
realidade geralmente é dura e muito desafiante. O poeta inicia (estrofe
1) indicando suas limitações para ver o mundo: "Tenho apenas duas mãos";
mas aponta, em seguida, alguns elementos auxiliares que o ajudarão a
suprir suas deficiências de visão: escravos, lembranças e o mistério do
amor (versos 3 a 5); escravos podem ser os meios escusos de que nos
utilizamos para tocar a vida e decifrá-la e dela nos aproveitarmos. O
pessimismo denuncia-se com as mortes do céu e do próprio poeta, na
estrofe 2. Apesar da ajuda incompleta dos companheiros de vida
("Camaradas"), o poeta não consegue decifrar os códigos existenciais e
pede, humilde, desculpas. Nas duas últimas estrofes, Drummond pinta uma
visão de futuro bem negativo, mas bem real: mortos, lembranças, tipos de
pessoas que sumiram nas batalhas da vida ("guerra", na estrofe 3).
Conclui, na estrofe 5, que o futuro ("amanhecer") é bem negro,
tenebroso. Feita só de dois versos, sintetiza seu sentimento do mundo.
Os demais 27 poemas são nuances, explicações dessa amarga visão inicial
da vida. Poema: Confidência do Itabirano O poema começa com a saudade
profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas
sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por
causa de Itabira; mas, paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de
Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De
Itabira vem a explicação de Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe
3), verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma
incomensurável saudade de sua cidade natal. Poema: O operário do mar O
texto número 6 faz o autor escapar da linguagem poética material
(versos) e se apropriar dessa linguagem poética sem versos, mas bastante
poesia imaterial, em belo painel-definição explicita a grande diferença
social entre operários e não-operários. Esta belíssima crônica poética,
de base surrealista – tão em voga nos anos trinta, quarenta – serve bem
para duas constatações: 1ª) o sentimento socialista de Drummond que
iria espraiar-se cinco anos após Sentimento do mundo, na publicação de
Rosa do povo, em 1945; 2ª) a visão-de-mundo onírica e bem poética de um
operário universalizado em São Pedro; ele anda sobre águas por graça de
Deus, enquanto burgueses se espantam por não poderem realizar a mágica;
isto é, aos humildes: a magia divina, aos prepotentes: a inveja. Esta
crônica poética também pode permitir que se compare a "apreensão do
mistério da palavra" nos poemas explícitos de Drummond diante desta
prosa poética; por exemplo: "minhas lembranças escorrem" (Sentimento do
mundo, estrofe 1, verso 4) e "feixes escorrem" (das mãos do operário, em
O operário no mar, linha 26). O mistério poético de lembranças escorrem
é bem mais profundo do que peixes escorrerem imaginariamente das mãos
do operário. Poema: Privilégio do mar No poema 12, o autor continua
detendo-se alegoricamente no problema social das diferenças humanas.
Poema: Inocentes do Lelbon Ainda no enfoque da visão social, o poeta
fala da riqueza: "inocentes" significa os que querem ignorar; por isto
fingem e se aproveitam. Poema: La possession du monde Neste poema 17,
Drummond indica o membro da Academia Francesa de Letras, em 1884,
Georges Duhamel, pedindo uma risível fruta estragada; como se isso
fosse, como diz o título do poema, ter o mundo nas mãos. Poema: Ode no
cinqüentenário do poeta brasileiro O belo elogio do poema 18 é a palavra
drummondiana a Manuel Bandeira, nascido em 1886 e que, em 1936,
completava 50 anos de vida. Drummond pede que "seu canto confidencial (a
poesia de Bandeira) ressoe acima dos vãos disfarces do homem"! E para
concluir esta fugaz visão do livro Sentimento do mundo, fiquemos com as
palavras do último poema, Noturno à janela do apartamento: " A vida na
escuridão absoluta, como líquido, circunda."
O Senhor Embaixador - Érico Verissimo
Postado por Marlon às 14:48
O Senhor
Embaixador, cuja ação se desenvolve paralelamente na capital americana e
na pequena republiqueta de Sacramento, dominada por uma ditadura
corrupta e sanguinária, revela a figura de Gabriel Eliodoro. Caudilho,
compadre do tirano, nomeado embaixador em Washington, mostra a
ambigüidade clássica dos caudilhos - indefinição ideológica e carisma
pessoal. Diante dele, o secretário da embaixada, um intelectual de
origem burguesa, Pablo Ortega, é obrigado a definir-se. O letrado, no
final do texto, torna-se homem de ação, participando do movimento
revolucionário que derruba o ditador.
O Seminarista - Bernardo Guimarães
Postado por Marlon às 14:47
No interior de Minas Gerais, Eugênio, filho de
fazendeiros, passa a infância ao lado de Margarida, filha de uma simples
agregada da fazenda. Dessa convivência nasce o amor. Para evitar que o
caso de amor progrida, os pais de Eugênio o internam em um seminário,
obrigando-o a seguir a carreira eclesiática. O tempo passa mas Eugênio
não esquece Margarida. Com a ajuda dos padres, seus pais inventam a
notícia do casamento da moça, o que desilude Eugênio e o faz decidir-se
pela vida de padre.Certo dia,porém, ao voltar para a vila natal, ele é
chamado a socorrer uma moça doente. Era Margarida. Ela lhe conta toda a
verdade: tinha sido expulsa da fazenda, com a sua mãe, já morta, passava
necessidades e não tinha casado com ninguém, pois ainda o amava. A
paixão renasce com aquela visita e no dia seguinte os dois entregam-se
ao amor.Atormentado pelo remorso, Eugênio se prepara para rezar sua
primeira missa quando alguém o chama para encomendar um cadáver que
acabou de chegar à igreja. Era o corpo de Margarida. Eugênio não resiste
ao choque e na hora da missa enlouquece.
O Risco do Bordado - Autran Dourado
Postado por Marlon às 14:46
Obra-prima
da carpintaria literária, O risco do bordado vem percorrendo desde seu
lançamento, em 1970, o caminho típico de um clássico contemporâneo,
alcançando um notável sucesso de público e crítica, suscitando inúmeras
teses universitárias e sendo adotado como leitura curricular. O próprio
Autran Dourado considera-o o eixo central de sua obra pela forma com que
conjuga sua obsessiva construção de uma mítica mineira. "Escrevo para
compreender Minas", declarou ele. Ambientado na mítica Duas Pontes,
cidade que retornaria em outros livros como uma síntese do universo
interiorano de seus personagens, O risco do bordado é uma viagem ao
passado do escritor João da Fonseca Ribeiro, que volta ao cenário de sua
infância. Ao encontrar antigos moradores da cidade, parentes e
companheiros de infância, ele vai montando uma espécie de quebra-cabeças
entre o vivido e o imaginado, completando e expandindo fragmentos de
memória que são sua narrativa de infância e adolescência. Como num
típico romance de formação, em que o principal interesse está no
crescimento e desenvolvimento do protagonista, o leitor vai sabendo, aos
poucos, como João se tornou o que é, sua dura trajetória na descoberta
da sexualidade, da amizade, da traição e, também, da literatura.
Prostitutas, jagunços, antepassados mortos, parentes velhos, figuras
características de Duas Pontes cruzam o caminho de João, que desta forma
vai enxergando, retrospectivamente, o risco sob o bordado que, afinal, é
a sua própria história de vida. Autran Dourado dá à sua narrativa o
ritmo descontínuo da memória. Trabalhando idas e vindas e histórias
fragmentadas que, num primeiro momento, podem se assemelhar a contos
sutilmente interligados. Arquitetado paciente e minuciosamente a partir
de gráficos e esquemas, O risco do bordado tem um similar na obra do
autor: Uma poética do romance. Neste ensaio, que também será reeditado
pela Rocco, ele explica cada detalhe da construção do romance, publica
os desenhos e plantas-baixas que auxiliaram sua construção e reflete
sobre seu processo de criação como um todo.
O Rio - João Cabral de Melo Neto
Postado por Marlon às 14:43O Rio é um poema que apresenta preocupações sociais e até ecológicas. Descrevendo a viagem do rio Capiberibe do interior de Pernambuco até o mar, como que narrado pelo próprio rio, vai se mostrando o abandono das cidades no sertão, os retirantes, a pobreza, o empobrecimento, o desvio de rios para usinas, a desativação de engenhos e a poluição. Assim o Capiberibe passa e acaba por desaguar no mar, seu chamado original, logo após passar por Recife.
sábado, 22 de maio de 2010
O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
Postado por Marlon às 10:28
Dorian Gray era
um jovem de 20 anos pertencente à alta burguesia inglesa, de uma beleza
física inimaginável, e foi retratado pelo pintor Basil Hallward, que se
apaixonou pelo rapaz. Lorde Wotton era um homem extremamente
inteligente, perspicaz, irônico e com grande vivência nos
relacionamentos humanos, capaz de exercer forte influência sobre as
demais pessoas.
Este era amigo de Basil e tornou-se muito próximo de Dorian,
passando a instigá-lo e a "estudá-lo" em suas reações e atitudes. Quando
Dorian Gray deparou-se com a obra pronta (seu retrato) disse: "– Que
tristeza! – murmurou Dorian. – Que tristeza! – repetiu, com os olhos
cravados na sua efígie. – Eu irei ficando velho, feio horrível. Mas este
retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso
do que neste dia de junho... se fosse o contrário! Se eu pudesse ser
sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu
daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar a
troca. Daria até a alma!". A partir daí, temos o desenrolar da história.
Dorian apaixona-se por uma jovem artista, Sibyl Vane, que se
apresentava num pequeno teatro. Então lhe fala em casamento. A moça,
muito humilde, fica lisonjeada. Sua mãe e irmão, que estaria ingressando
na Marinha, ficam preocupados. Dorian convida seus dois amigos, Basil e
Lorde Wotton, para assistir a uma das apresentações da moça. Nessa
noite, a moça representa muito mal. Dorian fica consternado. Seus amigos
vão embora dando-lhe palavras de estímulo, enaltecendo a beleza da
moça. Dorian vai até o camarim. Sibyl está feliz, e diz-lhe que, de
agora em diante só viverá para o amor de Dorian.
Toda a energia vital de Sibyl estava dirigida ao representar;
assim que se apaixonou, sua energia foi dirigida para o objeto amado e
apresentou-se como uma artista medíocre. Isto levou Dorian a
desapaixonar-se. Então, ele a humilhou e desprezou. Virou lhe as costas
para nunca mais voltar. Ao chegar a casa, Dorian, dirigiu-se a seu
quarto e, ao olhar seu retrato, quase ensandeceu, ao perceber que o
quadro havia se alterado. Seu sorriso não era mais o mesmo.
Caracteriza-se pelo cinismo e maldade. Refletiu e percebeu que o quadro
refletia sua alma. Portanto, deveria desculpar-se com Sibyl, assim o
quadro voltaria ao normal. Entretanto, era tarde demais, Sibyl havia
cometido suicídio.
A partir de então, Dorian passou a viver tudo que lhe era ou
não permitido. Passou a ter uma conduta fria e interesseira com todos à
sua volta. Induziu pessoas a atos vulgares e criminosos, sempre impune.
Assassinou seu amigo Basil, à facadas, quando este descobre o que está
acontecendo. Leva outro amigo, um químico, ao suicídio após induzi-lo a
desfazer-se do cadáver de Basil. Apenas o quadro se alterava,
transformando-se numa figura monstruosa sendo que das mãos da imagem
gotejava sangue.
Dorian já contava com 40 anos, quando pensou em curar sua alma.
Pensou em levar uma vida pura, sem magoar quem quer que fosse. E por
isso não se aproveitou de uma camponesa. Ele se dá conta de que sua
soberba o levou a esta vida de pecados. Amaldiçoou sua beleza e mocidade
e pensou que sem elas sua vida seria pura. O que mais lhe doía era a
morte, em vida, da sua alma. Dorian havia escondido o quadro num quarto
desocupado, que fora de seu avô.
Sobe até o quarto, olha o quadro e grita de terror. Apesar de
suas "boas ações", o quadro não se alterara para melhor como supunha,
continuava a gotejar sangue ainda mais vivo e estava mais horrendo.
Então Dorian percebe claramente a verdade: por vaidade, ele poupara a
camponesa e a hipocrisia pusera-lhe no rosto a máscara da bondade. A
única prova de seu mau caráter, de sua consciência, era o quadro. Então,
resolveu destruí-lo. E, com a mesma faca com que matou Basil,
trespassou o retrato. Ouviu-se um grito. Os criados acudiram. E, quando
conseguiram adentrar ao quarto, viram na parede o magnífico retrato, e,
no chão, jazia o corpo de Dorian, com a faca cravada no peito, que só
pôde ser reconhecido pelos anéis em seus dedos.
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