O livro tem uma trama bastante simples,
mas torna-se um pouco longo porque o escritor exagera um pouco com as
descrições.Bruno Stein é um oleiro bastante conservador. Mora no
interior do RS, sua olaria tem apenas 4 empregados sendo que um havia
sido demitido a pouco. É casado, sua esposa chama-se Olga. Tem apenas um
filho, chamado Luís que casou-se com Valéria. Eles, por sua vez,
tiveram quatro filhas: Sandra, Luíza, Eunice e Verônica. A história
começa a acontecer quando chega Gabriel, homem que procura emprego e vem
de Santa Catarina, Bruno emprega Gabriel em sua olaria. Bruno mostra-se
sempre contra a televisão e outras modernidades. Ele, vária vezes cita
no livro o desagrado em ver as netas o dia inteiro assistindo televisão.
Começa a despertar uma secreta paixão por Valéria, sua nora, quando a
vê na banheira nua. Ela corresponde também a este amor, mas nunca
comentam isto. Até um dia em que ela entra na sua oficina e se vê
moldada igual quando estava na banheira nua. Ela descobriu que ele
também a amava. Certo dia, atendendo a seus desejos, Bruno corresponde
as vontades de Valéria Gabriel também apresenta paixão, mas pela irmã de
seu colega de trabalho Mário. Outros que trabalha na olaria é Pedro e
Erandi. Ao término do livro, Bruno assiste pela primeira vez com gosta a
televisão. E entra para sua lista de seus prazeres.
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Resumos / Material
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domingo, 24 de outubro de 2010
Usina - José Lins do Rego
Postado por Marlon às 13:52
A história do Moleque Ricardo a partir
de sua prisão com os companheiros grevistas em Fernando de Noronha, o
qual retorna ao engenho. Com pouco mais estariam no velho Santa Rosa,
que Ricardo deixara há oito anos, fugido como de um presídio, de uma
ilha de trabalhos. Fugira de lá para não ser um alugado e fora pior que
isso. Tivera dores que os alugados não sofriam nunca. Na segunda parte
do livro , começa propriamente Usina Narra os acontecimentos que
envolvem Santa Rosa depois que Carlos Melo, fugindo dos problemas que
envolviam o engenho , entrega o seu patrimônio aos parentes. O Santa
Rosa transforma-se na usina Bom Jesus. O Dr. Juca sonha com o prestígio.
Negociando com Zé Marreira, proprietário da Fazenda São Felix, na
figura do Dr. Luiz, terminam por forçar a venda. A enchente do rio
Paraíba, destruindo a antiga propriedade, simboliza o fim de um ciclo. O
usineiro retira-se com a família no meio da destruição física dos seus
domínios.
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Urupês - Monteiro Lobato
Postado por Marlon às 13:50
Resumo do Livro:
Urupês não contém uma única história, mas vários contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com várias histórias, geralmente de final trágico e algum elemento cômico. O último conto, Urupês, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo típico e preguiçoso, no seu comportamento típico. No mais, as histórias contam de pessoas típicas da região, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes.
Enredo
Os Faroleiros – O narrador, em meio a um bate-papo, propõe-se a contar uma história surpreendente. Relata que, seduzido pelo ar solitário e isolado de um farol, consegue realizar seu sonho passando uns dias nesse local. É quando conhece duas figuras misteriosas que não se conversam: Gerebita e Cabrea. O primeiro defende a idéia, insistentemente confessada para o narrador, de que o segundo está louco. Pergunta então se seria crime se defender de um ataque de um maluco matando-o. É uma premonição, além de deixar nas entrelinhas que o que está para ocorrer tinha sido premeditado. Pouco depois, os dois mergulham num duelo sangrento, em que Gerebita consegue matar o seu oponente com dentadas na jugular. Quando o narrador abandona o farol, massacrado por experiências tão carregadas, toma conhecimento dos motivos que levaram a essa tragédia. Gerebita fora casado com uma mulher chamada Maria Rita, que o trocou por Cabrea, que também é trocado por outro homem. Tempos depois o destino fez com que os dois fossem nomeados para trabalhar no mesmo farol, passando a estabelecer uma convivência de tensão surda.
Não deixe de notar que a narrativa várias vezes se abre para que haja comentários dos ouvintes com o enunciador. É uma maneira de o texto não ficar pesado, cansativo. Além disso, deve-se observar as técnicas expressionistas (o exagero que beira o grotesco) e naturalistas (preferência pelos aspectos escabrosos do comportamento humano). Finalmente, não se deve perder de vista que este conto foge ao padrão de Monteiro Lobato, já que não é regionalista. Passa-se no litoral, ou seja, bem longe do seu conhecido Vale do Paraíba.
O Engraçado Arrependido - Trata-se da história de Pontes, um típico piadista, que consegue arrancar risos nos atos mais simples. Até que um dia resolve ser sério, desejo que não consegue realizar, pois sempre imaginam que é mais uma peça que está pregando. Tenciona, pois, arranjar um cargo no funcionalismo público, o que só obterá se surgir uma vaga, conforme avisa seu padrinho. Resolve, de forma maquiavélica, atacar Major Antônio, homem extremamente sério e que sofre de um aneurisma prestes a estourar por qualquer esforço. Seu plano, pois, é matá-lo com suas piadas e assim ficar com o seu emprego. No começo parece difícil, devido ao caráter circunspeto do doente. Até que, depois de muitas pesquisas sobre o gosto humorístico da vítima, consegue dar o golpe fatal. Mergulha, a partir de então, no remorso, isolando-se de todos. Semanas depois, recuperado, volta à ativa, mas descobre que havia perdido a vaga, pois a demora provocada por seu sumiço forçara a nomeação de outra pessoa. O protagonista enforca-se com uma ceroula, o que para a cidade acaba sendo visto como mais uma piada.
Note como neste conto o psicológico acaba se resvalando para o patológico, para o anormal, o patético, o exagerado. Observe, também, que ainda não é aqui que se manifesta o caráter regionalista do autor.
A Colcha de Retalhos – Neste conto já se manifesta a temática que tanto consagrou o seu autor: a crítica à decadência da zona rural. O narrador faz uma visita a Zé para propor-lhe negócios. No entanto, este recusa, o que revela sua indolência. Esse seu caráter é responsável pela decadência e atraso em que se encontra sua fazenda, reforçada pelo desânimo de sua esposa e pelo caráter arredio de sua filha, Pingo ou Maria das Dores. A única firme, forte, é uma velha, verdadeira matriarca. Mas é por pouco tempo. Anos depois surge a notícia de que Pingo, verdadeiro bicho do mato, havia fugido com um homem para manter uma relação desonrosa. É a derrocada final. A mãe da moça morre, o pai mergulha mais ainda na decadência e a matriarca já não encontra mais motivos para sua existência. O momento mais tocante é quando ela passa a descrever para o narrador a colcha que estava costurando durante anos, toda composta de peças de roupa que Pingo ia usando e dispensando desde recém-nascida. O último pedaço estava reservado para um retalho do vestido de noiva, que não chegou a existir.
Note como a decadência em que a menina mergulha é um símbolo da decadência rural. Note também o colorido da linguagem do contista, que retrata com fidelidade o andamento do registro oral de suas personagens, como no trecho “Des’que caí daquela amaldiçoada ponte”, entre tantos outros.
A Vingança da Peroba – Mais um conto que critica a decadência rural provocada pela indolência dos fazendeiros. Há aqui uma oposição entre duas famílias, os Porunga, fortes e de vida bem estabelecida, graças à força de vontade de suas ações, e os Nunes, mergulhados na preguiça, desorganização e cachaça. Os dois clãs desentendem-se por causa de uma paca, há muito desejada pelo Nunes, mas que acabou sendo caçada por um Porunga. Movido por uma mistura de rivalidade e de inveja, Nunes resolve finalmente investir em suas terras. Seus esforços têm fruto, gerando uma boa colheita de milho. Resolve então construir um monjolo, pois não quer ficar atrás do seu vizinho em desenvolvimento. Corta uma peroba imensa, que estava na divisa das duas terras. Já há aqui motivo de desentendimento, que arrefece quando os Porunga resolvem não brigar mais pela árvore. Semelhante ao conto “Faroleiros”, há o emprego da premonição no meio da narrativa. Um aleijado, que havia sido contratado por Nunes para ajudar na construção do engenho, conta uma história de que certas árvores se vingam por terem sido cortadas. O fato é que o monjolo é construído, mas todo torto, produzindo mais barulho do que outra coisa, o que justifica o seu apelido: Ronqueira. Decepcionado e envergonhado, mergulha na cachaça. Um dia, depois que ele e seu filhinho se embebedaram, acaba adormecendo na rede. Acorda com a gritaria das mulheres de sua casa: o engenho havia esmagado a cabeça da criança no pilão. Irado, Nunes destrói a machadadas a máquina assassina.
Um Suplício Moderno – Este conto apresenta o estafeta, uma espécie de carteiro, como o tipo mais humilhado das cidades do interior. Trata-se da história de Biriba, um pobre coitado que acaba se tornando o burro de carga de todas as pessoas de Itaoca, que ainda cometem o desatino de reclamar dos favores que faz para elas. Sua paciência esgota-se a ponto de pedir demissão, mas não o deixam levar adiante seu plano. Era interesse de todos ter alguém tão submisso. É quando resolve se vingar, traindo Fidêncio, seu superior. Recebe um pacote muito importante para as eleições. Não o entrega, sumindo com ele por dias. É o motivo da queda do maioral, provocando a subida do inimigo, Evandro, que não poupa quase ninguém do antigo governo, apenas o pobre Biriba, recebido de forma bastante atenciosa. Provavelmente desconfiando que tudo iria continuar como antes, mudados apenas os personagens, some de Itaoca.
Meu Conto de Maupassant – Essa narrativa é norteada pelos temas do amor e da morte, comuns em Maupassant e grandes elementos vitais de Lobato. O narrador, ao passar de trem diante de uma árvore, um saguaraji, lembra-se de um crime ocorrido há muito. Tudo havia começado com o aparecimento, nas redondezas daquele vegetal, do cadáver decapitado de uma velha. Investigações são feitas e tem-se como principal suspeito um italiano, que consegue se safar, já que não havia provas. Os anos passaram-se e novos indícios surgem sobre o caso, levando o italiano, que havia sumido no Brás, a ser mais uma vez conduzido para a justiça. Durante toda a viagem de trem, o acusado não deu trabalho algum, mostrando-se por demais submisso. Até o momento em que o veículo passa diante do saguaraji. É quando o sujeito se atira para fora do transporte, sendo depois encontrado morto junto à árvore. Fica a idéia, por muito tempo, de que o remorso pelo crime cometido o havia conduzido ao suicídio, no entanto, tudo é desfeito quando o filho da assassinada confessa o delito. Mergulha-se, pois, no clima de mistério à Maupassant.
Pollice Verso – Narra-se a história de Inácio, alguém que já de criança mostrava um gênio negativo ao gostar de dissecar pássaros. Seu pai, homem dotado de linguagem empolada (o que o tornava uma ilha em seu meio tão pobre intelectualmente) via nesse costume, no entanto, uma tendência para a Medicina e dedica todas as suas forças em ver seu filho seguindo essa carreira. O rapaz acaba realizando o sonho do pai, mas torna-se um pelintra, mais preocupado em se exibir e conseguir o mais rápido possível dinheiro para voltar aos braços da amante francesa, Yvonne, que havia conhecido nos tempos da faculdade. Seu bilhete de loteria é conseguir cuidar de um ricaço, Mendanha. Sua intenção não é curá-lo, pois não seria tão lucrativo quanto a morte, que lhe possibilitaria cobrar uma quantia exorbitante. Com o falecimento do paciente, a família recebe a conta, que acha exorbitante, levando a questão ao tribunal. Ali, Inácio conta com o corporativismo, já que os outros médicos (tão menosprezados pelo recém-formado) dão-lhe parecer favorável. Viaja, pois, para Paris, enganando a todos, dizendo que tinha se estabelecido na carreira e estava em contato com gente do alto quilate da medicina. Estava mais era curtindo a vida.
Bucólica – Outro conto regionalista que critica a “lassidão infinita” da zona rural. Narra-se o atraso em que vivem Veva e seu marido, Pedro Suão. Os dois têm uma filha, Anica, deficiente. Esse é o motivo que faz sua mãe tratar-lhe mal, desejando a morte da pequena, já que não vê utilidade em sua existência quase paralítica. O clímax, temperado a doses de crueldade absurda, está no relato que Libória, a empregada do casal, faz ao narrador. A menina havia morrido de sede, pois a mãe havia-lhe negado água, mesmo sabendo que a coitada estava com febre. O mais trágico é que a única que atendia às vontades da enferma era a criada, que naquele momento estava retida fora da casa graças a uma chuva torrencial que aparecera. O funesto está no fato de a mocinha ter se arrastado até o pote d’água, morrendo ao pé deste.
Note como o título do conto estabelece uma gigantesca ironia com relação ao seu conteúdo.
O Mata-Pau – A história deste conto é introduzida por meio da simbologia do mata-pau, planta que surge discretamente numa árvore, mas que com o tempo cresce a ponto de sugar-lhe toda a seiva. Estabelece-se, pois, relação com Elesbão e Rosa, que há muito queriam um filho, mas não conseguiam. Até que no meio de uma noite surge uma criança na terra deles. Adotam-na, batizando-a de Manuel Aparecido. Quando cresce, acaba tendo um caso com a madrasta. Dominado por sentimento malignamente possessivo, mata o padrasto e depois consegue fazer com que Rosa passe a fazenda para o nome dele. Vende tudo e some com o dinheiro, não sem antes trancar a ex-amante em casa, que incendeia. A sorte dela é que, além de conseguir escapar, enlouquece, o que é-lhe um alívio, pois não tem noção da miséria em que caiu a sua vida.
Bocatorta – Conto carregado de elementos macabros e expressionistas. É a história de Bocatorta, uma figura hedionda e deficiente que vive isolado no meio do mato. Sua biografia é relatada numa reunião familiar, o que desperta a curiosidade em vê-lo. Uma das meninas, Cristina, fica com medo, mas acaba indo, encorajada pelo noivo. Assolada pelo medo e fragilizada pela mudança de clima que ocorre durante a viagem, fica doente, terminando por morrer. Mais tarde, um rapaz que gostava muito dela percebe algo estranho no cemitério e corre para pedir ajuda. Quando todos chegam lá, descobrem Bocatorta violando o cadáver da moça, em pleno ato de necrofilia. Acaba sendo perseguido, morrendo afogado num atoleiro que existia lá por perto.
O Comprador de Fazendas – Quase como para aliviar a leitura depois de dois textos tão pesados, este conto mostra-se mais jocoso. É a história de Moreira, dono da fazenda decadente – mais uma vez esse tema! – Espiga, que não consegue ser vendida, assim como sua filha Zilda não consegue arranjar casamento. Até que surge Trancoso, sujeito bem afeiçoado e que se mostra interessado em comprar a propriedade. Surpreendentemente, é o primeiro que se mostra a elogiar tudo, o que faz com que seja bem tratado, podendo até cortejar Zilda. Parte, prometendo fechar negócio em uma semana. Com a demora da resposta, Moreira faz pesquisas, descobrindo que o indivíduo ganhava a vida andando de fazenda em fazenda, sempre se mostrando interessado em comprar, o que lhe garantia casa e comida por alguns dias. O proprietário, frustrado, fica irado. Tempos depois, Trancoso ganha na loteria e retorna à Espiga, dessa vez para comprá-la realmente, mas é recebido com uma surra de rabo de tatu. Vai-se, aí, o sonho de vender a fazenda e de casar Zilda.
O Estigma – Bruno, narrador, conta a história de seu amigo, Fausto, que se casou praticamente interessado em dinheiro, já que o relacionamento era o que se chamava “face noruega", ou seja, semelhante ao lado de uma vegetação em que não bate sol. Tudo se complica quando o marido se envolve com uma prima, Laurita, muito mais jovem do que a sua esposa. Até que a mocinha aparece morta com um tiro no peito. Suspeita-se que tenha se suicidado e o narrador chega a pensar que de remorso por manter um relacionamento adulterino. Tempos depois, o filho de Fausto nasce, apresentando uma marca no peito, na mesma região que Laura havia atingido para pôr fim a vida. Desenvolve então a teoria de que aquela criança, quando feto, fora a única testemunha do crime cometido por sua mãe. Em outras palavras, não houve suicídio, mas um crime passional e a criança veio ao mundo para denunciar sua progenitora. Assim que vê esse sinal, mostra para a esposa, dizendo: “Olha, mulher, quem te denuncia!”. Em pouco tempo está morta. O narrador, que visita a personagem muitos anos depois, pôde ver o sinal e descobrir que era tudo ilusão, pois não havia como a marca presente no peito da criança provar ou mesmo denunciar qualquer coisa.
Prefácio da 2ª Edição de Urupês – Explica-se aqui o que levou Lobato a produzir seus textos sobre a indolência do caipira. Tudo havia começado com um comentário para o jornal em linguagem vazada de emotividade e estilo, o que despertou nos leitores um desejo por mais textos do mesmo quilate.
Velha Praga – O artigo que transformou um “fazendeirinho” em literato disserta, de forma indignada e irônica, sobre o atraso do comportamento do caboclo, que praticamente põe toda a validade do solo e da agricultura a perder por causa de seu costume bárbaro de realizar queimadas.
Urupês – Este é um dos mais famosos textos de Monteiro Lobato. Nele, desanca uma crítica das mais ferozes que já se fez sobre qualquer tipo nacional. O alvo de seu ataque é o caboclo. Derrubando uma tradição cara, inaugurada por José de Alencar, que apontava como a mestiçagem do índio com o branco como geradora de uma nação forte, Lobato crê no contrário. Sua teoria institui a tese do caboclismo, ou seja, a mistura de raças gera um tipo fraco, indolente, preguiçoso, passivo. Sua religião manifesta-se por meio das mais primitivas formas de superstição e magia. Sua medicina é mais rala ainda. Sua política é inexistente, já que vota sem consciência, conduzido pelo maioral das terras em que mora. Seu mobiliário é o mais escasso possível, havendo, no máximo, apenas um banquinho (de três pernas, o que poupa o trabalho de nivelamento) para as visitas. Não tem sequer senso estético, coisa que até o homem das cavernas possuía. E quanto à produção, dedica-se apenas a colher o que a natureza oferece. É, portanto, o protótipo de tudo quanto há de atrasado no país.
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Urupês não contém uma única história, mas vários contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com várias histórias, geralmente de final trágico e algum elemento cômico. O último conto, Urupês, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo típico e preguiçoso, no seu comportamento típico. No mais, as histórias contam de pessoas típicas da região, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes.
Enredo
Os Faroleiros – O narrador, em meio a um bate-papo, propõe-se a contar uma história surpreendente. Relata que, seduzido pelo ar solitário e isolado de um farol, consegue realizar seu sonho passando uns dias nesse local. É quando conhece duas figuras misteriosas que não se conversam: Gerebita e Cabrea. O primeiro defende a idéia, insistentemente confessada para o narrador, de que o segundo está louco. Pergunta então se seria crime se defender de um ataque de um maluco matando-o. É uma premonição, além de deixar nas entrelinhas que o que está para ocorrer tinha sido premeditado. Pouco depois, os dois mergulham num duelo sangrento, em que Gerebita consegue matar o seu oponente com dentadas na jugular. Quando o narrador abandona o farol, massacrado por experiências tão carregadas, toma conhecimento dos motivos que levaram a essa tragédia. Gerebita fora casado com uma mulher chamada Maria Rita, que o trocou por Cabrea, que também é trocado por outro homem. Tempos depois o destino fez com que os dois fossem nomeados para trabalhar no mesmo farol, passando a estabelecer uma convivência de tensão surda.
Não deixe de notar que a narrativa várias vezes se abre para que haja comentários dos ouvintes com o enunciador. É uma maneira de o texto não ficar pesado, cansativo. Além disso, deve-se observar as técnicas expressionistas (o exagero que beira o grotesco) e naturalistas (preferência pelos aspectos escabrosos do comportamento humano). Finalmente, não se deve perder de vista que este conto foge ao padrão de Monteiro Lobato, já que não é regionalista. Passa-se no litoral, ou seja, bem longe do seu conhecido Vale do Paraíba.
O Engraçado Arrependido - Trata-se da história de Pontes, um típico piadista, que consegue arrancar risos nos atos mais simples. Até que um dia resolve ser sério, desejo que não consegue realizar, pois sempre imaginam que é mais uma peça que está pregando. Tenciona, pois, arranjar um cargo no funcionalismo público, o que só obterá se surgir uma vaga, conforme avisa seu padrinho. Resolve, de forma maquiavélica, atacar Major Antônio, homem extremamente sério e que sofre de um aneurisma prestes a estourar por qualquer esforço. Seu plano, pois, é matá-lo com suas piadas e assim ficar com o seu emprego. No começo parece difícil, devido ao caráter circunspeto do doente. Até que, depois de muitas pesquisas sobre o gosto humorístico da vítima, consegue dar o golpe fatal. Mergulha, a partir de então, no remorso, isolando-se de todos. Semanas depois, recuperado, volta à ativa, mas descobre que havia perdido a vaga, pois a demora provocada por seu sumiço forçara a nomeação de outra pessoa. O protagonista enforca-se com uma ceroula, o que para a cidade acaba sendo visto como mais uma piada.
Note como neste conto o psicológico acaba se resvalando para o patológico, para o anormal, o patético, o exagerado. Observe, também, que ainda não é aqui que se manifesta o caráter regionalista do autor.
A Colcha de Retalhos – Neste conto já se manifesta a temática que tanto consagrou o seu autor: a crítica à decadência da zona rural. O narrador faz uma visita a Zé para propor-lhe negócios. No entanto, este recusa, o que revela sua indolência. Esse seu caráter é responsável pela decadência e atraso em que se encontra sua fazenda, reforçada pelo desânimo de sua esposa e pelo caráter arredio de sua filha, Pingo ou Maria das Dores. A única firme, forte, é uma velha, verdadeira matriarca. Mas é por pouco tempo. Anos depois surge a notícia de que Pingo, verdadeiro bicho do mato, havia fugido com um homem para manter uma relação desonrosa. É a derrocada final. A mãe da moça morre, o pai mergulha mais ainda na decadência e a matriarca já não encontra mais motivos para sua existência. O momento mais tocante é quando ela passa a descrever para o narrador a colcha que estava costurando durante anos, toda composta de peças de roupa que Pingo ia usando e dispensando desde recém-nascida. O último pedaço estava reservado para um retalho do vestido de noiva, que não chegou a existir.
Note como a decadência em que a menina mergulha é um símbolo da decadência rural. Note também o colorido da linguagem do contista, que retrata com fidelidade o andamento do registro oral de suas personagens, como no trecho “Des’que caí daquela amaldiçoada ponte”, entre tantos outros.
A Vingança da Peroba – Mais um conto que critica a decadência rural provocada pela indolência dos fazendeiros. Há aqui uma oposição entre duas famílias, os Porunga, fortes e de vida bem estabelecida, graças à força de vontade de suas ações, e os Nunes, mergulhados na preguiça, desorganização e cachaça. Os dois clãs desentendem-se por causa de uma paca, há muito desejada pelo Nunes, mas que acabou sendo caçada por um Porunga. Movido por uma mistura de rivalidade e de inveja, Nunes resolve finalmente investir em suas terras. Seus esforços têm fruto, gerando uma boa colheita de milho. Resolve então construir um monjolo, pois não quer ficar atrás do seu vizinho em desenvolvimento. Corta uma peroba imensa, que estava na divisa das duas terras. Já há aqui motivo de desentendimento, que arrefece quando os Porunga resolvem não brigar mais pela árvore. Semelhante ao conto “Faroleiros”, há o emprego da premonição no meio da narrativa. Um aleijado, que havia sido contratado por Nunes para ajudar na construção do engenho, conta uma história de que certas árvores se vingam por terem sido cortadas. O fato é que o monjolo é construído, mas todo torto, produzindo mais barulho do que outra coisa, o que justifica o seu apelido: Ronqueira. Decepcionado e envergonhado, mergulha na cachaça. Um dia, depois que ele e seu filhinho se embebedaram, acaba adormecendo na rede. Acorda com a gritaria das mulheres de sua casa: o engenho havia esmagado a cabeça da criança no pilão. Irado, Nunes destrói a machadadas a máquina assassina.
Um Suplício Moderno – Este conto apresenta o estafeta, uma espécie de carteiro, como o tipo mais humilhado das cidades do interior. Trata-se da história de Biriba, um pobre coitado que acaba se tornando o burro de carga de todas as pessoas de Itaoca, que ainda cometem o desatino de reclamar dos favores que faz para elas. Sua paciência esgota-se a ponto de pedir demissão, mas não o deixam levar adiante seu plano. Era interesse de todos ter alguém tão submisso. É quando resolve se vingar, traindo Fidêncio, seu superior. Recebe um pacote muito importante para as eleições. Não o entrega, sumindo com ele por dias. É o motivo da queda do maioral, provocando a subida do inimigo, Evandro, que não poupa quase ninguém do antigo governo, apenas o pobre Biriba, recebido de forma bastante atenciosa. Provavelmente desconfiando que tudo iria continuar como antes, mudados apenas os personagens, some de Itaoca.
Meu Conto de Maupassant – Essa narrativa é norteada pelos temas do amor e da morte, comuns em Maupassant e grandes elementos vitais de Lobato. O narrador, ao passar de trem diante de uma árvore, um saguaraji, lembra-se de um crime ocorrido há muito. Tudo havia começado com o aparecimento, nas redondezas daquele vegetal, do cadáver decapitado de uma velha. Investigações são feitas e tem-se como principal suspeito um italiano, que consegue se safar, já que não havia provas. Os anos passaram-se e novos indícios surgem sobre o caso, levando o italiano, que havia sumido no Brás, a ser mais uma vez conduzido para a justiça. Durante toda a viagem de trem, o acusado não deu trabalho algum, mostrando-se por demais submisso. Até o momento em que o veículo passa diante do saguaraji. É quando o sujeito se atira para fora do transporte, sendo depois encontrado morto junto à árvore. Fica a idéia, por muito tempo, de que o remorso pelo crime cometido o havia conduzido ao suicídio, no entanto, tudo é desfeito quando o filho da assassinada confessa o delito. Mergulha-se, pois, no clima de mistério à Maupassant.
Pollice Verso – Narra-se a história de Inácio, alguém que já de criança mostrava um gênio negativo ao gostar de dissecar pássaros. Seu pai, homem dotado de linguagem empolada (o que o tornava uma ilha em seu meio tão pobre intelectualmente) via nesse costume, no entanto, uma tendência para a Medicina e dedica todas as suas forças em ver seu filho seguindo essa carreira. O rapaz acaba realizando o sonho do pai, mas torna-se um pelintra, mais preocupado em se exibir e conseguir o mais rápido possível dinheiro para voltar aos braços da amante francesa, Yvonne, que havia conhecido nos tempos da faculdade. Seu bilhete de loteria é conseguir cuidar de um ricaço, Mendanha. Sua intenção não é curá-lo, pois não seria tão lucrativo quanto a morte, que lhe possibilitaria cobrar uma quantia exorbitante. Com o falecimento do paciente, a família recebe a conta, que acha exorbitante, levando a questão ao tribunal. Ali, Inácio conta com o corporativismo, já que os outros médicos (tão menosprezados pelo recém-formado) dão-lhe parecer favorável. Viaja, pois, para Paris, enganando a todos, dizendo que tinha se estabelecido na carreira e estava em contato com gente do alto quilate da medicina. Estava mais era curtindo a vida.
Bucólica – Outro conto regionalista que critica a “lassidão infinita” da zona rural. Narra-se o atraso em que vivem Veva e seu marido, Pedro Suão. Os dois têm uma filha, Anica, deficiente. Esse é o motivo que faz sua mãe tratar-lhe mal, desejando a morte da pequena, já que não vê utilidade em sua existência quase paralítica. O clímax, temperado a doses de crueldade absurda, está no relato que Libória, a empregada do casal, faz ao narrador. A menina havia morrido de sede, pois a mãe havia-lhe negado água, mesmo sabendo que a coitada estava com febre. O mais trágico é que a única que atendia às vontades da enferma era a criada, que naquele momento estava retida fora da casa graças a uma chuva torrencial que aparecera. O funesto está no fato de a mocinha ter se arrastado até o pote d’água, morrendo ao pé deste.
Note como o título do conto estabelece uma gigantesca ironia com relação ao seu conteúdo.
O Mata-Pau – A história deste conto é introduzida por meio da simbologia do mata-pau, planta que surge discretamente numa árvore, mas que com o tempo cresce a ponto de sugar-lhe toda a seiva. Estabelece-se, pois, relação com Elesbão e Rosa, que há muito queriam um filho, mas não conseguiam. Até que no meio de uma noite surge uma criança na terra deles. Adotam-na, batizando-a de Manuel Aparecido. Quando cresce, acaba tendo um caso com a madrasta. Dominado por sentimento malignamente possessivo, mata o padrasto e depois consegue fazer com que Rosa passe a fazenda para o nome dele. Vende tudo e some com o dinheiro, não sem antes trancar a ex-amante em casa, que incendeia. A sorte dela é que, além de conseguir escapar, enlouquece, o que é-lhe um alívio, pois não tem noção da miséria em que caiu a sua vida.
Bocatorta – Conto carregado de elementos macabros e expressionistas. É a história de Bocatorta, uma figura hedionda e deficiente que vive isolado no meio do mato. Sua biografia é relatada numa reunião familiar, o que desperta a curiosidade em vê-lo. Uma das meninas, Cristina, fica com medo, mas acaba indo, encorajada pelo noivo. Assolada pelo medo e fragilizada pela mudança de clima que ocorre durante a viagem, fica doente, terminando por morrer. Mais tarde, um rapaz que gostava muito dela percebe algo estranho no cemitério e corre para pedir ajuda. Quando todos chegam lá, descobrem Bocatorta violando o cadáver da moça, em pleno ato de necrofilia. Acaba sendo perseguido, morrendo afogado num atoleiro que existia lá por perto.
O Comprador de Fazendas – Quase como para aliviar a leitura depois de dois textos tão pesados, este conto mostra-se mais jocoso. É a história de Moreira, dono da fazenda decadente – mais uma vez esse tema! – Espiga, que não consegue ser vendida, assim como sua filha Zilda não consegue arranjar casamento. Até que surge Trancoso, sujeito bem afeiçoado e que se mostra interessado em comprar a propriedade. Surpreendentemente, é o primeiro que se mostra a elogiar tudo, o que faz com que seja bem tratado, podendo até cortejar Zilda. Parte, prometendo fechar negócio em uma semana. Com a demora da resposta, Moreira faz pesquisas, descobrindo que o indivíduo ganhava a vida andando de fazenda em fazenda, sempre se mostrando interessado em comprar, o que lhe garantia casa e comida por alguns dias. O proprietário, frustrado, fica irado. Tempos depois, Trancoso ganha na loteria e retorna à Espiga, dessa vez para comprá-la realmente, mas é recebido com uma surra de rabo de tatu. Vai-se, aí, o sonho de vender a fazenda e de casar Zilda.
O Estigma – Bruno, narrador, conta a história de seu amigo, Fausto, que se casou praticamente interessado em dinheiro, já que o relacionamento era o que se chamava “face noruega", ou seja, semelhante ao lado de uma vegetação em que não bate sol. Tudo se complica quando o marido se envolve com uma prima, Laurita, muito mais jovem do que a sua esposa. Até que a mocinha aparece morta com um tiro no peito. Suspeita-se que tenha se suicidado e o narrador chega a pensar que de remorso por manter um relacionamento adulterino. Tempos depois, o filho de Fausto nasce, apresentando uma marca no peito, na mesma região que Laura havia atingido para pôr fim a vida. Desenvolve então a teoria de que aquela criança, quando feto, fora a única testemunha do crime cometido por sua mãe. Em outras palavras, não houve suicídio, mas um crime passional e a criança veio ao mundo para denunciar sua progenitora. Assim que vê esse sinal, mostra para a esposa, dizendo: “Olha, mulher, quem te denuncia!”. Em pouco tempo está morta. O narrador, que visita a personagem muitos anos depois, pôde ver o sinal e descobrir que era tudo ilusão, pois não havia como a marca presente no peito da criança provar ou mesmo denunciar qualquer coisa.
Prefácio da 2ª Edição de Urupês – Explica-se aqui o que levou Lobato a produzir seus textos sobre a indolência do caipira. Tudo havia começado com um comentário para o jornal em linguagem vazada de emotividade e estilo, o que despertou nos leitores um desejo por mais textos do mesmo quilate.
Velha Praga – O artigo que transformou um “fazendeirinho” em literato disserta, de forma indignada e irônica, sobre o atraso do comportamento do caboclo, que praticamente põe toda a validade do solo e da agricultura a perder por causa de seu costume bárbaro de realizar queimadas.
Urupês – Este é um dos mais famosos textos de Monteiro Lobato. Nele, desanca uma crítica das mais ferozes que já se fez sobre qualquer tipo nacional. O alvo de seu ataque é o caboclo. Derrubando uma tradição cara, inaugurada por José de Alencar, que apontava como a mestiçagem do índio com o branco como geradora de uma nação forte, Lobato crê no contrário. Sua teoria institui a tese do caboclismo, ou seja, a mistura de raças gera um tipo fraco, indolente, preguiçoso, passivo. Sua religião manifesta-se por meio das mais primitivas formas de superstição e magia. Sua medicina é mais rala ainda. Sua política é inexistente, já que vota sem consciência, conduzido pelo maioral das terras em que mora. Seu mobiliário é o mais escasso possível, havendo, no máximo, apenas um banquinho (de três pernas, o que poupa o trabalho de nivelamento) para as visitas. Não tem sequer senso estético, coisa que até o homem das cavernas possuía. E quanto à produção, dedica-se apenas a colher o que a natureza oferece. É, portanto, o protótipo de tudo quanto há de atrasado no país.
Um Lugar ao Sol - Érico Veríssimo
Postado por Marlon às 13:49
Vasco caminha pela vida numa incansável e
persistente busca: de emprego, de amor, de dias melhores... Mas não
importa. Já se habituou a viver em constante contradição. Busca as
aventuras da boemia e descobre os prazeres de um viver regrado. Como
será o amanhã? Não se sabe... Há dificuldades imensas, mas é certo que
também existe Clarissa, sua paixão, o elo que o prende à realidade. A
vida ainda vale a pena! Permanecer e lutar ou ganhar mundo com seu pai,
num percurso solitário? Erico Verissimo consegue, neste livro
contundente e atual, mostrar que, apesar dos pesares que marcam o
destino inexorável do homem, todos nós temos direito a Um Lugar ao Sol.
Neste livro, o escritor consegue elaborar de modo impecável um retrato
vivo da complexidade do ser humano e das questões que o inquietam.
Reunindo personagens já conhecidas de suas obras anteriores, coloca-as a
nu, com uma linguagem sincera e comovente, criando situações em que o
cotidiano se impõe sempre, implacável. Assim, à miséria e à violência
que marcam o destino do homem, somam-se aspectos do mais profundo
humanismo: a solidariedade irrestrita, a esperança de uma vida melhor, a
amizade, a paixão. Sempre crítico, o autor analisa a sociedade
procurando compreendê-la de forma realista, isenta. E as personagens,
vivendo o presente intensamente, ao sabor dos acontecimentos, não se
preocupam com o amanhã. É melhor "seguir ao acaso, como os barcos
antigos, sem bússula nem porto certo, guiados apenas pelas estrelas".
Com uma temática atual e forte, o enredo envolve o leitor e leva-o a
refletir sobre o próprio destino, seus encantos e desencantos, sua
impotência e pequenez frente à vida.
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Um Crime Delicado - Sérgio Sant Anna
Postado por Marlon às 13:48Romance metaliterário (o narrador fala
da obra) em linguagem fragmentária, através da qual o narrador, um
crítico de teatro, conta-nos seu envolvimento criminoso com Inês, uma
mulher manca e misteriosa. Consciente de que a verdade em si é uma
composição de signos (representações), se diverte com o leitor. Afinal,
onde a verdade do ocorrido estará? Nas ações do teatro que ele critica?
Nas pinceladas do pintor? Nas palavras do escritor? Como espelhos
estilhaçados que precisam se unir, ou como linguagens diferentes
costurando-se umas às outras, talvez encontremos a(s) resposta(s) para o
fato: um crime delicado! E foi através desses espelhos, que refletem
uns aos outros, que minha observação se deu, bastante discreta e
oblíqua. O que importa, então, é deixar correr solta a mente, e talvez a
esse fluxo é que se deva chamar verdadeiramente de vida. Pois mesmo
quando nos envolvemos em grandes aventuras, o que é vivê-las senão a
subjetividade de quem as vive? Sou crítico profissional de teatro. Mas a
profissão talvez explique muitas coisas em meu comportamento e na minha
forma de viver, em minha personalidade enfim, embora eu não saiba dizer
se foi esta personalidade que me conduziu naturalmente à crítica, ou se
foi o exercício desta que terminou por contaminar meu comportamento e
minha personalidade. Antônio Martins, ao tentar reconstituir
retrospectivamente sua história, representando-a em diferentes
linguagens, deixa em aberto várias possibilidades de interpretar o que
se passou. Teria ele sido vítima de uma armadilha elaborada pelo artista
plástico Vitório Brancatti, protetor e possível amante de Inês? Estaria
ele próprio falando a verdade sobre o seu relacionamento com a moça, ou
apenas criando o seu texto? O crítico agora é você, leitor! Resumo
Romance narrado em 1ª pessoa, em três partes, subdivididas em capítulos e
numa linguagem que acompanha o vaivém da memória do narrador, um
crítico profissional de teatro, que alguns consideravam excêntrico,
solitário: Antônio Martins. Inicia o texto falando que teria visto Inês
num café cujas paredes e colunas eram espelhadas. ...uma visão discreta e
oblíqua, mas que por vezes, podia jurar que o observado era ele. Inês,
uma mulher com rosto de traços finos e delicados, seios pouco salientes,
mulher magra, com o corpo bem- proporcionado, cabelos claros,
encaracolados - de olhar melancólico e solidão recatada - assim a teria
visto, após duas doses de conhaque - o que, segundo o narrador, eram
suficientes, pois se continuasse a beber... ...no dia seguinte poderia
descambar, acelerar de forma desritmada os fluxos de sua mente, passar
de uma exaltação quase feliz para um abatimento cheio de imagens e
pensamentos dolorosos - uma tendência que ele procurava controlar: o
alcoolismo. Antes de se retirar do café, ele observa que um homem de
meia-idade, com cabelos revoltos e grisalhos, inicia uma conversa
familiar com a moça, mas percebe que ele os observa, lançando-lhe um
olhar firme, mais curioso do que hostil. No capítulo seguinte, certa
tarde, Antônio atravessava o largo do Machado, no centro do Rio de
Janeiro, e fora acometido por uma premonição, a de que algum incidente
estava prestes a ocorrer. No metrô, ainda quando descia os degraus da
escada, ao virar-se instintivamente uma mulher cai sobre o seu corpo, e é
amparada em seus braços. A moça é manca, mas de uma beleza singular.
Antônio a reconhece como a moça que o impressionara no café. Segue-a até
a rua Paissandu, local de sua residência. Inês era seu nome, e ela
também o reconhece. Num espetáculo teatral, Antônio percebe que o que se
passara com Inês e ele no metrô o emocionara - e isso interferiria -
embora não devesse, em seu julgamento da peça que analisava. ...dois
jovens em crises existenciais que, segundo o crítico, uma simulação do
amor beirando a impotência e buscando ostentar-se na própria
teatralidade, numa pretensa metalinguagem que não passava de um álibi -
uma coisa tediosa e medíocre. Enfim o espetáculo. Folhas de outono
(folhas secas que caíam através de uma janela cênica) representavam o
aprisionamento da atriz. Podemos ler esse aprisionamento observado na peça
como signo- sinal da relação de também aprisionamento entre Inês e
Brancatt, ou seja, uma dica do narrador, que retira fragmentos da
linguagem do teatro que analisa para construir o seu texto e confundir
ou brincar com o leitor. Neste "texto" também há forte comparação da
atriz com Inês. ...a imagem de Inês que insistia em pairar, no decorrer
da peça, em meu palco interior? Relembrando: Antônio e Inês trocam
olhares no café; Inês cai em seus braços no metrô no dia seguinte;
Antônio a acompanha até a rua de seu apartamento; marcam um encontro num
bar- restaurante no Leblon, onde Inês já o estaria esperando. ...ele
que chega 10 minutos antes da hora marcada, depois de haver tomado um
uísque em casa, de puro nervosismo. Inês ri ao saber que Antônio era
crítico de teatro e, entre goles de uísque, Antônio tem a impressão
desconfortável de que ela apenas se deixara tomar pela mão sem nenhum
tipo de retorno; mas o induziria a ir a seu apartamento, e que no dia
seguinte entre imagens superpostas, lembranças e projeções vagas que lhe
vinham em forma de lampejos, ele descreve-nos o local: uma muleta e uma
tela sobre o cavalete, sons de um trompete, cheiro de tinta e perfume
no ar além de um biombo negro com ramagens prateadas. Embriagado,
envolto nos sentimentos que o levavam a desvendar Inês, acreditou na
força do destino, mas já em casa questionava: seria ela uma pintora? E o
biombo escondia uma Inês com problemas físicos? Seria o local para
despir-se fora das vistas mesmo de um amante? Ou preparado por Inês para
enciumá-lo? Inês teria neste encontro no Leblon pedido a Antônio que
fosse comprar analgésicos e tranqüilizantes enquanto esta daria um
telefonema. Antônio sequer a viu andando. Sua perna manca teria sido um
artifício para eles se aproximarem? No apartamento, Inês se coloca
inerte no divã. Teria misturado o tranquilizante álcool? Sente por ela
um arrebatamento de uma força delicada. Antônio a conduz para a cama,
despindo-a. Inês abre os olhos, arregalando-os em pânico. Antônio tem a
reação de exibir a transparência de suas intenções, mas ao acender a
luz, Inês tinha os olhos fechados. Parecia dormir, ou fingia que dormia?
Exibir transparência ou como narra Antônio: ...tentava fugir para não
ser surpreendido numa situação dúbia? O resto? Ele apenas se erguera e
voltara para casa, acordando em sua cama. Antônio teme um reencontro com
Inês, preocupa-se com a seqüência dos fatos produzidos por uma memória
prejudicada, deixando vazios que possivelmente encobririam algum ato que
sua mente não ousava trazer à tona. Antônio a teria despido? E o cheiro
de tinta que ainda ficava em sua memória olfática, saíra do biombo? O
que Inês pensaria de seu delicado gesto? Despi-la para a cama? Como ela
os interpretaria? E o quadro, e o cavalete atrás do biombo? Relembra o
encontro no metrô, teme reencontrá-la e se isso ocorresse, como
despistá-la da coincidência sem que ela tecesse suspeitas? Em casa
constata um pequeno ferimento no joelho; desiste de um contato com Inês,
vai ao teatro. Antônio recebe um envelope de Inês Brancatti, levado por
um homem de moto e uma moça. Enciumado por imaginar Inês com o
motoqueiro , rasga o envelope com raiva e junto a um convite há uma
cartinha em papel perfumado e cor-de-rosa, com o endereço e telefone.
Trata-se de uma mostra coletiva de pintura com o título de Os
Divergentes. Os Divergentes expunham no Centro de Expressão Vida, na rua
Viúva Lacerda, no Humaitá. Ao sondar a exposição, crítico que era, não
encontra nela valores contemporâneos mas: ...fruto de pincéis de pessoas
medianas, talvez normais, com suas figuras, paisagens, naturezas
mortas. Antônio encontra Inês próxima a um quadro que revelava o
apartamento onde estiveram. Imagens refletidas reproduziam, em detalhes,
o cenário em que se encontraram, e Inês ali o concretizava. Ele percebe
que ela não os poderia ter pintado (um auto-retrato fazendo uso de um
espelho). Fora usada como modelo do pintor Vitorio Brancatti - o homem
que a acompanhava no café quando se viram pela primeira vez. Antônio é
fotografado em frente ao quadro, e a sensação que tem é que caíra numa
armadilha. Na tentativa de encontrar uma confidente entre as muitas
amigas que tinha, tenta ligar para Maria Luísa, uma professora
universitária, bonita, madura um tanto séria, mas relaciona o telefone a
outra Maria Luísa, essa uma atriz de teatro e TV. Luísa atuava em uma
adaptação de Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues - era Lúcia, uma das
irmãs que disputavam o mesmo homem: Pedro. Na saída da peça, esperando-a
trocar de roupa, Antônio bebe um conhaque para relaxar. Vai ao café com
Luísa, e lá não vê Inês. Entre Antônio e Luísa o encontro é um
fracasso. Ambos cumpriam um ritual de interesse e sedução. Da parte
dele, um equívoco. Antônio procura Maria Clara, uma amiga quarentona e
solitária, que o aconselha a transar com Inês, nem que fosse apenas para
libertar-se dela. Antônio vai a peça Albertine - uma adaptação livre de
temas proustianos , de autoria da paulista Beatriz Sampaio. Nessa peça
há algo de traiçoeiro para o leitor: o narrador por meio de códigos,
oferece-nos pistas sobre seu envolvimento com Inês. A peça é em pré-
texto. Proust sempre numa cama adornada de rendas, enquanto vários de
seus personagens - numa movimentação por vezes lenteada, pairavam
surgindo e desaparecendo ao redor do leito - numa cenografia móvel,
constituída, entre outras coisas, de obras de arte ou pretensamente
(como já vulgarizadas reproduções de Monet, Renoir.), além de texto do
mestre Proust que podia ser ouvido, ora em off, ora através de
personagens. Lembre-se, leitor, do biombo, do perfume, da muleta, da
música, enfim... sinais que nos remetem ao apartamento de Inês. Dois
dias depois do espetáculo Albertine, Antônio encontra um recado de Inês
em sua secretária eletrônica: precisava falar com ele. Ele aceita um
convite de Inês para um chá naquela tarde em seu apartamento, e mais
confiante não pretendia baixar a guarda emocional e a crítica. Exporia
isso ao revelar suas impressões quanto ao quadro de Vitório Brancatti.
Veja: modelo em plano desproporcional em relação aos demais elementos da
composição; · Perspectiva chapada, aproximando e realçando os elementos
de fundo - a tela no cavalete, a muleta e o divã - sem ofuscar o
principal; · Desvio estético - Inês devassada em sua intimidade; · O
biombo tornava a cena mais poética - cingindo de uma auréola de
inocência a modelo, que, atrás daquele compartimento, não estaria
supostamente se percebendo observada, e que não teria como se achar
presente naquele espaço; · Gosto duvidoso ao macular pela exibição,
sobre a borda do biombo, a calcinha branca e o sutiã vermelho, cuja
textura em tintas materializava como algo tátil sobre a tela. Tudo isso,
pensa Antônio, quase alegre, confiante por ter cercado criticamente a
obra de Vitório por todos os ângulos enquanto se aproxima do edifício de
Inês. Inês o introduz ao apartamento elegantemente e Antônio ao atingir
a sala é assaltado pela sensação... ...vizinha da loucura - de que não
penetrava num cômodo real e sim num espaço preparado, onde havia algo de
falso, como um cenário, ou mais abissalmente, o interior de um quadro
de Vitório Brancatti. Inês agradece, referindo-se à noite em que ela
havia sido levada para a cama e que não desgostara do fato. Estaria
querendo reviver o que se passou? Ou estaria usando Antônio que teve uma
brilhante intuição. ...se Vitório dispunha de Inês, que tentava dispor
de mim, Vitório estaria dispondo de mim, caso eu me deixasse levar; e
alguém (Vitório?) poderia estar se ocultando atrás do biombo para nos
espionar... Durante o chá, Antônio questiona e analisa Inês, que aos
poucos, cai em contradição - E o apartamento, é de Vitório? Inês
ergue-se subitamente, derrubando a xícara, com um resto de chá, sobre a
mesa. Eu só a vira assim tão transtornada depois da queda na estação do
metrô. - Ele o alugou para mim. Eu sou sua modelo. O que está querendo
ensinuar? Depositei minha xícara na mesa. - Desculpe-me, não quis ser
indelicado. Mas ele também o reformou para você, não foi? - Sim,
reformou a seu gosto e daí? Vitório é um artista. - Será possível que
você não se dá conta? - Dou-me conta de quê? - ela disse, com a voz
embargada. - De que o apartamento é um cenário para você se movimentar
dentro dele segundo um esquema de probabilidades previsto por Vitório de
acordo com seus caprichos? E de que a obra que vi na exposição não
passa de uma documentação disso? A obra de Vitório, de certa forma é
você mesma, Inês, e ele precisa mantê-la encerrada aqui. É diabólico e
aviltante. Mas posso dizer que ele está de parabéns. Antes de, pelo
menos aparentemente Inês perder os sentidos, julguei ouvi-la sussurrar,
quase coincidindo com o fim da música: - Ele me escraviza. Tomado por
uma delicadeza e impetuosidade indescritiva, Antônio toma Inês nos
braços - como que se a personagem-modelo e personagem da pintura que
Antônio via na exposição houvesse se soltado da obra , naquele cenário
com seus móveis e adereços, fazendo deles imagens de um quadro em
movimento; uma cena para qual Antônio fora tragado. Amam-se sem
resistência, mesmo que nos últimos momentos Inês tenha murmurado
repentinamente "oh não", "oh não", que Antônio interpreta como um sim de
entrega dentro de um código amoroso. Na consciência de estar agindo
como autor e ator de uma cena de uma instalação de Vitório, Antônio
volta a si e percebe Inês chorando, denunciando a chegada,
provavelmente, de Brancatti, Nilton, o motoqueiro e Lenita - o que faz
Antônio, às pressas, deixar o apartamento. Ao passar pela portaria,
Antônio está com uma aparência suspeita – roupas e cabelos desgrenhados,
o colete vestido pelo avesso - e enfrenta o olhar do porteiro, que o
faz sentir-se como alguém que foge depois de ter cometido alguma ação
criminosa. No entanto, Antônio está comendo um biscoitinho! Raivoso com o
ato de Inês e já em seu apartamento, percebe no canto dos lábios um
resquício ínfimo de sangue, sente-se dominado por Inês, e num impulso,
escreve-lhe uma carta que mais tarde seria publicada nos jornais, dando
margem a chacotas no meio teatral. Veja leitor como um ato aparentemente
viril segundo Antônio como uma dose de agressividade e até de maneira
brutal) isso serve aos envolvidos à Inês como para Brancatti
principalmente como fato para uma acusação judicial contra Antônio:
estupro. É intimado portanto a comparecer à 9º DP, no catete, para
justificar seu envolvimento com Maria Inês de Jesus. Fim do 2º Capítulo
Antônio é submetido a exames legais: mostras seminais, resquícios de
pele colhidos nas unhas de Inês, arranhões, enfim marcas que
corroboravam terem sido produzidos por Inês. Antônio rejeita a hipótese
de ter coagido ou muito menos violentado Inês, mas sim ter havido
entrega sem reservas por parte de Inês, que aliás não trazia em seu
corpo marcas à exceção de um corte na orelha – aliás fato importante
pois na falta de provas Antônio tem chances de responder em liberdade à
acusação: " – Não estariam eles na presença de um criminoso delicado,
refinado"? Antônio duvida de si mesmo, "teria usado Inês, uma prostituta
evitando assim, ser usado por ela e o amante Brancatti?" Na sala de
audiência o olhar de ambos se encontram como da primeira vez no café."
Antônio percebe não ter realmente conhecido Inês, o que ela pensava de
tudo aquilo e dele? Uma nova realidade abre-se a percepção de Antônio:
Brancatti usava Inês e Lenita como fachadas para esconder seu
relacionamento com Nílton – Veja sua crítica: "um pintor europeu do
terceiro escalão que se refugia artisticamente num país provinciano e
toma como esposa e ornamento uma beleza exótica dos trópicos; como
amante elege um motociclista primitivo e, como modelo ou enteada e até
quem sabe eventual amante uma frágil e bela jovem coxa." E para ele,
qual teria sido seu papel nessa teia diabólica? Para Antônio parecia uma
luta estética: um jogo de xadrez entre o crítico e o pintor. "Este
escravizando a modelo num cárcere privado, físico, psicológico e
artístico, e pior condenando Antônio por um pretenso crime sexual se
auto prevalecia, enfim ......empenhava-se em convencer as pessoas do
alto valor artístico de sua obra – propaganda em suma – o crítico
teatral manipulado num cenário em plena performance entre o casal!" Fora
bem sucedido em grande parte em seus objetivos escusos, conclui
Antônio. Durante o inquérito será acusado também de ter saído do
apartamento praguejando contra Inês – enraivecido, mordendo um
biscoitinho – argumento rejeitado por seu advogado como sinal da calma,
da paz de espírito dos que nada têm a temer, depois de um encontro
amoroso consentido. Nessa fase processual Antônio vem a saber que os
desmaios de Inês tinham uma causa cerebral definida – que sua lesão na
perna, se originava de um atropelamento na infância; fato esse que
legitima a idéia dela ter desmaiado ao ser possuída e a coloca como
vítima de Antônio, que por sua vez percebe a força de sedução de tal
desmaio, o que valorizou ainda mais a relação de ambos. Tentando
reverter seu papel, Antônio contra-argumenta: " _ Não serão o verdadeiro
amor e a sexualidade mais autêntica, sempre, o encontro de dois
incoscientes? No que o advogado de acusação responde: - "No caso das
violações, não estaremos diante da imposição do inconsciente de um sobre
o incosciente de outro? Antônio tenta um novo argumento dizendo que
Inês foi subjugada pela força psíquica de Brancatti e que ele a teria
libertado em momentos preciosos, possuindo e sendo correspondido por ela
– e tudo ocorrendo dentro de um cenário – instalação, portanto fazendo
parte da mesma, ou seja, tudo fora maquinalmente enquadrado por
Brancatti, e Antônio e Inês vítimas. Segundo o juiz, aturdido em face
dos argumentos inusitados – e até esdrúxulos utilizados por ambas
partes, absolve Antônio por falta de provas. As conseqüências do fato:
Antônio perde seu lugar de consultor na fundação cultural do estado, já
afastado do jornal que trabalhava, ruas a índole sensacionalista fez com
que o jornal concorrente o contratasse para ser seu colunista de teatro
e o caso Inês esmiuçado em seus páginas – Antônio foi criticado
severamente por seus colegas como: " exemplo vivo e eloqüente dos
extremos patológicos a que pode ser conduzida uma personalidade que se
destaca pela contenção de seus sentimentos por meio de uma racionalidade
exacerbada, a qual de repente, libera-se através do crime. Brancatti
conquista renome e reconhecimento artístico – a obra A Modelo foi
exibida como instalação com grande alarido crítico, na Alemanha. Quanto à
Nilton abre uma academia de psicultura, bastante concorrida. Antônio
não deixou de considerar o jato ou seja as duas hipóteses sedutoras –
afinal como o próprio tribunal apontou – um sedutor ou violador muito
especial e delicado? Claro sem deixar de lado o escutor que também era -
"nessa tarefa que é narrar todas as contradições, truques e
divergências e conclui. " – tanto na obra de Brancatti ou neste relato –
encontra-se o absurdo, a loucura da arte, essa tentativa ansiosa,
desesperada e as vezes vã, que nos alucina, de, à parte toda vaidade,
registramos, no breve tempo em que estamos na vida, nossa passagem por
ela, em momentos que realmente estivemos vivos e merecem ser
perpetuados. Personagens - Antônio Martins: crítico profissional de
teatro, narrador. Alguns o consideram excêntrico – solitário –
cinquentão. - Maria Inês de Jesus, modelo do pintor Vitório Brancatti,
mulher com rosto de traços finos e delicados, magra, cabelos claros,
encaracolados, de olhar melancólico e solidão recatada com pequeno
defeito na perna – manca. - Vitório Brancatti – pintor que envolveria
Antônio e Inês em suas performances, meia idade, com cabelos revoltos e
grisalhos, vestia-se com a desenvoltura de um jovem, calça jeans e
camiseta branca. - Nílton – motociclista que conduzira Inês ao edifício
de Antônio Martins, provável amante de Vitório Brancatti. - Lenita –
jovem negra, bonita, esposa – álibi de Vitório? - Maria Luísa I –
professora universitária séria, amiga e confidente de Antônio. - Maria
Luísa II – jovem atriz de teatro e tv, atlética e exuberante. - Maria
Clara – ex jornalista, quarentona, também amiga de Antônio. Enredo:
Romance narrado em terceira pessoa. A ação desenvolve-se em Belo
Horizonte e no Rio de Janeiro, trazendo à tona os conflitos de uma
geração em busca da própria identidade e de um sentido para a vida.
Eduardo, protagonista deste drama existencial, sentindo-se esmagado por
uma sociedade opressiva e aniqualadora, tenta desesperadamente, até o
fim, encontrar uma saída. Preste atenção: no misterioso homem de smoking
que por três vezes aparece na narrativa. Estilo: Contemporâneo.
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Um Copo de Cólera - Raduan Nassar
Postado por Marlon às 13:46
Escrita em apenas 15 dias, no ano de
1978, Um copo de cólera é a novela essencial da literatura moderna e
contemporânea. Nas palavras do escritor: "Disse que escrevi a narrativa
em quinze dias, mas esses quinze dias foram só o tempo de descarga. É
que a novela deveria estar em estado de latência na cabeça, e sabe-se lá
quanto tempo levou se carregando, ou se nutrindo - de coisas amenas,
está claro - e se organizando em certos níveis, até que aflorasse à
consciência". Mais uma vez, a exemplo de Lavoura Arcaica, a carga
ideológica opositiva entre amantes - neste caso - marca e dá
consistência à obra de Raduan Nassar. Aqui, não mais um filho
adolescente descobrindo a delinqüência corporal e moral da existência, e
sim um adulto, calcado, machucado pelos reversos do tempo. Seria talvez
esse adulto o adolescente que fora André em Lavoura Arcaica? Muito se
indaga a esse respeito, mas evidências ainda estão por vir à tona para
corroborar a questão. Mas semelhanças, de fato, existem. Na contramão do
discurso ideológico do adulto está sua amante, afeita às causas
sociais, e aos discursos cristalizados da modernidade em geral, lutando
para imprimir seu verbo latente, e vice-e-versa. O estopim do "esporro"
entre os dois se dá num dia aparentemente calmo, após uma convulsiva
noite de sexo, ao se encontrarem na mesa do café, num silêncio
constrangedor, pela manhã. O que tira a ordem do dia é justamente um
bando de formigas que estraga a cerca viva que ele havia feito no
quintal. O impulso voraz com que se envolve com o acontecido provoca na
amante indignação suficiente para indagar a respeito do desvairio. Daí
se cria o terreno propício para o verbo escandalizado vir à tona. Ele se
enlouquece com a organização ordeira das formigas, transportando todo
esse furor à amante que, não menos desvairada, enfrenta a discussão
armada com alfinetes politizados: "Só um idiota recusaria a precariedade
sob controle, sem esquecer que no rolo da vida não interessam os
motivos de cada um - essa questãozinha que vive te fundindo a cuca - o
que conta mesmo é mandar a bola pra frente, se empurra também a história
co'a mão amiga dos assassinos; aliás teus altíssimos níveis de
aspiração, tuas veleidades tolas de perfeccionista tinham mesmo de dar
nisso: no papo autoritário dum reles iconoclasta - o velho macaco na
casa de louças, falando ainda por cima nesse tom trágico como protótipo
duma classe agônica... sai de mim, carcaça" A cólera a que remete o
título da novela corresponde ao fluxo verbal que toma conta das
personagens nesse momento de fúria, onde razão e emoção não mais se
dissociam, e tornam-se, sobretudo, uma massa amorfa que tem como alvo a
destruição do outro, ou ainda, a autodestruição. Como resultado do
embate, restam, nas almas desgastadas, um barulhento silêncio e um
abarrotado vazio.
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
Um Assassinato um Mistério e um Casamento - Mark Twain
Postado por Marlon às 16:20
A obra "Um Assassinato, um Mistério e um
Casamento", do escritor americano Mark Twain, que foi descoberta por um
advogado em 1995, depois de ter ficado durante 50 anos no anonimato em
uma biblioteca dos Estados Unidos, chega agora ao Brasil em livro
lançado pela editora Objetiva. Os originais de "Um Assassinato...",
escrito em 1876, foi arrematado em um leilão, em 1945, por dois homens
que foram impedidos pelos herdeiros do escritor de publicar a história.
Com isso, a obra ficou guardada na biblioteca pública da Universidade de
Búfalo até 1995, quando o advogado Patrick E. Martin a encontrou
enquanto fazia uma pesquisa sobre o acervo do escritor. O livro foi
publicado nos Estados Unidos em junho passado pela revista "Atlantic
Monthly". Twain havia feito um acordo com a revista, há 125 anos, para a
publicação da obra como parte de um projeto. No projeto, Twain queria
que diversos outros escritores criassem a sua própria versão da trama, e
as versões só ficariam conhecidas quando fossem publicadas pela
revista. Mas desse projeto, somente o livro do próprio Twain chegou a
ser escrito. "Um Assassinato..." conta a história de John Cray, um
fazendeiro de 55 anos que desiste de melhorar de vida às custas de seu
próprio trabalho e resolve procurar uma mulher rica para se casar. A
chegada de um novo morador ao seu vilarejo desencadeia uma série de
acontecimentos de desfechos inusitados. Mark Twain nasceu na Flórida, em
1835, e foi autor de obras consagradas como "As Aventuras de Tom
Sawyer", "O Príncipe e o Mendigo" e "Huckleberry Finn". Ele morreu em
1910, em Connecticut.
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Um Apólogo - Machado de Assis
Postado por Marlon às 16:18
Um apólogo (alegoria onde animais e
coisas falam) Pequena história
de vaidade e ciumeira que levam uma agulha e a linha a uma polêmica
acalorada cada uma querendo mostrar a sua superioridade sobre a outra,
na função que estão exercendo de confeccionar um vestido de baile para
uma bela dama da nobreza que tem de ir a um baile. Participam, na
história, como figurantes um alfinete e a costureira. A agulha diz que a
linha esta cheia de si sem razão nenhuma. A linha pede que ela a deixe
em paz e a agulha responde que falará quando lhe der na cabeça. A linha
lembra que agulha não tem cabeça. Quando a agulha diz que é muito mais
importante porque é ela que vai na frente abrindo caminho, a linha
responde que os batedores do imperador também vão à frente e não são
importantes. A agulha se vangloria de estar sempre entre os dedos da
costureira e a linha lembra que terminado o trabalho a agulha vai para a
caixa de costura enquanto ela, a linha, irá para o baile com o lindo
vestido e sua dona. O alfinete parece querer consolar a agulha e lhe diz
que ele não abre caminho e onde o colocam ele fica. O autor termina com
uma lição moral (?) : "Contei esta história a um professor de
melancolia, que me disse, abanando a cabeça: Também eu tenho servido de
agulha a muita linha ordinária!"
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Últimos Sonetos - Cruz e Souza
Postado por Marlon às 16:15
São poemas de Últimos
Sonetos: Piedade, Caminho da Glória, Presa do Ódio, Alucinação,
Vida Obscura, Conciliação, Glória, A Perfeição, Madona da Tristeza, De
Alma em Alma, Ironia de Lágrimas, O Grande Momento, Prodígio, Cogitação,
Grandeza Oculta, Voz Fugitiva, Quando Será?, Imortal Atitude, Livre!,
Cárcere das Almas, Supremo Verbo, Vão Arrebatamento, Benditas Cadeias!,
Único Remédio, Floresce!, Deus do Mal, A Harpa, Almas Indecisas, Celeste
Abrigo, Mudez Perversa, Coração Confiante, Espírito Imortal, Crê!, Alma
Fatigada, Flor Nirvanizada , Feliz, Cruzada Nova, O Soneto, Fogo-
Fátuo, Mundo Inacessível, Consolo Amargo, Vinho Negro, Eternos Atalaias,
Perante a Morte, O Assinalado, Acima de Tudo, Imortal Falerno , Luz da
Natureza, Asas Abertas, Velha Eternidade Retrospectiva, Alma Máter , O
Coração, Invulnerável, Lírio Lutuoso, A Grande Sede, Domus Aurea, Um
Ser, O Grande Sonho, Condenação Fatal, Alma Ferida, Alma Solitária,
Visionários, Demônios, Ódio Sagrado, Exortação, Bondade, Na Luz, Cavador
do Infinito, Santos Óleos, Sorriso Interior, Mealheiro de Almas,
Espasmos, Evocação, No Seio da Terra, Anima Mea, Sempre o Sonho,
Aspiração Suprema, Inefável, Ser dos Seres, Sexta- Feira Santa,
Sentimento Esquisito, Clamor Supremo, Ansiedade, Grande Amor, Silêncios,
A Morte, Só!, Fruto Envelhecido, Êxtase Búdico, Triunfo Supremo, Assim
Seja, Renascimento.
Maturidade
Segundo o professor Lauro Junkes, em o Mito e o Rito, Últimos Sonetos é o livro da maturidade, a quintessência depurada da estética cruzesouseana. Mais do que nos livros anteriores, aqui a linguagem é sempre culta e nobre, esmerada na construção frasal e na seleção vocabular. A estrutura dos sonetos decassílabos é perfeita.
Últimos Sonetos é o livro em que expressa a própria condição existencial do poeta cujos apelos da explosiva carnalidade luxuriosa amenizaram quase que de todo. Os dilaceramentos dramáticos de sua angústia trágica arrefeceram suas erupções revoltosas. E revela-se um poeta essencialmente interiorizado. Constata-se, agora , até uma certa harmonia, um relativo equilíbrio ante o sofrimento, sublimado, dentro duma perspectiva transcendente. A tônica está sempre voltada para a vida interior, a alma, o sentimento, o destino além- matéria.
Persiste ainda a consciência da trágica condição humana (Vida Obscura). A revolta interior não logrou ser totalmente dominada, manifestando-se nos sentimentos de ódio (Presa de Ódio ou Ódio Sagrado). Por isso, impõe-se ainda, irresistível, o apelo tão freqüente do sonho, com toda sua carga de ilusoriedade, de evasão, de compensação (O Grande Sonho ou Sempre o Sonho), ou então impõe-se a inclinação e inebriante atração pelo vinho, a "sede de falerno" (Vinho Negro e Imortal Falerno).
Vida Obscura
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-se mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto.
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu, que sempre te segui os passos,
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
Transcendência
Entretanto, acima de todos os outros sentimentos carnais, sensoriais e mundanos, impõe-se "a grande sede" do Amor Infinito, a "aspiração suprema", a "ansiedade" do Cavador do Infinito, que espera O Grande Momento em que, "longe de tudo" e liberto do Cárcere das Almas, o espírito esteja "livre" e possa, "para sempre", realizar seu Triunfo Supremo. Profundamente desiludido deste mundo material e concreto, inclina-se o poeta, irresistivelmente, para um universo superior, transcendente, vagamente místico e espiritual.
Texto I
Cárcere das Almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?
A alma - e talvez seja preciso reafirmar explicitamente que a alma é o cerne, a realidade quase única, a obsessão de Últimos Sonetos, referindo-se praticamente todos os sonetos a essa essência espiritual, razão de ser superior do homem, único valor nobre, sublime e transcendente do ser humano, preocupação última que deve angustiar a existência humana - a alma, que é espiritual, tende constantemente a purificar-se, a libertar-se da "vã matéria". Exilada no mundo, presa ao "cárcere" que é a materialidade.
Antologia
Texto I
Madona da Tristeza
Quando te escuto e te olho reverente
E sinto a tua graça triste e bela
De ave medrosa, tímida, singela,
Fico a cismar entermecidamente.
Tua voz, teu olhar, teu ar dolente
Toda a delicadeza ideal revela
E de sonhos e lágrimas estrela
O meu ser comovido e penitente.
Com que mágoa te adoro e te contemplo,
Ó da Piedade soberano exemplo,
Flor divina e secreta da Beleza.
Os meus soluços enchem os espaços
Quando te aperto nos estreitos braços,
Solitária madona da tristeza!
Este soneto também foi inspirado pela esposa do poeta
Texto II
De Alma em Alma
Tu andas de alma em alma errando, errando,
Como de santuário em santuário.
És o secreto e místico templário
As almas, em silêncio, contemplando.
Não sei que de harpas há em ti vibrando,
Que sons de peregrino estradivário
Que lembras reverências de sacrário
E de vozes celestes murmurando.
Mas sei que de alma em alma andas perdido
Atrás de um belo mundo indefinido
De silêncio, de Amor, de Maravilha.
Vai! Sonhador das nobres reverências!
A alma da Fé tem dessas florescências,
Mesmo da Morte ressuscitou e brilha!
Texto III
O Grande Momento
Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que vão te consagrar Artista.
Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os ativos sentidos requintados.
Céus mais céus e céus transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.
Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d´esplendor sidéreo.
Borboletas de sol, surge da lesma...
Oh! Vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!
Texto IV
Deus do Mal
Espírito do Mal, ó deus perverso
Que tantas almas dúbias acalentas,
Veneno tentador na luz disperso
Que a própria luz e a própria sombra tentas.
Símbolo atroz das culpas do Universo,
Espelho fiel das convulsões violentas
Do gasto coração no lodo imerso
Das tormentas vulcânicas, sangrentas.
Toda a tua sinistra trajetória
Tem um brilho de lágrima ilusório,
As melodias mórbidas do Inferno...
És Mal, mas sendo Mal és soluçante,
Sem a graça divina e consolante,
Réprobo estranho do Perdão eterno!
Texto V
Almas Indecisas
Almas ansiosas, trêmulas, inquietas,
Fugitivas abelhas delicadas
Das colméias de luz das alvoradas,
Almas de melancólicos poetas.
Que dor fatal e que emoções secretas
Vos tornam sempre assim desconsoladas,
Na pungência de todas as espadas,
Na dolência de todos os ascetas?!
Nessa esfera em que andas, sempre indecisa,
Que tormento cruel vos nirvaniza,
Que agonias titânicas são essas?!
Por que não vindes, Almas imprevistas
Para a missão das límpidas Conquistas
E das augustas, imortais Promessas?!
Texto VI
O Soneto
Nas formas voluptuosas o Soneto
Tem fascinante, cálida fragrância
E as leves, langues curvas de elegância
De extravagante e mórbido esqueleto.
A graça nobre e grave do quarteto
Recebe a original intolerância.
Toda a sutil, secreta extravagância
Que transborda terceto por terceto..
E como um singular polichinelo
Ondula, ondeia, curioso e belo,
O Soneto, nas formas caprichosas.
As rimas dão-lhe a púrpura vetusta
E na mais rara procissão augusta
Surge o Sonho das almas dolorosas ...
Texto que revela a também maturidade artística do poeta; consciência do fazer artístico.
Texto VII
Demônios
A língua vil, ignívoma, purpúrea
Dos pecados mortais bava e braveja,
Com os seres impoluídos mercadeja,
Mordendo os fundo injúria por injúria.
É um grito infernal de atroz luxúria,
Dor de danados, dor do Caos que almeja
A toda alma serena que viceja,
Só fúria, fúria, fúria, fúria, fúria!
São pecados mortais feitos hirsutos
Demônios maus que os venenosos frutos
Morderam com volúpia de quem ama...
Vermes da Inveja, a lesma verde e oleosa,
Anões da Dor torcida e cancerona,
Abortos de almas a sangrar na lama!
Texto VIII
Assim Seja
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Dever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.
Morre com a alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um gládio soberbo e refulgente.
Vai abrindo sacrário por sacrário
Do teu Sonho no templo imaginário,
Na hora glacial da negra Morte imensa...
Morre com o teu Dever! Na lata confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!
São numerosíssimos os que hoje têm de cor este soneto, de irresistível sentimento de beleza.
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Maturidade
Segundo o professor Lauro Junkes, em o Mito e o Rito, Últimos Sonetos é o livro da maturidade, a quintessência depurada da estética cruzesouseana. Mais do que nos livros anteriores, aqui a linguagem é sempre culta e nobre, esmerada na construção frasal e na seleção vocabular. A estrutura dos sonetos decassílabos é perfeita.
Últimos Sonetos é o livro em que expressa a própria condição existencial do poeta cujos apelos da explosiva carnalidade luxuriosa amenizaram quase que de todo. Os dilaceramentos dramáticos de sua angústia trágica arrefeceram suas erupções revoltosas. E revela-se um poeta essencialmente interiorizado. Constata-se, agora , até uma certa harmonia, um relativo equilíbrio ante o sofrimento, sublimado, dentro duma perspectiva transcendente. A tônica está sempre voltada para a vida interior, a alma, o sentimento, o destino além- matéria.
Persiste ainda a consciência da trágica condição humana (Vida Obscura). A revolta interior não logrou ser totalmente dominada, manifestando-se nos sentimentos de ódio (Presa de Ódio ou Ódio Sagrado). Por isso, impõe-se ainda, irresistível, o apelo tão freqüente do sonho, com toda sua carga de ilusoriedade, de evasão, de compensação (O Grande Sonho ou Sempre o Sonho), ou então impõe-se a inclinação e inebriante atração pelo vinho, a "sede de falerno" (Vinho Negro e Imortal Falerno).
Vida Obscura
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-se mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto.
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu, que sempre te segui os passos,
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
Transcendência
Entretanto, acima de todos os outros sentimentos carnais, sensoriais e mundanos, impõe-se "a grande sede" do Amor Infinito, a "aspiração suprema", a "ansiedade" do Cavador do Infinito, que espera O Grande Momento em que, "longe de tudo" e liberto do Cárcere das Almas, o espírito esteja "livre" e possa, "para sempre", realizar seu Triunfo Supremo. Profundamente desiludido deste mundo material e concreto, inclina-se o poeta, irresistivelmente, para um universo superior, transcendente, vagamente místico e espiritual.
Texto I
Cárcere das Almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?
A alma - e talvez seja preciso reafirmar explicitamente que a alma é o cerne, a realidade quase única, a obsessão de Últimos Sonetos, referindo-se praticamente todos os sonetos a essa essência espiritual, razão de ser superior do homem, único valor nobre, sublime e transcendente do ser humano, preocupação última que deve angustiar a existência humana - a alma, que é espiritual, tende constantemente a purificar-se, a libertar-se da "vã matéria". Exilada no mundo, presa ao "cárcere" que é a materialidade.
Antologia
Texto I
Madona da Tristeza
Quando te escuto e te olho reverente
E sinto a tua graça triste e bela
De ave medrosa, tímida, singela,
Fico a cismar entermecidamente.
Tua voz, teu olhar, teu ar dolente
Toda a delicadeza ideal revela
E de sonhos e lágrimas estrela
O meu ser comovido e penitente.
Com que mágoa te adoro e te contemplo,
Ó da Piedade soberano exemplo,
Flor divina e secreta da Beleza.
Os meus soluços enchem os espaços
Quando te aperto nos estreitos braços,
Solitária madona da tristeza!
Este soneto também foi inspirado pela esposa do poeta
Texto II
De Alma em Alma
Tu andas de alma em alma errando, errando,
Como de santuário em santuário.
És o secreto e místico templário
As almas, em silêncio, contemplando.
Não sei que de harpas há em ti vibrando,
Que sons de peregrino estradivário
Que lembras reverências de sacrário
E de vozes celestes murmurando.
Mas sei que de alma em alma andas perdido
Atrás de um belo mundo indefinido
De silêncio, de Amor, de Maravilha.
Vai! Sonhador das nobres reverências!
A alma da Fé tem dessas florescências,
Mesmo da Morte ressuscitou e brilha!
Texto III
O Grande Momento
Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que vão te consagrar Artista.
Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os ativos sentidos requintados.
Céus mais céus e céus transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.
Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d´esplendor sidéreo.
Borboletas de sol, surge da lesma...
Oh! Vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!
Texto IV
Deus do Mal
Espírito do Mal, ó deus perverso
Que tantas almas dúbias acalentas,
Veneno tentador na luz disperso
Que a própria luz e a própria sombra tentas.
Símbolo atroz das culpas do Universo,
Espelho fiel das convulsões violentas
Do gasto coração no lodo imerso
Das tormentas vulcânicas, sangrentas.
Toda a tua sinistra trajetória
Tem um brilho de lágrima ilusório,
As melodias mórbidas do Inferno...
És Mal, mas sendo Mal és soluçante,
Sem a graça divina e consolante,
Réprobo estranho do Perdão eterno!
Texto V
Almas Indecisas
Almas ansiosas, trêmulas, inquietas,
Fugitivas abelhas delicadas
Das colméias de luz das alvoradas,
Almas de melancólicos poetas.
Que dor fatal e que emoções secretas
Vos tornam sempre assim desconsoladas,
Na pungência de todas as espadas,
Na dolência de todos os ascetas?!
Nessa esfera em que andas, sempre indecisa,
Que tormento cruel vos nirvaniza,
Que agonias titânicas são essas?!
Por que não vindes, Almas imprevistas
Para a missão das límpidas Conquistas
E das augustas, imortais Promessas?!
Texto VI
O Soneto
Nas formas voluptuosas o Soneto
Tem fascinante, cálida fragrância
E as leves, langues curvas de elegância
De extravagante e mórbido esqueleto.
A graça nobre e grave do quarteto
Recebe a original intolerância.
Toda a sutil, secreta extravagância
Que transborda terceto por terceto..
E como um singular polichinelo
Ondula, ondeia, curioso e belo,
O Soneto, nas formas caprichosas.
As rimas dão-lhe a púrpura vetusta
E na mais rara procissão augusta
Surge o Sonho das almas dolorosas ...
Texto que revela a também maturidade artística do poeta; consciência do fazer artístico.
Texto VII
Demônios
A língua vil, ignívoma, purpúrea
Dos pecados mortais bava e braveja,
Com os seres impoluídos mercadeja,
Mordendo os fundo injúria por injúria.
É um grito infernal de atroz luxúria,
Dor de danados, dor do Caos que almeja
A toda alma serena que viceja,
Só fúria, fúria, fúria, fúria, fúria!
São pecados mortais feitos hirsutos
Demônios maus que os venenosos frutos
Morderam com volúpia de quem ama...
Vermes da Inveja, a lesma verde e oleosa,
Anões da Dor torcida e cancerona,
Abortos de almas a sangrar na lama!
Texto VIII
Assim Seja
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Dever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.
Morre com a alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um gládio soberbo e refulgente.
Vai abrindo sacrário por sacrário
Do teu Sonho no templo imaginário,
Na hora glacial da negra Morte imensa...
Morre com o teu Dever! Na lata confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!
São numerosíssimos os que hoje têm de cor este soneto, de irresistível sentimento de beleza.
Última corrida de touros em Salvaterra - Rebelo da Silva
Postado por Marlon às 16:14Passa-se durante o reinado de D. José I,
governo do Marquês de Pombal. Enquanto o Marquês declara guerra à
Espanha D. José se diverte com tourada com os nobres. O conde dos Arcos
morre enquanto toureando e seu velho pai, o Marquês de Marialva, desce
da tribuna e enfrenta suicidamente o touro. Ele vence, no entanto, e
quando o Marquês de Pombal chega, ele consola o de Marialva e pede ao
rei que acabe com as touradas. D. José o faz.
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Ubirajara - José de Alencar
Postado por Marlon às 16:12
Esta obra trata-se da formação da grande nação Ubirajara. Jaguarê , um caçador da nação araguaia procura um inimigo terrível para vencê-lo em combate de morte e ganhar nome de guerra. Para conseguir essa façanha, ele deixa sua taba e a presença de Jandira, sua futura esposa. Depois de alguns dias na selva, à beira do rio Tocantins-Araguaia, onde a nação Tocantim dominava, ele encontra Araci, filha desta valente nação. Jaguari propõe a Araci que retorne a sua nação e “diga aos seus guerreiros que eu os desafio ao combate”. Mas, antes de Araci retornar, Pojucã, seu irmão, encontra com Jaguarê que propõe um combate leal. Depois de muito tempo de combate, os dois perceberam que eram iguais em força e valentia e se convenceram que nenhum derrubaria o outro, e para finalizar, eles resolveram disputar uma corrida. Quem chegasse primeiro na lança venceria o combate. Os dois tocaram juntos na lança, porém, esta ficou na mão de Pojucã. Ao arremessar a lança para matar Jaguarê, ela se voltou contra Pojucã e esse recebeu-a no peito. Logo, Jaguarê se torna o vencedor, leva Pojucã como prisioneiro para a festa da vitória, onde será reconhecido como Ubirajara. Na festa a nação araguaia, depois de Pojucã relatar o feito heróico de Ubirajara, Camacã, o grande chefe da nação araguaia e pai de Ubirajara, reconhece que seu filho passou por uma grande prova e o nomeou chefe da nação. Com a nomeação de guerreiro, Ubirajara no dia seguinte pegaria Jandira e a levaria para a cabana nupcial. Como Ubirajara não apareceu, ela partiu em busca de seu noivo. Na noite anterior, Ubirajara sonhara com Araci e foi ao seu encontro, sendo interrompido por Jandira. Então, ele disse a Jandira que ainda não escolhera o seio que geraria seu primeiro filho. Sendo um ritual, Ubirajara escolhe uma esposa digna de acompanhar o herói inimigo nos seus últimos dias e ter um filho de guerra, e Jandira foi a escolhida. Inconformada com a decisão e com o abandono, sujeitava-se a morte, por isso, fugira da cabana de Pojucã, antes da volta de Ubirajara para matar o prisioneiro. Ao chegar à grande taba dos Tocantins, como hóspede Ubirajara é acolhido por Itaquê o grande chefe dos Tocantins. Sendo de costume ele não poderia perguntar a origem nem o nome do hóspede. Então, Ubirajara tinha que escolher um nome, e o nome escolhido foi Jurandir. Araci avistou o caçador araguaia e adivinhou que ele viera a cabana de Itaquê para disputar sua beleza aos guerreiros Tocantins. Foram feitas muitas festas para o estrangeiro, mas, através da Lei de Hospitalidade, Araci não podia revelar o segredo do visitante. Depois de festas, Jurandir, conduzido pela virgem foi ao encontro de Itaquê, dizendo que viera servir ao pai de Araci, pois queria disputar aos outros guerreiros o seio de esposa de Araci. A partir daí, Jurandir deixou de ser estrangeiro e passou a fazer parte da cabana de Itaquê como servo do amor, trabalhando para o pai de sua noiva. Jurandir era o maior caçador e o melhor pescador, tudo estava em abundância na cabana do chefe dos Tocantins. Quando Araci foi procurar as plumas para fazer o cocar do amor, encontrou-se com Jandira. Araci quase foi atacada por Jandira, mas Jurandir chegou a tempo de impedir. Então, ele amarrou a mão de Jandira e as deixou a sós. Ficaram então competindo e defendendo o amor por Ubirajara. Depois de algum tempo, Araci desata os braços de Jandira e dá a ela a liberdade. Chega o dia do combate nupcial, os noivos de Araci estavam disputando sua posse. Depois de muitas provas típicas do costume indígena, Jurandir se consagra vencedor, mas antes de receber a esposa, devia declarar quem era, pois fora recebido como visitante e ninguém o conhecia. Itaquê pede a Jurandir que se identifique, pois ele não deixaria sua filha Araci, entrar numa taba onde habituasse quem tivesse ofendido um só de seus guerreiros. Sendo assim Jurandir se apresenta-se como Ubirajara, o chefe da grande nação Araguaia. Contou aos Tocantins o seu encontro com Pojucã, o combate que o venceu e que voltara no sol seguinte para assistir ao combate da morte. Nisso, Itaquê reconhece o matador de seu filho Pojucã, que havia partido para rastejar a marcha dos Tapuias. Mas não podia vingar seu filho pois o matador era seu hóspede e não admite que sua esposa Jacamim chore na frente de Jurandir o matador de seu filho. Itaquê disse a Ubirajara que nunca iria ofendê-lo em sua taba pela lei da hospitalidade e despede-se dele. Ubirajara ao partir propõe a guerra à Itaquê como inimigo, pois queria restituir a sua esposa. Então, Ubirajara vai até a sua nação buscar seus guerreiros, nisso liberta Pojucã e dá a ele a chance de lutar com sua nação. Depois de cinco sois, o chefe dos Araguaias volta à taba dos Tocantins, mas, antes de chegar encontra-se com os Tapuias que iam vingar Pojucã que havia incendiado a taba dos Tapuias. Como não era certo lutar as três tribos ao mesmo tempo , Itaquê, Ubirajara e Canicrã decidem que o vencedor de Tocantins X Tapuias iria combater com os Araguaias. Durante o combate entre Canicrã e Itaquê, Itaquê é atingido nos olhos por Pãa e atinge Canicrã, arrancando-lhe a cabeça. Então Ubirajara viu-se sem os guerreiros para vencer, mas viu Pãa, e mandou que Abeguar o apanhasse para ser escravo de Itaquê. Nisso, a nação Tocantim ficou sem o grande guerreiro Itaquê que ficara cego. Os Tapuias voltaram, com Agná à frente de sua nação, para vingar a morte de Canicrã seu irmão. Mas os Tocantins estavam sem um grande chefe que pudesse abrir-lhes o caminho da guerra já que Itaquê estava cego e Pojucã não agüentava brandir o arco de seu pai e jamais empunharia outro arco chefe menos glorioso. Então, com sua experiência Itaquê pede a Ubirajara e propôs a ele que empunhasse o arco de Itaquê e conquistasse por heroísmo uma esposa e uma nação. Então Ubirajara uniu a nação dos Tapuias e formou a grande nação dos Ubirajaras tendo duas esposas, Araci pelos Tocantins e Jandira pelos Araguaias que seriam mães de seus filhos.
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sábado, 25 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Tutaméia - João Guimarães Rosa
Postado por Marlon às 09:55
Aqui está, o último livro do escritor,
Tutaméia, publicado poucos meses antes da sua morte, a exigir leitura e
reflexão. Por mais que o procure encarar como mero texto literário,
desligado de contingências pessoais, apresenta-se com agressiva
vitalidade, evocando inflexões de voz, jeitos e maneiras de ser do homem
e amigo. A leitura de qualquer página sua é um conjuro. Como entender o
título do livro? No Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa
encontramos tuta-e-meia definida por mestre Aurélio como "ninharia,
quase nada, preço vil, pouco dinheiro". Numa glosa da coletânea o
próprio contista confirma a identidade dos dois termos, juntando-lhes
outros equivalentes pitorescos, tais como "nonada, baga, ninha, inânias,
ossos de borboleta, quiquiriqui, mexinflório, chorumela, nica".
Atribuiria ele realmente tão pouco valor ao volume fórmula como
antífrase carinhosa e, talvez, até supersticiosa? Inclino-me para esta
última suposição. Em conversa comigo (numa daquelas conversas
esfuziantes, estonteantes, enriquecedoras e provocadoras que tanta falta
me hão de fazer pela vida afora), deixando de lado o recato da
despretensão, ele me segredou que dava a maior importância a este livro,
surgido em seu espírito como um todo perfeito não obstante o que os
contos necessariamente tivessem de fragmentário. Entre estes havia
inter-relações as mais substanciais, as palavras todas eram medidas e
pesadas, postas no seu exato lugar, não se podendo suprimir ou alterar
mais de duas ou três em todo o livro sem desequilibrar o conjunto. A
essa confissão verbal acresce outra, impressa no fim da lista dos
equivalentes do título, como mais uma equação: "meaomnia'". Essa
etimologia, tão sugestiva quanto inexata, faz tutaméia vocábulo mágico
tipicamente rosiano, confirmando a asserção de que o ficcionista pôs no
livro muito, senão tudo, de si. Mas também em nenhum outro livro seu
cerceia o humor a esse ponto as efusões, ficando a ironia em permanente
alerta para policiar a emoção. – Por que Terceiras estórias –
perguntei-lhe – se não houve as segundas? – Uns dizem: porque escritas
depois de um grupo de outras não incluídas em Primeiras estórias. Outros
dizem: porque o autor, supersticioso, quis criar para si a obrigação e a
possibilidade de publicar mais um volume de contos, que seriam então as
Segundas estórias. – E que diz o autor? – O autor não diz nada –
respondeu Guimarães Rosa com uma risada de menino grande, feliz por ter
atraído o colega a uma cilada. Mostrou-me depois o índice no começo do
volume, curioso de ver se eu lhe descobria o macete. – Será a ordem
alfabética em que os títulos estão arrumados – Olhe melhor: há dois que
estão fora da ordem. – Por quê? – Senão eles achavam tudo fácil. "Eles"
eram evidentemente os críticos. Rosa, para quem escrever tinha tanto de
brincar quanto de rezar, antegozava-lhes a perplexidade encontrando
prazer em aumentá-la. Dir-se-ia até que neste volume quis adrede
submetê-los a uma verdadeira corrida de obstáculos. Seria esse o motivo
principal da multiplicação dos prefácios, de que o livro traz não um,
mas quatro? Prefácio por definição é o que antecede uma obra literária.
Mas no caso do leitor que não se contenta com uma leitura só, mesmo um
prefácio colocado no fim poderá ter serventia. Estórias à primeira
vista, num segundo relance os prefácios hão de revelar uma mensagem.
Juntos compõem ao mesmo tempo uma profissão de fé e uma arte poética em
que o escritor, através de rodeios, voltas e perífrases, por meio de
alegorias e parábolas, analisa o seu gênero, o seu instrumento de
expressão, a natureza da sua inspiração, a finalidade da sua arte, de
toda arte. Assim "Aletria e hermenêutica" é pequena antologia de
anedotas que versam o absurdo; mas é, outrossim, uma definição de
"estória" no sentido especificamente guimaraes-rosiano, constante de
mostruário e teoria que se completam. Começando por propor uma
classificação dos subgêneros do conto, limita-se o autor a apontar
germes de conto nas "anedotas de abstração", isto é, nas quais a
expressão verbal acena a realidades inconcebíveis pelo intelecto. Suas
estórias, portanto, são "anedóticas" na medida em que certas anedotas
refletem, sem querer, "a coerência do mistério geral que nos envolve e
cria" e faz entrever "o supra-senso das coisas". "Hipotrélico" aparece
como outra antologia, desta vez de divertidas e expressivas inovações
vocabulares, não lhe faltando sequer a infalível anedota do português. E
é a discussão, às avessas, do direito que tem o escritor de criar
palavras, pois o autor finge combater "o vezo de palavrizar", retomando
por sua conta os argumentos de que já se viu acossado como deturpador do
vernáculo e levando-os ao absurdo: põe maliciosamente a vista as
inconseqüências dos que professam a partenogênese da língua e se pasmam
ante os neologismos do analfabeto, mas se opõem a que "uma palavra nasça
do amor da gente", assim "como uma borboleta sai do bolso da paisagem".
A "glosação em apostilas" que segue esta página reforça-lhe a aparência
pilhérica, mas em Guimarães Rosa zombaria e pathos são como o reverso e
o anverso da mesma medalha. O primeiro "prefácio" bastou para nos fazer
compreender que em suas mãos até o trocadilho vira em óculo para espiar
o invisível. "Nós os temulentos" deve ser mais que simples anedota de
bêbado, como se nos depara. Conta a odisséia que para um borracho
representa a simples volta a casa. Porém os embates nos objetos que lhe
estorvam o caminho envolvem-no em uma sucessão de prosopopéias, fazendo
dele, em rivalidade com esse outro temulento que é o poeta, um agente de
transfigurações do real. Finalmente confissões das mais íntimas apontam
nos sete capítulos de Sobre a escova e a dúvida, envolvidas não em
disfarces de ficção, como se dá em tantos narradores, mas, poeticamente,
em metamorfoses léxicas e sintáticas. É o próprio ficcionista que
entrevemos de início num restaurante chic de Paris a discutir com um
alter ego, também escritor, também levemente chumbado, que lhe censura o
alheamento a realidade: "Você evita o espirrar e o mexer da realidade,
então foge-não-foge." Surpreendidos de se encontrarem face a face, os
dois eus encaram-se reciprocamente como personagens saídas da própria
imaginativa, perturbados e ao mesmo tempo encantados com a sua
"sociedade" (sic!), tecendo uma palestra rapsódica de ébrios em que o
tema do engagement ressurge volta e meia como preocupação central. O
Rosa comprometido sugere ao Rosa alheado escreverem um livro juntos;
este não lhe responde a não ser através da ironia discreta com que
sublinha o contraste do ambiente luxuoso com o ideal "da rude redenção
do povo". Mas a resposta é acusação de alheamento deve ser buscada
também e sobretudo nos capítulos seguintes. Em primeiro lugar, põe-se em
dúvida a natureza da realidade através da parábola da mangueira, cada
fruta da qual reproduz em seu caroço o mecanismo de outra mangueira; e o
inacessível nos elementos mais óbvios do cotidiano real e aduzido,
afirmado, exemplificado. Depois de tentar encerrar em palavras o cerne
de uma experiência mística, sua, o autor procura captar e definir os
eflúvios de um de seus dias "aborígenes" a oscilar incessantemente entre
azarado e feliz, até enredá-lo numa decisão irreparável. Possivelmente
há em tudo isto uma alusão à reduzida influência de nossa vontade nos
acontecimentos, as decorrências totalmente imprevisíveis de nossos atos.
A seguir, evoca o escritor o seu primeiro inconformismo de menino em
discordância com o ambiente sobre um assunto de somenos, o uso racional
da escova de dentes; o que explicaria a sua não-participação numa época
em que a participação do escritor é palavra de ordem. Nisto, passa a
precisar (ou antes a circunscrever) a natureza subliminar e
supraconsciente da inspiração, trazendo como exemplo a gênese de várias
de suas obras, precisamente as de mais valor, antes impostas do que
projetadas de dentro para fora. Para arrematar a série de confidências,
faz-se o contista intermediário da lição de arte que recebeu de um
confrade não sofisticado, o vaqueiro poeta em companhia de quem seguira
as passadas de uma boiada. Ao contar ao trovador sertanejo o esboço de
um romance projetado, este lhe exprobrou decididamente o plano (talvez,
excogitado de parceria com o sósia de Montmartre), numa condenação
implícita da intencionalidade e do realismo: "Um livro a ser certo devia
de se confeiçoar da parte de Deus, depor paz para todos." Arrependido
de tanto haver revelado de suas intuições, o escritor, noutro esforço de
despistamento, completou o quarto e último prefácio com um glossário de
termos que nele nem figuram, mas que representam outras tantas
idiossincrasias suas, ortográficas e fonéticas, a exigir emendas nos
repositórios da língua. Absorvidos pelos prefácios, ei-nos apenas no
limiar dos quarenta contos merecedores de outra tentativa de abordagem.
Quantas vezes, mesmo nesta breve cabra-cega preliminar, terei passado ao
lado das intenções esquivas do contista, quantas vezes as suas negaças
me terão levado a interpretações erradas? Só poderia dizê-lo quem não
mais o pode dizer; mas será que o diria? Descontados os quatro
prefácios, Tutaméia, de Guimarães Rosa, contém quarenta "estórias"
curtas, de três a cinco páginas, extensão imposta pela revista em que a
maioria (ou todas) foram publicadas. Longe de constituir um convite à
ligeireza, o tamanho reduzido obrigou o escritor a excessiva
concentração. Por menores que sejam, esses contos não se aproximam da
crônica; são antes episódios cheios de carga explosiva, retratos que
fazem adivinhar os dramas que moldaram as feições dos modelos, romances
em potencial comprimidos ao máximo. Nem desta vez a tarefa do leitor é
facilitada. Pelo contrario, quarenta vezes ha de embrenhar-se em novas
veredas, entrever perspectivas cambiantes por trás do emaranhado de
outros tantos silvados. Adotando a forma épica mais larga ou gênero mais
epigramático, Guimarães Rosa ficava sempre (e cada vez mais) fiel à sua
fórmula, só entregando o seu legado e recado em troca de atenção e
adesão totais. A unidade dessas quarenta narrativas está na
homogeneidade do cenário, das personagens e do estilo. Todas elas se
desenrolam diante dos bastidores das grandes obras anteriores; as
estradas, os descampados, as matas, os lugarejos perdidos de Minas, cuja
imagem se gravara na memória do escritor com relevo extraordinário.
Cenários ermos e rústicos, intocador pelo progresso, onde a vida
prossegue nos trilhos escavados por uma rotina secular, onde os
sentimentos, as reações e as crenças são os de outros tempos. Só por
exceção aparece neles alguma pessoa ligada ao século XX, à civilização
urbana e mecanizada; em seus caminhos sem fim, topamos com vaqueiros,
criadores de cavalos, caçadores, pescadores, barqueiros, pedreiros,
cegos e seus guias, capangas, bandidos, mendigos, ciganos, prostitutas,
um mundo arcaico onde a hierarquia culmina nas figuras do fazendeiro, do
delegado e do padre. A esse mundo de sua infância o narrador mantém-se
fiel ainda desta vez; suas andanças pelas capitais da civilização, seus
mergulhos nas fontes da cultura aqui tampouco lhe forneceram temas ou
motivos, o muito que vira e aprendera pela vida afora serviu-lhe apenas
para aguçar a sua compreensão daquele universo primitivo, para captar e
transmitir-lhe a mensagem com mais perfeição. Através dos anos e não
obstante a ausência, o ambiente que se abrira para seus olhos
deslumbrados de menino conservou sempre para ele suas cores frescas e
mágicas. Nunca se rompeu a comunhão entre ele e a paisagem, os bichos e
as plantas e toda aquela humanidade tosca em cujos espécimes ele amiúde
se encarnava, partilhando com eles a sua angustia existencial. A cada
volta do caminho suas personagens humildes, em luta com a expressão
recalcitrante, procuram definir-se, tentam encontrar o sentido da
aventura humana: "Viver é obrigação sempre imediata"; "Viver seja talvez
somente guardar o lugar de outrem, ainda diferente, ausente." "A gente
quer mas não consegue furtar no peso da vida." "Da vida sabe-se: o que a
ostra percebe do mar e do rochedo." "Quem quer viver, faz mágica." A
transliteração desse universo opera-se num estilo dos mais sugestivos,
altamente pessoal e no entanto determinado em sua essência pelas
tendências dominantes, às vezes contraditórias, da fala popular. O
pendor do sertanejo para o lacônico e sibilino, o pedante e o
sentencioso, o tautológico e o eloqüente, a facilidade com que adapta o
seu cabedal de expressões as situações cambiantes, sua inconsciente
preferência pelos subentendidos e elipses, seu instinto de enfatizar,
singularizar e impressionar são aqui transformados em processos
estilisticos. Na realidade o neologismo desempenha nesse estilo papel
menor do que se pensa. Inúmeras vezes julga-se surpreender o escritor em
flagrante de criação léxica, recorre-se, porém, ao dicionário, lá
estará o vocábulo insólito (acamonco, alarife, avejão, brujajara, cara
fuz, chuchorro, esmar, ganja, grinfo, gueta, jaganata, marupiara,
nomina, panema, pataratesco, quera, safio, seresma, sessil, uca,
vogoroca etc) rotulado de regionalismo, plebeísmo, arcaísmo ou
brasileirismo, outras vezes, não menos freqüentes, a palavra nova
representa apenas uma utilização das disponibilidades da língua,
registrada por uma memória privilegiada ou esguichada pela linspiração
do momento (associoso, borralheirar, convidatividade, de extraordem,
inaudimento, infinição, inteligentudo, inventação, mal-entender-se,
mirificacia, orabolas deles!, reflor!, reminisção etc) Com freqüência
bem menor há, afinal, as criações de inegável cunho individual, do tipo
dos amálgamas, abusufruto, fraternura, lunático de mel, metalurgir,
orfandade, psiquepiscar, utopiedade com que o espírito lúdico se compraz
a matizar infinitamente a língua. Porém, as maiores ousadias desse
estilo, as que o tornam por vezes contundente e hermético são
sintáticas: as frases de Guimarães Rosa carregam-se de um sentido
excedente pelo que não dizem, num jogo de anacolutos, reticências e
omissões de inspiração popular, cujo estudo está por fazer. Estonteado
pela multiplicidade dos temas, a polifonia dos tons, o formigar de
caracteres, o fervilhar de motivos, o leitor naturalmente há de, no fim
do volume, tentar uma classificação das narrativas. é provável que a
ordem alfabética de sua colocação dentro do livro seja apenas um
despistamento e que a sucessão delas obedeça a intenções ocultas. Uma
destas será provavelmente a alternância, pois nunca duas peças
semelhantes se seguem. A instantâneos mal esboçados de estados de alma
sucedem densas microbiografias; a patéticos atos de drama rápidas cenas
divertidas; incidentes banais do dia-a-dia alternam com episódios
lírico-fantásticos. Entre os muitos critérios possíveis de arrumação
vislumbra-se-me um sugerido pelo que, por falta de melhor termo,
denominaria de atonímia metafísica. Essa figura estilística, de mais a
mais freqüente nas obras do nosso autor, surge em palavras que não
indicam manifestação do real e sim abstrações opostas a fenômenos
percebíveis pelos sentidos, tais como: antipesquisas, acronologia,
desalegria, improrrogo, irriticencia, desverde, incogitante, descombinar
(com alguém), desprestar (atenção), inconsiderar, indestruir,
inimaginar, irrefotar-se etc, ou em frases como "Tinha o para não ser
célebre." Dentro do contexto, tais expressões claramente indicam algo
mais do que a simples negação do antônimo: aludem a uma nova modalidade
de ser ou de agir, a manifestações positivas do que não é. Da mesma
forma, na própria contextura de certos contos o inexistente entremostra a
vontade de se materializar. Em conversa ociosa, três vaqueiros inventam
um boi cuja idéia há de lhes sobreviver consolidada em mito incipiente
("Os três homens e o boi"). Alguém, agarrado a um fragmento de frase que
lhe sobrenada na memória, tenta ressuscitar a mocidade esquecida ("Lá
nas campinas"). Ameaça demoníaca de longe, um touro furioso se revela,
visto de perto, um marrua manso ("Hiato"). Noutras peças, o que não é
passa a influir efetivamente no que é, a moldá-lo, a mudar-lhe a feição.
O amante obstinado de uma megera, ao morrer, transmite por um instante
aos demais a enganosa imagem que dela formara "Reminisção"). A idéia da
existência, longe, de um desconhecido benfazejo ajuda um desamparado a
safar-se de suas crises ("Rebimba o bom"). Um rapaz ribeirinho
consome-se de saudades pela outra margem do rio, até descobrir o mesmo
mistério na moça que o ama ("Ripuaria"). Alguém ("João Porém, o criador
de perus") cria amor e mantém-se fiel a uma donzela inventada por
trocistas. Num terceiro grupo de estórias por trás do enredo se delineia
outra que poderia ter havido, a alternativa mais trágica a
disponibilidade do destino. O povo de um lugarejo livra-se astutamente
de um forasteiro doente em quem se descobre perigoso cangaceiro ("Barra
de Vaca"). Um caçador vindo da cidade com intuito de pesquisas escapa
com solércia há armadilhas que lhe prepara a má vontade do hospedeiro
bronco ("Como ataca a sucuri"). Enganado duas vezes, um apaixonado
prefere perdoar à amada e, para depois viverem felizes, reabilita a
fugitiva com paciente labor junto aos vizinhos ("Desenredo"). Noutros
contos o desenlace não e um "desenredo", mas uma solução totalmente
inesperada. Atos e gestos produzem resultados incalculáveis num mundo
que escapa às leis da causalidade: daí a multidão de milagres esperando a
sua vez em cada conto. Por entender de través uma frase de sermão, um
lavrador ("Grande Gedeão") pára de trabalhar; e melhora de sorte. Um
noivo amoroso que sonhava com um lar bonito e abandonado pela noiva; mas
o sonho transmitiu-se ao pedreiro ("Curtamão") e nasce uma escola. Para
que a vocação de barqueiro desperte num camponês é preciso que uma
enchente lhe desbarate a vida ("Azo de almirante"). Nessa ordem de
eventos, uma personagem folclórica ("Melim-Meloso"), cuja força consiste
em desviar adversidades extraindo efeitos bons de causas ruins,
apoderou-se da imaginação do escritor a tal ponto que ele promete contar
mais tarde as aventuras desse novo Malasarte. Infelizmente não mais
veremos essa continuação que, a julgar pelo começo, ia desabrochar numa
esplêndida fábula; nem a grande epopéia cigana de que neste livro
afloram três leves amostras ("Faraó e a Água do rio", "O outro ou o
outro", "Zingaresca"), provas da atracão especial que exercia sobre o
erudito e o poeta esse povo de irracionais, ébrios de aventura e de cor,
refratários é integração social, artistas da palavra e do gesto. Muito
tempo depois de lidas, essas histórias, e outras que não pude citar,
germinam dentro da memória, amadurecem e frutificam, confirmando a
vitória do romancista dentro de um gênero menor. Cada qual descobrira
dentro das quarenta estórias a sua, a que mais lhe desencadeia a
imaginação. Seja-me permitido citar as duas que mais me subjugaram pela
sua condensação, dos romances em embrião que fazem descortinar os
horizontes mais amplos. "Antiperipléia" e o relatório feito em termos
ambíguos por um aleijado, ex-guia de cego, do acidente em que seu chefe e
protegido perdeu a vida. Confidente, alcoviteiro e rival do morto, o
narrador ressuscita-o aos olhos dos ouvintes enquanto tenta fazê-los
partilhar seus sentimentos alternados de ciúme, compaixão e ódio; "Esses
Lopes" é a história, também contada pela protagonista, de um clã de
brutamontes violentos que perecem um após outro, vítimas da mocinha
indefesa a quem julgavam reduzir a amante e escrava. Duas obras-primas
em poucas páginas que bastavam para assegurar a seu autor uma posição
excepcional.
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Triste Fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto
Postado por Marlon às 09:54
O livro conta a história do Major (ele não
era, apenas o chamavam, mas vem a se tornar mais tarde) Policarpo
Quaresma, um nacionalista exaltado e ufanista que romantiza todo o
Brasil. Na primeira parte da história tenta fazer um a
revolução social de costumes, é
considerado louco e internado. Na segunda torna-se fazendeiro e planeja
reformas nacionais tendo como base a agricultura. Na terceira se envolve
nas Segunda Revolta da Armada, no lado governista e planeja mudanças
políticas. Ao defender alguns prisioneiros, passado a revolta, é preso e
supostamente fuzilado no final. Toda a história apresenta os
funcionários corruptos, ineficientes e bajuladores, a preguiça, a
incompetência, a falsidade e a traição no cenário político-social
brasileiro. Várias histórias passam-se no pano de fundo, notavelmente
as de Ismênia e Olga, duas jovens muito distintas que encaram de modo
diferente o casamento.
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Tratado da Terra do Brasil - Pero de Magalhães
Postado por Marlon às 09:53
Num sumário da geografia local, Gândavo
descreve rapidamente cada capitania em suas particularidades (engenhos, escolas de jesuítas, tamanhos,
distâncias, donos das capitanias, etc.) e depois vai ao que interessa: o
geral. Fala sobre os costumes da terra, da fauna e da flora (relatos importantes, mas ridículos de
um ponto de vista meramente científico) descreve um ritual de
antropofagia e diversos outros costumes da terra. Gândavo neste texto
mostra um sentimento forte contra os nativos, exagerando suas guerras e
costumes que parecem bárbaros aos "civilizados colonos" de Portugal.
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Tieta do Agreste - Jorge Amado
Postado por Marlon às 09:52
"Tieta do Agreste, pastora de cabras, ou
a volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais
episódios e comovente epílogo:emoção e suspense!" O livro de Jorge Amado
se anuncia assim e cumpre todas as promessas. A história de Tieta,
pastora de cabras de Sant'Ana do Agreste que é expulsa pelo próprio pai e
volta anos depois, riquíssima graças à prostituição, é contada em tom
folhetinesco. Engraçado e sensual, o livro traz personagens
inesquecíveis, como a irmã da protagonista, Perpétua; seu sobrinho
Ricardo; e o coronel Artur da Tapitanga. Jorge Amado usa e abusa de
expressões e folclore regionais para criar uma narrativa envolvente, na
qual o autor vez por outra se faz de personagem e dá seus próprios
palpites na trama. Foi transformado em novela de grande sucesso, com
Betty Faria como Tieta, e depois em filme, com Sônia Braga como a
protagonista.
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Tereza Batista Cansada de Guerra - Jorge Amado
Postado por Marlon às 09:51
O romance conta a história de Tereza Batista,
adolescente ainda, que é vendida pelos pais, ficando à mercê do Capitão
Justiniano Duarte da Rosa , homem sem escrúpulos , Tereza consegue
jugir, depois de matar o capitão. Passa a viver com Emiliano Guedes um
amor quase filial. Com a morte deste, Tereza Batista prostitui-se ,
lutando contra a polícia em favor das companheiras. Finalmente cansada
de guerra, no dia de seu casamento sem amor, foge com Januário Gereba,o
sonho realizado.
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sábado, 21 de agosto de 2010
Tempo da Camisolinha - Mário de Andrade
Postado por Marlon às 16:49
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