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quarta-feira, 4 de agosto de 2010
São Bernardo - Graciliano Ramos
Postado por Marlon às 12:02
Este é, sem
dúvida, um dos romances mais densos da literatura brasileira. Uma das
obras-primas de Graciliano , é narrado em primeira pessoa por Paulo
Honório , que se propõem a contar sua dura vida em retrospectiva, de
guia de cego a proprietário da Fazenda São Bernardo. Ele sente uma
estranha necessidade de escrever, numa tentativa de compreender, pelas
palavras, não só os fatos de sua vida como também a esposa, suas
atitudes e seu modo de ver o mundo. A linguagem é seca e reduzida ao
essencial. Paulo Honório narra a difícil infância, da qual pouco se
lembra excetuando o cego de que foi guia e a preta velha que o acolheu.
Chegou a ser preso por esfaquear João Fagundes por causa de uma antiga
amante. Possuidor de fino tato para negócios, viveu de pequenos biscates
pelo sertão até se aproveitar das fraquezas de Luís Padilha - jogador
compulsivo. Comprou-lhe a fazenda São Bernardo onde trabalhara anos
antes. Astucioso, desonesto, não hesitando em amedrontar ou corromper
para conseguir o que deseja, vê tudo e todos como objetos, cujo único
valor é o lucro que deles possa obter. Trava um embate com o vizinho
Mendonça, antigo inimigo dos Padilhas , por demarcação de terra.
Mendonça estava avançando suas terras em cima de São Bernardo. Logo
depois, Mendonça é morto enquanto Honório está na cidade conversando com
Padre Silveira sobre a construção de uma capela na sua fazenda. São
Bernardo vive um período de progresso. Diversificam-se as criações,
invade terras vizinhas, constrói açude e a capela. Ergue uma escola em
vista de obter favores do Governador. Chama Padilha para ser professor.
Estando a fazendo prosperando, Paulo Honório procura uma esposa a fim de
garantir um herdeiro. Procura uma mulher da mesma forma que trata as
outras pessoas: como objetos. Idealiza uma mulher morena, perto dos
trinta anos, e a mais perto da sua vontade é Marcela, filha do juiz. Não
obstante conhece uma moça loura, da qual já haviam falado dela. Decide
por escolher essa. A moça é Madalena, professora da escola normal. Paulo
Honório mostra as vantagens do negócio, o casamento, e ela aceita. Não
muito tempo depois de casado, começam os desentendimentos. Paulo
Honório, no início, acredita que ela com o tempo se acostumaria a sua
vida. Madalena, mulher humanitária e de opinião própria, não concorda
com o modo como o marido trata os empregados, explorando-os. Ela
torna-se a única pessoa que Paulo Honório não consegue transformar em
objeto. Dotada de leve ideal socialista, Madalena representa um entrave
na dominação de Honório. O fazendeiro, sentindo que a mulher foge de
suas mãos, passa a ter ciúmes mórbidos dela, encerrando-a num círculo de
repressões, ofensas e humilhações. O casal tem um filho mas a situação
não se altera. Paulo Honório não sente nada pela sua criança, e
irrita-se com seus choros. A vida angustiada e o ciúme exagerado de
Paulo Honório acabam desesperando Madalena, levando-a ao suicídio. É
acometido por imenso vazio depois da morte da esposa. Sua imagem o
persegue. As lembranças persistem em seus pensamentos. Então, pouco a
pouco, os empregados abandonam São Bernardo. Os amigos já não freqüentam
mais a casa. Uma queda nos negócios leva a fazenda a ruína. Sozinho,
Paulo Honório vê tudo destruído e, na solidão, procura escrever a
história da sua vida. Considera-se aleijado, por ter destruído a vida de
todos ao seu redor. Reflete a influência do meio quando afirma: "A
culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu
uma alma agreste."