Este livro é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A
Luta. A Terra é uma descrição detalhada feita pelo cientista Euclides da
Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a
terra, enfim. O Homem é uma descrição feita pelo sociólogo e
antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua
relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e
costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de
Canudos. Apresenta se caráter, seu passado e relatos de como era a vida
e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes
capturados. Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na
verdade "armam o palco" e "introduzem os personagens" para a verdadeira
história, a Guerra de Canudos, relatada na terceira parte, A Luta. A
Luta é uma descrição feita pelo jornalista e ser humano Euclides da
Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real
só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da
violência e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento
de tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações
e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um
massacre que começou por um motivo tolo - Antônio Conselheiro reclamando
um estoque de madeira não entregue - escalou para um conflito onde
havia paranóia nacional pois suspeitava-se que os "monarquistas" de
Canudos, liderados pelo "famigerado e bárbaro Bom Jesus Conselheiro"
tinham apoio externo. No final, foi apenas um massacre violento onde
estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus
derradeiros defensores - um velho, dois adultos e uma criança.
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Resumos / Material
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
Os Ratos - Dyonélio Machado
Postado por Marlon às 07:39
Modernismo de segunda fase. A história começa com o leiteiro
ameaçando cortar o fornecimento caso Naziazeno, um modesto funcionário
público, não lhe pague os $53000. Naziazeno passa então o dia
atormentado, tentando conseguir o dinheiro: pede emprestado ao chefe
(que lhe nega), joga (não consegue na roleta ou no bicho) e acaba
conseguindo um empréstimo com o amigo Alcides. À noite, não consegue
dormir preocupado com o dinheiro e com a idéia (quase certeza) de que os
ratos roem o dinheiro para o leite de seu filho. Só dorme quando ouve o
leiteiro despejar o leite. Numa prosa urbana (a história se passa na
cidade), regionalista (porto-alegrenses reconhecem facilmente sua
cidade) e intimista (o drama de Naziazeno, embora banal, é sempre
apresentado detalhadamente), Os Ratos passa-se apenas em um dia de muito
drama para seu protagonista.
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Os Papéis do Coronel - Harry Laus
Postado por Marlon às 07:38
Um coronel aposentado
isola-se em Porto Belo para escrever um livro. Seu nome? Todos o
conheciam por Coronel. Como é um livro dentro de outro, Harry Laus
alterna capítulos que mostram o cotidiano do Coronel em Porto Belo, seu
universo interior, seu processo literário e capítulos escritos pelo
próprio Coronel. Pois bem: No livro escrito pelo Coronel, ele conta sua
vida desde o começo da carreira militar, o casamento com Elza Alves, o
nascimento do filho, Alírio, as promoções, as sucessivas transferências
para Juiz de Fora, Natal, Corumbá e Rio de Janeiro até a maturidade de
Alírio , que se tornou pintor. Tudo leva a crer, até o final da obra de
Harry Laus, que o livro do Coronel seja uma autobiografia realista,
apesar de narrado na 3a pessoa: Ele não escreve "Eu fui promovido a
Major" e sim " Vitório de Lima e Silva foi promovido a Major. "Na
verdade, o Coronel mistura ficção e realidade. Mas só na penúltima
página é que se vai descobrir que Elza e Alírio nunca existiram - são
apenas personagens fictícios que povoavam a imaginação do Coronel. Só a
imaginação? Não. A solidão também. Mesmo no cotidiano em Porto Belo, o
Coronel pensa em Elza e Alírio como se realmente eles existissem. Chega
mesmo a desejá-los junto a si, sabendo que é impossível. Veja este
trecho. Voltou à varanda e sentou-se satisfeito para admirar a tarefa
que havia concluído (horta). "Ao homem cabe apenas semear", pensou "à
terra cabe germinar". O Coronel nunca sentiu tanta falta de Elza e
Alírio como naquele momento de sorrateira tristeza... estaria se
referindo à mulher e ao filho que ele não teve? Analogamente, semear
corresponde a fecundar e mulher, a terra que germina. A obra de Harry
Laus termina assim: O Coronel revelando seu projeto de assistir à virada
do século em Nova York ou em Paris nos Champs Elisées. Vitório de Lima e
Silva, habitante da Terra desde 1902, não veria despontar o novo
século; o Coronel, com vinte anos a menos... (percebeu? Vitório de Lima e
Silva não é o verdadeiro nome do Coronel, como também as idades são
diferentes. Por este cálculo seria de 1922, e teria, portanto, a mesma
idade de Harry Laus. Ou seja: Vitório é tão Coronel quanto o Coronel é
Harry Laus. Não seriam então, o Coronel e Vitório, os papéis despachados
por Harry Laus? Pois na introdução desta obra há um poema de Paulo
Leminsky que diz: O outro que há em mim é você. Você E você... Mas,
voltando ao texto interrompido... o Coronel, com vinte anos a menos,
poderia manter essa esperança, mesmo sem as figuras fictícias de mulher e
filho que lhe povoavam a imaginação. Ainda que sozinho, pensou (...)
Quem sabe - imaginou - entre a resplandecência dos fogos de artifício...
quem sabe se nesse momento de nervosa exaltação não poderia ver Alírio
surgir no meio do povaréu, procurando-o aflito. Chegaria ofegante e
diria sorrindo: - Vamos, pai. Pensei que não o encontrasse mais. (Você
pode pensar: então o Coronel era maluco? Pois se Alírio não existia!)
Maluco não. Apenas um escritor. E extremamente solitário. Através do
Coronel, Harry Laus retrata o sofrido, solitário e envolvente processo
de escrever e, neste caso, tambem de viver. O resumo A obra de Harry
Laus alterna: 1. Capítulos do Coronel em Porto Belo/Seu universo
interior. 2. O livro do Coronel 1. Às vezes as histórias se fundem, como
no diálogo entre Vitório e a namorada de Alírio (Ponciana): - Então o
senhor é General? - Por favor, me chame de Coronel. - O senhor esteve na
guerra? - Não. - Tomou parte em alguma batalha? - Não. - O diálogo com
Ponciana deixou o Coronel exasperado. Largou a caneta e levantou-se da
mesa. Andou às escuras, acendeu luzes ... voltou ao quarto e sentiu
profundo desgosto por tudo o que tinha escrito. Agora vamos por partes. O
cotidiano do Coronel em Porto Belo tem pouca, ou quase nenhuma ação, e
muito sentimento ( a vida em Porto Belo era de uma pasmaceira
enervante). O Coronel vai revelando suas mais profundas angústias,
questionamentos e solidão. Por exemplo: A frustração com a carreira
militar, profissão que não lhe rendeu nenhuma glória (há profissões que
terminam antes que a vidas se encerre, outros prolongam-se até a morte
e, as mais nobres, permanecem depois dela). Quando a escrever, o Coronel
se esmerava e sofria na busca da perfeição (arte é resumo, é sumo, é
essência). Lera uma vez em Tchekov que se aparecer uma espingarda num
conto, ela tem que atirar. Nada deve ser gratuito, nenhuma palavra vã...
(A lembrança da ponte pênsil, em Florianópolis, deixou o Coronel
perplexo. Milhares de parafusos cuja existência nem se consegue perceber
e tudo absolutamente necessário: uma verdadeira obra de arte, como deve
ser a criação literária. O Coronel, desde os tempos do Exército,
adorava fazer hortas. Trouxe de Florianópolis três pacotinhos coloridos,
citados no começo da obra, que eram sementes de rabanete, beterraba e
alface. Gostava de participar de alguma forma no processo de germinação
daquelas coisas vivas, as hortaliças. Outra fonte de angústia: o
envelhecimento. (O choque maior recebeu num ônibus onde viajava de pé:
uma bela estudante ofereceu-lhe o lugar que ele recusou, risonho mas
ofendido). No fim, concluiu que a idade só conta para quem nos vê de
fora. Parou de ler o obituário do jornal, convencido de que ainda não
estava tão velho para pensar na morte. Seus impulsos homossexuais,
dissimulados a vida inteira, também são revelados. (Nas noites de
Sábado, recebia a visita dos rapazes de Porto Belo. Tinham entre 17 e 20
anos, a maioria filhos de pescadores - só Lalo, Macaco e Lazinho eram
filhos de comerciantes. Na casa do Coronel, comiam e bebiam de graça,
pois seu dinheiro era curto. Depois iam bolinar as meninas ... Às vezes
um deles bebia demais (ou fingia estar bêbado) e acabava dormindo lá
mesmo (ou fingia que dormia) ... O Coronel nem sempre resistia à beleza
incandescente e disponível do corpo adormecido no sofá ou no quarto de
hóspedes. A estes, o Coronel costumava repensar com dinheiro, fora o que
dele furtavam. Mas a satisfação do impulso tinha no fundo um gosto
amargo. Certa vez recebeu a visita de Bernardo, colega dos tempos da
Escola Militar. Os rapazes chegaram. Bernardo, chocado com aquela
intimidade - os rapazes chamando o Coronel de "tu", contando sacanagens -
foi embora sem se despedir e deixou um bilhete: tenho nojo de você.
Personagens Os rapazes de Porto Belo (Lalo morreu num acidente de moto)
Lila , a empregada do Coronel Elizeth , a cachorrinha 2. O livro do
Coronel: Começa em Joinville, num baile de carnaval, quando Vitório de
Lima e Silva era um simples aspirante a Oficial. Neste baile, conheceu
Elza Alves, com quem se casou e teve um filho, Alírio. Em plena
lua-de-mel, rebentou a Revolução de 30. Que importância teve a Revolução
de 30 na vida de Vitório? Nenhuma. Fôra um simples secretário de
batalhão, longe de qualquer perigo. Vitório ressentia-se pela absoluta
falta de glória em sua militar. Além do mais, achava a rotina do
Exército monótona e irritante mas com dinheiro certo no final do mês. E
assim foi transferido para Passo Fundo. Depois para Juiz de Fora. Em
Juiz de Fora, aconteceu o seguinte: - Quem estiver com Getúlio, um passo
à frente. Vitório nunca soube porque deu aquele passo. Logo ele, nem aí
com a Política". Acabou sendo transferido para Natal quando Getúlio foi
deposto. Em Natal, o Coronel Boca de Bagre pediu a ele que fizesse um
discurso em homenagem às vítimas da Intentona Comunista (em 1935).
Vitório copiou a Ordem do Dia publicada pelo Boletim do Exército, só
alterando algumas frases. Por causa disto, foi repreendido por Boca de
Bagre considerado comunista e transferido para Corumbá, no Mato Grosso.
vitrines. Vitório foi transferido para o Rio de Janeiro. Depois de dois
anos usando borracha e lápis para alterar fichários, cada vez mais
desgostoso e humilhado com um trabalho banal que poderia ter sido feito
por qualquer cabo ou sargento, Vitório pediu transferência para a
Reserva (pendurou os coturnos). Como tinha direito a mais uma promoção,
aposentou-se como general para incorporar o salário. No entanto,
preferiu ser chamado de Coronel e não General de pijamas - como dizia o
pessoal da ativa. Vitório encerrou definitivamente a sua carreira
militar, tão sem brilho, levando na memória as barbaridades que
testemunhou pelos quartéis do Brasil - a miséria, a pobreza, a
precariedade. Alírio fez a primeira exposição individual no Rio de
Janeiro. Vitório continuou encarando com certo desgosto a profissão do
filho. Começou a pensar em escrever um livro, quem sabe aproveitar a
experiência dos anos no Exército e assim tornar o resto dos seus dias
menos penosos e inúteis. Além do mais, sempre fôra apaixonado pela
leitura. Tinha como referência grandes mestres! Então Vitória resolve ir
para Porto Belo, onde poderia escrever o livro e fazer uma horta. Elza
Alves negou-se a acompanhá-lo. Preferiu ficar perto do filho no Rio de
Janeiro. Obs.: Em certo ponto, ao escrever sobre as profissões de pai e
filho, o Coronel chega a sentir inveja de Alírio. Como pintor, Alírio
poderia alcançar a glória que ele, como militar, nunca tinha alcançado.
No entanto, como já sabemos, Alírio é um personagem fictício. Por isto o
Coronel se questionava: "Como admitir que um ser criado por ele o
suplantasse? E por que não sonhar com a glória para quem nasceu dele, se
o criador não conseguia alcançá-la?" Personagens: 1. Vitório de
Lima e Silva (que representava o próprio Coronel) 2. Elza Alves, a
esposa. 3. Alírio, o filho. 4. Ponciana, a namorada do filho. 5. Tenente
Correntino, um amigo da família Natal. 6. Coronel Boca de Bagre,
responsável pela transferência de Vitório para Corumbá. 7. O cão
Almofadinha. Obs.: Harry Laus foi crítico de arte. As cores estão
presentes, de maneira muito marcante, nas descrições dos cenários e na
profissão de Alírio, pintor.
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Os Melhores poemas de José Paulo Paes - José Paulo Paes
Postado por Marlon às 07:36
Melhores Poemas traz um apanhado dos 11 livros de poesia que
José Paulo Paes publicou, incluindo ainda textos inéditos intitulados
Socráticas. No decorrer da obra deste autor há marcas de todos os
mo-mentos daquilo que podemos chamar de poesia contemporânea brasileira.
No livro de estréia, O Aluno (1947), José Paulo Paes assumiu suas
influências, fazendo homenagens para seus ídolos, como "Drummondiana"
(para Drummond) e "Muriliana" (para Murilo Mendes). A seguir, ele
conhece aquela que seria sua esposa e musa inspiradora, Dora, para quem
fez as poesias de sua segunda obra, Cúmplices (1951). A partir do
terceiro livro, Novas Cartas Chilenas (1954), a poesia de José Paulo
Pa-es é marcada pela ironia, sarcasmo, deboche e o prazer de brincar com
as palavras. O poema "L'Affaire Sardinha" ilustra a questão: "O
bispo ensinou ao bugre/ Que pão n ão é pão, mas Deus/ Presente em
euca-ristia/ E como um dia faltasse/ Pão ao bugre, ele comeu/ O bispo,
eucaristicamente". Assim, ele atravessa as décadas de 60, 70, 80 e 90
publicando livros, flertando com diversos movi-mentos poéticos,
principalmente com o concretismo. A tristeza aparece com a publicação de
Prosas Segui-das de Odes Mínimas (1992). Afinal, o poeta teve que
amputar uma perna e este fato está presente no poe-ma "À minha perna
esquerda", onde ele assume a culpa pela perda do membro e diz que no
Juízo Final, ele e a sua perna irão se encontrar. "José Paulo Paes
apresenta um texto breve, incisivo, carregado de humor irônico e
sátira".
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Os Melhores Contos - Rubem Braga
Postado por Marlon às 07:34
O gênero A
crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras.
Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do
dia-a-dia, seja nos temas, ligados à vida cotidiana, seja na linguagem
despojada e coloquial do jornalismo. Mais do que isso, surge
inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a
frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se
caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio
em que aparece, o jornal diário. Se a notícia deve ser sempre objetiva e
impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística
deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o
jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma escrever pelo
método da conversa fiada, do assunto- puxa- assunto, estabelecendo uma
atmosfera de intimidade com o leitor. A obra Os melhores contos
de Rubem Braga (1985) na verdade são 39 crônicas, selecionadas pelo
professor Davi Arrigucci Jr., que podem ser divididas em: 1. Passado
interiorano ou em Cachoeiro do Itapemirim - reunindo as crônicas em
que o narrador aborda, de forma lírica e nostálgica, a vida na cidade
pequena do interior, entre caçadas de passarinho, encontro com moradores
da cidade grande, peladas na rua, pescarias, cachorros amigos, e a
vegetação abundante do meio quase rural: 1. Tuim criado no dedo -
Menino, durante férias em cidade do interior, cria um tuim, o menor dos
periquitos brasileiros, "no dedo", ou seja, o ensina a obedecer seus
chamados e deixa-o viver livre, fora da gaiola. Quando a família retorna
a São Paulo, o tuim foge e é aprisionado por outra família.
Recuperando-o, o menino corta-lhe as asas. Mas, no instante seguinte, o
tuim é devorado por um gato. 2. Diário de um subversivo - No
"remoto ano de 1936", durante a perseguição getulista aos comunistas
após a Intentona de 35, o narrador apresenta sua fuga da repressão, em
forma de diário, do dia 15 de fevereiro ao dia 1o de março. Adotando
pseudônimo, finge-se alienado em conversas com integralistas que vivem
na pensão onde mora. Procurado pela polícia na pensão, é auxiliado por
velho conhecido, Edgar, que o abriga em sua casa. Ao poucos vai se
envolvendo com a mulher de Edgar, Alice. Afirma que se "tivesse qualquer
coisa com essa mulher, seria o último dos canalhas." Termina a crônica
afirmando laconicamente: "Sou." 3. A moça rica - Relincho de
cavalo desperta em pescador humilde a memória de uma moça rica que viera
do Rio. Usando calças, caçando e pescando, a moça de início o assusta,
mas, em seguida, ao cantar, o encanta. Dois anos mais velha do que ele,
pára um dia na praia solitária para conversar com o rapaz, que,
assustado e ingênuo, esquiva-se de suas tentativas de aproximação e
deixa escapar a chance de se envolver com a moça bonita e rica. 4. O
jovem casal - Casal jovem espera o bonde. Lutam contra a miséria
vivendo em uma pensão barata e suja. Vivem na feiúra de uma "vida
estreita". Não podem pegar o ônibus por ser muito caro, sofrem de dores
de cabeça e dentes, mas tratam-se com carinho e amor. Pára, à sua
frente, um automóvel de luxo com um casal. A mulher diz, no momento em
que o carro partia, que iria comprar um anel por quinze contos. O rapaz
ouve isto como se fosse um soco em seu estômago mal alimentado. Com esse
dinheiro, poderia pagar anos de pensão e aliviar o sofrimento de sua
amada. Chega o bonde. 5. Negócio de menino - Diálogo entre um
menino e o narrador, vendedor de passarinhos. O garoto vai intercalando
perguntas sobre os pássaros e pausas até pedir ao narrador um passarinho
de presente e depois sair correndo. 6. Coração de mãe - Marina e
Dorinha são irmãs e moram com sua mãe, dona de pensão no bairro do
Catete , no Rio de Janeiro. Loiras, de olhos azuis, vivem cantando.
Certa noite, as moças chegam já de madrugada e "um pouco tontas". A mãe,
dona Rosalina, briga com as filhas. No dia seguinte, ouve Marina ao
telefone referindo-se a ela como "a velha" e as expulsa de casa. Na rua,
o "cavalheirismo do bairro" se manifesta e as moças recebem várias
propostas de ajuda dos "bondosos homens". Porém, são interrompidos pela
mãe, que manda as filhas de volta para casa. Conclusão do narrador: não
há nada no mundo como o coração de mãe. 7. Marinheiro na rua - De
madrugada, na rua deserta, um "pequeno marinheiro" bate à porta de um
edifício às escuras, observado do alto e à distância pelo narrador. O
som da batida chega uma fração de segundo após o gesto, o que desperta
no narrador uma recordação da infância e, depois, uma série de idéias,
como a suspeita de que talvez o marinheiro fosse seu filho ou ele mesmo e
dentro do prédio estivesse sua amada. A porta não abre e o marinheiro,
cansado de bater, segue pela calçada até o narrador o perder de vista. O
narrador olha, então, para a fachada do prédio e todas as luzes se
acendem. O edifício fica maior e começa a se mover como um grande navio,
partindo lentamente. 8. O homem da estação - Numa aldeia, na
França, o narrador procura hospedagem para passar a noite. Ninguém lhe
dá abrigo. Anda pelo campo e um homem de bicicleta pára e lhe pergunta
se precisa de alguma coisa. Responde que não achou lugar para dormir e
está indo para outra aldeia. O homem indica ao narrador onde fica a
estação da estrada de ferro em que trabalha e informa que virá um trem
em duas horas. Quando chega na estação, o homem lhe preparou uma cama e
lhe oferece vinho. O narrador bebe "em silêncio à saúde de um homem que
não teme nem despreza outro homem. 9. Falamos de carambolas -
Narrador conta uma conversa com uma amiga (?) em um bar. Falam de
sorvetes e frutas até que ele pergunta o que o médico disse. Ela
responde vagamente que era uma síndroma e não iria se enganar. O
narrador afirma que é pessimismo dela. Ela nega, hesita, mas não
pronuncia o nome da doença, para alívio do narrador. Mudam de assunto e,
enquanto conversam, o narrador pensa que é insuportável saber que ela
morreria. Ela critica o seu bigode e ele pergunta por que ela não toma
conta dele. Ela "ri uma risada... clara, alegre, ... como o cristal...,
que se parte tão fácil." 10. Era uma noite de luar - O narrador
conta sobre uma noite, na época da repressão do Estado Novo, em que foi
levar notícias à Marina, mulher de Alberto, um militante comunista
preso. Descreve as precauções que tinha que tomar e a conversa com
Marina, que está sem dinheiro, solitária, triste e cansada de se
esconder. Durante a conversa, o narrador abre uma banda da janela para
jogar o cigarro e comenta que o luar está bonito. Ela se aproxima da
janela e ele abre a outra banda. Então ela fecha a janela com
brutalidade, chama-o de estúpido, pois "está sozinha desde a prisão do
marido", manda-o embora, atira-se na cama e começa a chorar. 11.
Viúva na praia - Narrador conta que viu a viúva na praia com o filho
e deitou-se na areia para contemplá-la. Conhecera vagamente o marido
dela no café da esquina, onde soube que ele ficara muito tempo doente
antes de morrer. Descreve a beleza da mulher e pensa que, se fosse ele o
marido, ficaria ressentido ao saber que, poucos dias depois da sua
morte, um estranho estaria olhando o corpo de sua mulher, mesmo que
discretamente. Mas ele é o outro homem, está vivo, e sente-se, por isso,
superior. Descreve a viúva depois de um mergulho e conclui que o sol
ama a viúva. 12. A navegação da casa - O narrador é um senhor,
brasileiro, que saiu do hotel e está numa casa antiga, em Paris. É
abril, início da primavera. Seus amigos fazem uma festa. O narrador
sente-se alegre e diz que a casa parece uma velha fragata tripulada por
bêbados. Quando a festa termina, anda sozinho pela casa, imaginando os
invernos difíceis que os antigos moradores lá passaram. No dia seguinte
está muito frio. Os amigos chegam e ele acende todas as lareiras. As
luzes são apagadas e o narrador - diante do fogo - imagina que lá estão
também os fantasmas dos antigos amigos. Lembra de um sagüi - presente
para a sua noiva, que ele, por distração, deixara morrer de frio em Belo
Horizonte, assim como "matamos, por distração, muitas ternuras". Por
fim, pensa em meninos, "em um menino". 13. Aula de inglês -
Crítica ao famoso "método Berlitz ", de ensino de línguas através de
perguntas e respostas. A professora pergunta em inglês, ao aluno (o
narrador), se determinado objeto é um elefante. Após uma cuidadosa
análise, ele responde que não. Pergunta, então, se é um livro;
prontamente o narrador responde que não. Pergunta se é um handkerchief
(lenço) , palavra que o aluno não conhece, mas acha antipática e
responde que não. À última pergunta, se é um cinzeiro (ash-tray ), o
aluno responde que sim. A reação eufórica da professora faz o narrador
sair satisfeito da sua primeira aula. Pensa em comprar um cachimbo
inglês e, se encontrasse o embaixador britânico, imagina "entabular uma
longa conversação", em que diria que o cachimbo não é um "ash-tray". 14.
Caçada de paca - O narrador conta que uma conversa sobre paca o
levou a abandonar a rede, onde descansava, embaixo da mangueira e sair à
noite para caçar paca, acompanhado por Anti. Depois de muito andar na
noite escura, subindo e descendo morro, pensam que viram uma paca,
atiram e matam um cachorro. Discutem se havia paca mesmo, mas na verdade
estavam bêbados. Chegam de madrugada e as mulheres ainda riem deles.
Para o narrador, Deus fez o domingo, o brasileiro armou a rede e o Diabo
inventou a paca. 15. A partilha - Dois irmãos se separam e o
narrador transcreve o que um deles, o mais velho, diz, enquanto fazem a
partilha dos objetos da casa. Ele deseja ficar com a rede, o retrato da
mãe e, principalmente, o canivete do irmão mais novo. Enquanto
argumenta, as características de cada um vão sendo descritas, do ponto
de vista do mais velho, que sabe pescar e lidar com o canivete, além de
fazer os consertos da casa. O mais novo ganha mais dinheiro, escreve
cartas e tem namorada. Através do monólogo, nota-se que o mais novo
ameaça o irmão com o canivete e este lhe dá o conselho de nunca puxar
canivete para outro homem, pois é arma de menino. É melhor dar um tiro
com garrucha. Diz que se o matasse naquele momento estaria matando um
inimigo, não seria como ele "que levantou a arma contra um irmão". Pega o
canivete, reclama que o irmão não presta nem para limpá-lo, mas é bom
para outras coisas e despede-se. 16. Noite de chuva - Homem está
em casa em noite de temporal, após um dia difícil. Antes de dormir,
pensa que há muitos anos adia consertar as coisas, dos dentes a um caso
sentimental. Começa a dormir quando Joaquina Maria, "negra velha" que
lavava as suas roupas, bate na porta e pede ajuda para tirar o corpo do
neto dos escombros do barraco, que fora derrubado pelo temporal. Nada
está funcionando na cidade. Deixa a velha na entrada da casa, tenta
parar uns carros, bebe uma bagaceira e conta a história num botequim ,
sentindo que era ridículo o que fazia. Volta para casa pensando que de
nada ia adiantar se conseguisse telefonar, pois não conseguiria
assistência com aquela chuva. Encontra a velha chorando e diz secamente
que arrumou tudo "para amanhã de manhã". Ela vai embora, com um ar
desamparado. 17. Os perseguidos - Durante a repressão do Estado
Novo, o narrador, acompanhado de Moreira, que ficara um mês preso e fora
torturado, chegam ao apartamento indicado. O narrador "tem pena e
desgosto" de Moreira, que está sujo e mal vestido. Uma empregada de
uniforme os atende, pede que entrem e se sentem. É uma sala luxuosa com
uma janela imensa com vista para o mar, que surpreende o narrador: o mar
dos ricos é mais amplo, puro e azul do que o mar dos pobres, visto lá
embaixo. O narrador inspira o ar salgado e limpo e tem a impressão de
que aquele ar não é dele e ele nem o merece, já que o ar dos pobres é
quente e parado, com poeira e fumaça. 18. A mulher que ia navegar
- Mulher é observada pelo narrador, enquanto se desenrola, numa roda de
intelectuais, conversa sobre pintura. Além da mulher e do narrador,
participam da roda o marido dela, "todo bovino", um pintor, uma senhora,
um físico e uma outra senhora desquitada. A mulher, junto à janela,
está atenta às mudança de cor em seu braço, provocadas por um anúncio
luminoso de um edifício em frente. Quando o marido refere-se a certo
pintor com uma palavra vulgar, a mulher o olha com "menos zanga do que
tédio" e o narrador sente que ela se preparava para enganá-lo, como "um
belo barco prestes a se fazer ao mar". Ela procura e escolhe o físico
para ser o " piloto de longo, longo curso" com quem vai navegar. 19.
Força de vontade - Narrador conhece comerciante em hotel em Foz do
Iguaçu. Ele não tem vícios, é solteiro e mora em São Paulo, com os pais.
Durante a conversa, o comerciante comenta que está realizando o último
dos seus três ideais: visitar pelo menos um país estrangeiro. Outro
ideal, já cumprido, era ter um diploma. Depois do jantar, o narrador
cumprimenta o comerciante por ter realizado seu ideal "em duplicata",
afinal visitara dois países, Argentina e Paraguai. O comerciante afirma
que provou a sua força de vontade e que, para isso, passara por muitas
dificuldades. Mais tarde, o narrador o convida para um passeio de carro,
ele recusa e fica no saguão do hotel. Quando o narrador volta para
buscar a sua lanterna, o comerciante está com um ar "vazio como quem não
tivesse coisa alguma a fazer na vida e acabasse de descobrir isto". 20.
O espanhol que morreu - Em um bar no bairro da Lapa, no Rio de
Janeiro, o amigo do narrador é confundido com um espanhol, já falecido,
que freqüentava o lugar, era amigo de todos e amado de Sueli. As
mulheres, Sueli e Betty, dizem que são idênticos, com a mesma cara
triste e jeito de falar. O amigo do narrador se aborrece, diz que "não é
espanhol, não trabalha no comércio e nem sequer está morto". As
mulheres contam casos do Espanhol e como foi o seu enterro. O garçom
pergunta se ele é irmão do Espanhol. Quando saem, algumas mulheres
acompanham os amigos até a escada e o narrador diz ao amigo que aquela
despedida era o enterro dele. O amigo, bêbado, sai andando na chuva,
falando espanhol e some. O narrador o procura, mas não o encontra e
conclui que "na verdade ele é o Espanhol, e morreu". 21. O rei
secreto de França - Em Paris, na primavera, o narrador tem um
encontro marcado com uma mulher. Enquanto espera chegar a hora, visita o
túmulo de Maria Antonieta e conversa, distraído, com o guarda do lugar.
Está ansioso e pensa que se sentia o rei secreto da França porque a
"mais fina e bela mulher da França" viria ao seu encontro. Corre ao
casarão, local do encontro, toma mais dois conhaques. A mulher chega e
diz que aquele seria uma despedida, pois partiria para "remotas
suécias". Ao sair, vai telefonar, enquanto ele entrega a chave do
apartamento 14 à velha "concierge"e paga em dobro. A velha diz para ele
nunca perder uma mulher como aquela. A mulher sai da cabine , ele beija a
sua mão, ela entra no táxi chorando e o narrador a descreve como "a
futura Rainha da Suécia, das distantes suécias e noruegas do nunca
mais." 22. Visita de uma senhora23. Praga de menino - O narrador conta que, quando menino, ele e
seus amigos jogavam bola na rua, em frente à casa das irmãs Teixeiras .
Elas eram "suas inimigas" porque brigavam com eles devido ao barulho
que faziam e o receio de que quebrassem alguma das inúmeras janelas da
casa. Um garoto trouxe uma bola maior e colorida e um dia essa bola
quebrou uma vidraça. Uma das irmãs, depois de brigar com eles, cortou a
bola com um canivete. Os garotos se vingaram entrando na casa delas
quando não havia ninguém, fizeram uma grande bagunça e roubaram um anel
sem valor, uma lata de goiabada, uma faca de cozinha e um martelo.
Ninguém descobriu quem foi. Os meninos nunca mais jogaram bola diante da
casa das Teixeiras e deixaram de cumprimentar aquela que havia cortado a
bola. O narrador não sabe se ela foi feliz, mas "se foi, é porque praga
de menino não tem força." 24. Um braço de mulher - Em um vôo Rio
de Janeiro- São Paulo, o narrador ocupa-se em acalmar uma senhora
sentada ao seu lado, aflita porque o avião, sobrevoando São Paulo,
demora a descer. Quando sugere trocar de lugar com a amiga da senhora,
ela diz que prefere ter um homem ao seu lado. Ele sente-se útil e
responsável. A senhora se acalma e o narrador começa a pensar que
realmente estava demorando muito para pousar. Tem a idéia de que a morte
deveria ser assim: um nevoeiro imenso... para sempre". No entanto, a
senhora volta a se preocupar e o narrador de repente repara que ela tem
um braço "belo, harmonioso e musculado ". Então sente-se despertar, e a
idéia da morte, antes agradável, agora é "uma coisa sem a delicadeza e o
calor, a força macia de um braço ou de uma coxa..." No aeroporto, o
marido da senhora agradece formalmente ao narrador, que se sente um
intruso, como se tivesse traído aquele senhor. A senhora lhe dá um
pequeno sorriso, "vagamente cúmplice". O narrador diz que certamente não
a verá mais, mas vai demorar para esquecer de seu belo braço que,
"durante um instante, foi a própria imagem da vida". 25. Conto de
Natal - Despedidos da fazenda em que trabalhavam, casal de colonos
com filho de seis anos caminha em direção à Fazenda Boa Vista, a duas
léguas e meia do lugar em que se encontram. A mulher está grávida de
oito meses. Começa a chover, ela não pode mais andar. Conseguem carona
num carro de bois e chegam à noite na fazenda, que está fechada.
Alojam-se junto a um burro e a uma vaca num lugar coberto. Durante a
noite, o menino nasce. O carreiro chega e lembra que é Natal. O marido,
Faustino, sugere à mulher que chamem o recém-nascido de Jesus Cristo. A
mulher não acha graça. O menino de seis anos chama o pai para ver o
irmão, embrulhado em trapos em cima do capim. O pai olha. A criança está
morta. 26. Lembrança de Zig - O narrador lembra de Zig , o
cachorro de sua família, quando era criança em Cachoeiro do Itapemirim. O
cachorro era conhecido na cidade por Zig Braga, mordia a todos que
estivessem de farda e tinha um profunda amizade por uma gata, com a qual
dormia. Essa amizade só se esfriou quando a gata teve cria e os
filhotes incomodavam o cachorro. Também seguia pela rua quem saísse da
casa e, principalmente, a mãe do narrador, que tinha de prendê-lo quando
ia à missa aos domingos. Muitas vezes, ele se soltava e, para desgosto
do padre e dos fiéis, cheirava a todos na igreja até encontrar a mãe do
narrador, quando então latia e abanava o rabo. Hoje a mãe do narrador
está velha e não vai mais à igreja, que é distante. O narrador conclui
que Deus deve mandar um santo de vez em quando visitar a sua mãe, na
antiga casa e, ao voltar, este deve "se demorar um pouco sob o velho pé
de fruta-pão", onde Zig foi enterrado. 27. Os amantes - O
narrador conta sobre os seis dias que passou trancado no apartamento com
sua amada, sem atender telefone ou abrir a porta, desfrutando de "um
entendimento que era além do amor". Na manhã que a fome os deixa tontos,
ele sai e compra uvas. No entanto, quando volta, o "pequeno mundo" dos
amantes foi invadido (o carteiro está lá, o telefone toca e "agora é
preciso atender", as janelas estão escancaradas) e "o milagre se
acabara". No "lento olhar" da mulher, entretanto, "ainda havia uma
inútil, resignada esperança." 28. O sino de ouro - O narrador
conta que, em uma localidade no sertão de Goiás, há um sino de ouro numa
pequena igreja, cujo som puro se estende, à tarde, pelas matas e
cerrados e dá aos homens pobres do lugar uma "ração de alegria". Os
habitantes acham que vivem do sino de ouro, não se importam com nada,
fazendo somente o essencial para viver. Não estão interessados em
progresso, negócios ou corrupção. O narrador afirma que ouviu essa
história de um homem velho, que a contou com espanto e desprezo. Depois,
o narrador contou a história para uma criança, cujos olhos diziam que
"a coisa mais bonita do mundo deve ser ouvir um sino de ouro". O
narrador acredita que Deus, mesmo que não exista, deve ter a mesma
opinião. E conclui que nós, quando crianças, temos, dentro da alma, um
sino de ouro que com o tempo vai virando "lama e podridão". 29. A
primeira mulher do Nunes - Na praça Serzedelo Correia, em
Copacabana, o narrador vai tomar um táxi e vê uma mulher bonita, com ar
de estrangeira, sentada num banco do ponto de táxi. Tem a impressão de
que a mulher o segue com os olhos quando se dirige para o táxi e, ao
partir, tem a certeza de que tinha visto Marissa , a primeira mulher do
Nunes. Explica que nunca a conhecera, devido a uma série de
desencontros, mas chegara a se apaixonar, há uns quatro ou cinco anos,
graças à descrição que faziam dela e ao momento ruim porque estava
passando. Ela ficou sendo um mito e aquela mulher vista na praça em
Copacabana correspondia à imagem que o narrador fazia de Marissa. No
rápido olhar que trocaram, o narrador acredita ter "lido" a irônica
mensagem de que o destino deles era o de nunca se conhecerem. 30. O
cajueiro - Uma carta da irmã do narrador contando sobre a queda do
velho cajueiro que ficava no alto do morro, atrás da casa de seus pais,
desperta lembranças da sua infância. Ele descreve como os meninos, à
medida que cresciam, iam conhecendo a árvore e que, no último verão,
levou Carybé para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo um
parente querido. 31. Encontro - O narrador encontra casualmente,
em um bar, antiga namorada. Compara a sua beleza e jeito de mulher com a
imagem que trazia dela quando jovem. Ao despedir-se, o seu olhar lhe dá
a certeza "de que nem tudo se perde na confusão da vida e que uma vaga
mas imperecível ternura é o prêmio dos que muito souberam amar." 32. O
afogado - Homem consegue se salvar de morrer afogado, sem pedir
ajuda. Esgotado, deita-se na areia da praia e sente-se superior às
pessoas que estão conversando sobre cinema numa barraca próxima - "uma
idiota superioridade de quem não morreu, mas podia estar morto". 33.
Madrugada - O narrador sonha com a mulher que estivera na festa na
sua casa. Acorda de madrugada, vai até a varanda e descreve o nascer do
dia, o mar, os pescadores preparando-se para a pesca, os pássaros
despertando, o silêncio da casa e as sensações que a madrugada
despertava nele. 34. História de pescaria - O narrador conta a
pescaria feita por ele, Zé Carlos e Manuel, motivados pela notícia de
que um marlin fora visto na Praia Azedinha. Não encontraram o marlin,
mas ele fisgou "um olho-de-boi que tinha seus vinte e cinco quilos" e
ficou lutando com o peixe durante mais de uma hora. Porém, o peixe
quebrou a linha quando a hélice do barco foi ligada, e fugiu. 35. O
mato - No entardecer de um dia chuvoso, no Rio de Janeiro, homem se
afasta da cidade e anda lentamente por um morro próximo à sua casa.
Pensa na nervosa vida da cidade, depois volta a sua atenção para a
natureza, sente paz e vontade de se tornar uma árvore, sem desejos e
sentimentos - "forte, quieto, imóvel, feliz". 36. Do Carmo - Na
praia, o narrador encontra um velho amigo. Conversam sobre o passado,
lembram de amigos de vinte anos antes e falam de Maria do Carmo, sua
beleza e seu encanto. Esta lembrança os aproxima mais. De repente,
correm para o mar e mergulham, com o sentimento de que a água limpa
também a poeira que a passagem do tempo vai deixando na alma. 37.
Visão - O narrador descreve como, no meio de um dia cinzento, no
centro do Rio, a visão de uma mulher que, por um instante, lhe fitou e
sorriu de dentro de um carro fez com que se sentisse como um preso que
visse "uma parede se abrir sobre uma paisagem úmida e brilhante de todos
os sonhos de luz." 38. As luvas - O narrador encontra um par de
luvas atirado atrás de uns livros e imagina que sejam de uma mulher que o
visitara duas vezes e sumira há mais de uma semana, dizendo que
telefonaria. O telefone toca, mas não é a dona das luvas. Ao sair para
um jantar, segura as luvas "como se tivesse na mão um problema" e as
joga atrás dos livros, "onde estavam antes." 39. As meninas -
Narrador recorda a imagem de duas meninas em uma praia, com vestidos
compridos, azul e verde, brincando no mar, acontecida há muito tempo.
Evoca o sentimento de angústia "leve, quase suave" que a cena produziu
nele. - O narrador atende a porta e
entra uma moça bonita. Segue-se um diálogo em que o narrador responde
"claro" às três primeiras perguntas. A mulher afirma que ele não a
conhece, que mora no bairro, é casada, já tinha visto o narrador na
praia e pergunta se ele só sabe dizer "claro". Diz que há muito tempo
lia o que o narrador escrevia, e que uma vez ele escreveu algo como se
conhecesse todos os segredos dela. Depois pergunta se ele é homem mesmo,
chama-o de cínico e afirma ser uma pena ele ser tão velho Então o
narrador pergunta o que ela deseja, ela responde que "que gosta muito do
marido" e de repente começa a chorar. O narrador sugere que ela vá
embora. Ela retoca a pintura, despede-se e vai "embora para nunca mais".
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terça-feira, 8 de junho de 2010
Os Maias - Eça de Queiroz
Postado por Marlon às 18:45
Em junho de 1888, os livreiros portugueses começaram a vender
os primeiros dos cinco mil exemplares da primeira edição de Os Maias. É
tiragem que impressiona ainda hoje. O que dizer então naqueles tempos de
um Portugal pouco habitado e não muito lido? Foi uma temeridade, mas à
audácia dos editores correspondeu a curiosidade dos leitores e o
interesse da crítica. E o livro do desconfiado Eça de Queiroz
transformou-se, desde então, num sucesso de vendas. E assim é (ou voltou
a ser) hoje em dia. Andou uns tempos esquecido, é verdade, mas bastou
que a televisão fosse buscar inspiração (palavra perigosa) no velho
romance, para que as novas reedições sumissem, recém-chegadas às
livrarias, pouco antes do Natal, e fossem totalmente consumidas pouco
antes do novo ano. Eça de Queiroz foi impreciso e modesto ao dar a Os
Maias o subtítulo "episódios da vida romântica". Na verdade, o seu mais
famoso romance é uma tragédia, tal como a entendia Sófocles quando, já
na maturidade, compôs o seu Édipo. Uma tragédia burguesa, mas quand même
uma tragédia, pois que lá está a grave transgressão moral, cometida em
completa inconsciência por seus dois personagens centrais — Carlos
Eduardo e Maria Eduarda. Da Maia, ambos; irmãos, apaixonados e
incestuosos ambos, e belos e trágicos. Invejo quem agora, instigado pela
minissérie, vai ler esse livro pela primeira vez. Terá prazer único e
irreproduzível. As releituras que hão de vir, mais tarde, servirão de
consolo, mas não de substituto. Esse prazer estará certamente na
elegância barroca da forma e no desenvolvimento astucioso do entrecho.
Mas estará também, ou principalmente, nos admiráveis retratos que Eça
faz de seus tipos principais, com a elegância e a minúcia de um genial
pintor romântico, mas com "o seu olho à Balzac". A começar não por um
tipo, mas por uma casa, mais exatamente a "casa que os Maias vieram
habitar em Lisboa, no outono de 1875", que surge, penumbrosa e
prenunciadora, logo na primeira frase do livro, e que era conhecida como
a casa do ramalhete "ou, mais simplesmente, o Ramalhete". Então, lemos,
já encantados: "Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o
Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de
estreitas janelas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila
de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho
de residência eclesiástica que competia a uma edificação dos tempos da
Sra. D. Maria I; com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia
a um colégio de jesuítas". Ai está o cenário da tragédia. O Ramalhete
é, pela ordem de entrada, o primeiro personagem em cena, com suas
paredes sempre fatais àquela antiga família da Beira, tão rica e tão
infeliz. E será no Ramalhete e em torno dele que vamos ser apresentados
aos personagens nos quais Eça de Queirós se insinua, para nos falar
através de suas muitas vozes. Seus retratos eram sempre perfeitos e, ao
longo da trama, coerentes. A única personagem que o confunde é Maria
Eduarda, por sua beleza de deusa. Quando ela aparece — e como custa a
aparecer! —, "é alta, loura, com um meio véu muito apertado e muito
escuro que realçava o esplendor da sua carne"; algumas páginas adiante,
Carlos a revê e nota que "os cabelos não eram louros, como julgara de
longe, à claridade do sol, mas de dois tons, castanho-claro e
castanho-escuro, espessos e ondeando ligeiramente sobre a testa". Falei
de retratos e o mais correto é falar de auto-retratos. Se Fernando
Pessoa tinha seus heterônimos, Eça tinha os seus "eus", como diz Beatriz
Berrini, que eram muitos e muito se pareciam. Ele nos fala pela voz
severa do velho Afonso da Maia, que "era um pouco baixo, maciço, de
ombros quadrados e fortes...o cabelo branco todo cortado à escovinha, e a
barba de neve, aguda e longa", a reclamar melhores destinos para o seu
lamentável país e a cobrar, do neto tão promissor, menos diletantismo e
mais realizações. Fala-nos também com as palavras cruéis e
desassombradas do neto Carlos, "um formoso e magnífico moço, alto,
bem-feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob os anéis de
cabelos pretos, e os olhos dos Maias, aqueles irresistíveis olhos do
pai, dum negro líquido, ternos como os dele e mais graves", e que
costumava vociferar: "A única coisa a fazer em Portugal é plantar
legumes, enquanto não há uma revolução que faça subir à superfície
alguns dos elementos originais, fortes, vivos, que isto ainda encerre lá
no fundo". Ao que o avô respondia, já impaciente com esse diletantismo
do neto, como se falasse em nome do autor: — Pois então façam vocês essa
revolução. Mas pelo amor de Deus, façam alguma coisa! Mas nenhum de
seus "eus" foi mais ele mesmo que João da Ega, ou João da Eça, ou o Ega
de Queirós, que todos esses trocadilhos, embora fáceis, têm cabimento e
justeza. Talvez só o Fradique Mendes se lhe possa comparar, mas esse não
vem ao caso, agora, porque não é personagem d´Os Maias. Eram "eus"
idealizados e muita vez caricaturados, mas que, no fundo, o reproduziam
com verdade e o exprimiam com coerência. Ao Ega, deu-lhe o Eça a
existência que gostaria de ter tido: discutido e admirado, com a mãe
devota, rica e viúva, a lhe garantir o presente e o futuro,
permitindo-lhe desfrutar as sofisticações, as intimidades e os desvelos
de uma família de aristocratas, como era a dos Maias; mais alguns amores
ardentes e com saúde razoavelmente forte para gozar, sem medos nem
cuidados, o prazer das boas comidas e dos bons vinhos, dos conhaques e
das águas ardentes, das noitadas com espanholas e das devassidões
vespertinas, com amantes de luxo. É conclusão a que se chega no momento
em que Eça retrata o Ega — e se auto-retrata: cheio de verve e de
irreverência, de frases retumbantes e ditos irônicos, um talento
amaldiçoado, temido e exaltado. Vejamos o Ega pelos olhos do Eça: "O
esforço da inteligência (...) terminou por lhe influenciar as maneiras e
a fisionomia; e, com a sua figura esgrouviada e seca, os pêlos
arrebitados sob o nariz adunco, um quadrado de vidro entalado no olho
direito — tinha alguma coisa de rebelde e de satânico". Ora, se não é
esse ou quase esse o retrato do próprio Eça, tal como captado na célebre
caricatura que dele fez Rafael Bordalo Pinheiro, então já não sei ver
nem distinguir. É ainda o Ega que, em momento de impaciência com a
mediocridade e a hipocrisia da sociedade burguesa, e como que falando em
nome de seu criador, deixa Lisboa e corre para restaurar-se no
interior, lançando a Carlos e a Craft, os dois grandes amigos que o
foram acompanhar à diligência, esta frase aterradora: — Sinto-me como se
a alma me tivesse caído a uma latrina! Preciso um banho por dentro. Tal
como Carlos da Maia, também João da Ega era um diletante. Ambos têm
revoltas pouco profundas e de pouca duração. As suas grandes promessas
de realização pessoal e de transformação do mundo terminam por desmaiar
no culto quase religioso do luxo e do tédio. Passam a representar o que
mais incomodava o inconformado Eça: a renúncia e o conformismo. É com
mãos hábeis, orgulhosas e brilhantes que Eça os faz florescer em
Coimbra, em tempos de sonho e de estudo, a prometer insubmissão e luta. É
com olhar de desalento e pessimismo que Eça os deixa vencidos e
melancólicos, a "correr desesperadamente pela rampa de Santos", atrás de
um bonde e de um jantar, "sob a primeira claridade do luar que subia".
Tal como o próprio Eça se sentia, Ega e Carlos eram, naquele momento,
dois "vencidos da vida". E assim a tragédia se consuma e nos obriga a
repensar o ser humano com inquietação e desconfiança. Lisboa, 1875. A
cidade não apenas como um cenário mas como uma personagem, viva,
interveniente, testemunha e cúmplice dos acontecimentos.A cidade acorda,
o movimento cresce. De entre a multidão que circula vão-se destacando,
anunciadas pela narradora, as principais personagens desta história.Mais
tarde, ao serão, no interior da casa dos Maias, conhecida como o
Ramalhete, reúnem-se alguns distintos representantes da sociedade da
época: da intelligentsia à alta burguesia lisboeta, até alguns políticos
do constitucionalismo regenerador. Lá estavam, entre outros, João da
Ega, amigo incondicional de Carlos da Maia, sagaz e polémico, sempre
crítico da mediocridade nacional. Ou ainda Craft, com quem, nessa mesma
noite, Carlos da Maia acabaria por negociar uma quinta, nos Olivais. Ou
ainda Dâmaso Salcede, pretencioso e burlesco que revelaria, eufórico,
como uma das suas recentes conquistas, a aproximação de Maria Eduarda de
Castro Gomes, o que não deixara de provocar uma ainda inexplicável
irritação a Carlos da Maia. A sólida presença de Afonso da Maia,
patriarca da família, constitui, para todos, um valor de referência.Na
realidade, Carlos da Maia alimentava já por Maria Eduarda de Castro
Gomes uma secreta paixão e não deixava de a visitar diariamente a
pretexto de assistir clinicamente a sua governanta inglesa, Miss
Sarah.Numa dessas visitas como médico à residência dos castro Gomes, -
na rua de S. Francisco - percebe-se claramente a existência de uma
reciprocidade de sentimentos, da qual, Dâmaso Salcede acabará
inadvertidamente, por ser testemunha, não escondendo a sua surpresa e o
seu despeito, que o levara a congeminar uma forma de
vingança.Entretanto, Carlos e Maria Eduarda vivem já o seu romance na
nova Quinta dos Olivais, comprada a Craft. Assim corre o tempo dividido
entre as apressadas idas ao Ramalhete e a clandestina vida nos Olivais.
Certo dia, no Ramalhete, Carlos e Ega trocam algumas confidência sobre a
vida atribulada do primeiro, que procura esconder do avô a situação
familiar da sua amante, conhecida em Lisboa, como a senhora Castro
Gomes.Será, pois, com a maior estupefacção que Carlos receberá em sua
casa o próprio Castro Gomes que lhe esclarece, com algum acinte, que
aquela que todos dão como sua esposa não é senão a sua amante, com quem
vive e a quem paga uma existência requintada em troca de companhia.
Perante o desespero e a humilhação de Carlos, Ega sugere-lhe que
usufrua, como vinha fazendo até aí, desse amor ilegítimo.Porém, a súbita
chegada de Monsieur Guimarães vai precipitar o fim da história, ao
trazer consigo num pequeno cofre, o espólio de Maria Monforte, mãe de
Maria Eduarda, que morrera em Paris. Nesse espólio confirma-se que Maria
Monforte fora a esposa que levara ao suicídio Pedro da Maia, pai de
Carlos. A tragédia precipita-se - os dois amantes eram, no final,
irmãos. Tal revelação levará à morte o velho Afonso da Maia, ao
afastamento dos dois amantes, à partida de Carlos para o estrangeiro.Só
dez anos depois Carlos voltará a Portugal, reencontrando-se com os
amigos de sempre, e sobretudo, com Ega, com quem fará um saldo do
passado, carregado de ironia e cepticismo, uma síntese dos seus destinos
pessoais e do destino colectivo do país, como nação. Vidas falhadas ou
ainda a tempo de apanhar o futuro?
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Os Lusíadas - Luís de Camões
Postado por Marlon às 18:44
O renascimento literário atingiu seu ápice em
Portugal, durante o período conhecido como Classicismo, entre 1527 e
1580. O marco de seu início é o retorno a Portugal do poeta Sá de
Miranda, que passara anos estudando na Itália, de onde traz as inovações
dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decassílabo e as
posturas amorosas do Doce stil nouvo. Ma
Os Irmãos Karamazov - Dostoievski
Postado por Marlon às 18:43Em Os Irmãos Karamazov, Dostoievski se pôs inteiro. Suas vivências – o período na Sibéria, o pai autoritário, a epilepsia, a morte de um filho – estão todas ali. Mas também está ali um vasto painel da Rússia, de suas variadas classes, de seus homens, mulheres e profetas, os bêbados, os carbonários, os criminosos. É como uma síntese de seus livros anteriores. Se a concepção religiosa de Dostoievski e sua prosa dramática pudessem ser separadas, essa habilidade de mergulhar em vozes interiores e traçar um amplo e complexo painel social não existiria. E Dostoievski não seria tão caro ao leitor sensível, muitas vezes na adolescência, que é tão tocado por sua intensidade moral, sem precisar adotar seu moralismo. Seu grande contemporâneo e rival, Tolstoi, para ele não ia além da descrição da realidade em seus detalhes, era um “historiador”; para Tolstoi, Dostoievski não conseguia olhar o mundo a distância, para então iluminar o detalhe. Como estuda George Steiner em seu Tolstoy or Dostoevsky – An Essay in Contrast, eles tinham religiões diferentes: o humanitarianismo de Tolstoi, sua utopia coletivista, era para Dostoievski equivalente à promessa de felicidade terrena, como a do Inquisidor; a ortodoxia masoquista de Dostoievski, sua crença no sofrimento redentor, era para Tolstoi uma fuga da paz e da razão. Em outra passagem conhecida de Os Irmãos Karamazov, o diálogo entre o Diabo e Ivan, o Diabo diz que pode dar a Ivan mais originalidade que um enredo de Tolstoi. Mas nós não precisamos escolher entre Tolstoi e Dostoievski. Apenas ver o que cada um tem de mais original.
Os Escravos - Castro Alves
Postado por Marlon às 18:41
Os Escravos é uma coleção de poesias publicadas
12 anos a morte do poeta. Poesia social em sua forma mais pura, Os
Escravos centra-se sempre no mesmo tema: a liberdade dos escravos.
Apesar de uma certa idealização em alguns momentos, a poesia
lírico-amorosa é menos idealizada que a dos contemporâneos do autor. Mas
sempre, sempre, as poesias falam do negro escravo, cativo e maltratado
pelos senhores.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Os anos mais antigos do passado - Carlos Heitor Cony
Postado por Marlon às 19:04
Carlos Heitor Cony
tinha passado duas décadas sem publicar romance quando ressurgiu com
Quase memória (1995). Como cronista, publicou pouco em livro: Da arte de
falar mal (1963), O ato e o fato (1964) e agora este Os anos mais
antigos do passado que, como Quase memória, é livro que já nasce
clássico. Uma reunião de crônicas que vale como um volume de memórias.
Embora fragmentado em relatos de viagens, em recordações da infância, em
alegorias de fatos políticos (cheias de humor e sarcasmo), em registros
da rotina do mundo fixados com o pulso do ficcionista, a espinha dorsal
do livro é uma longa e mansa busca do tempo perdido. A sua fragmentação
é condicionada sobretudo pelo exercício diário que define o gênero, mas
suas páginas não deixam de nos transmitir o gosto difuso e fascinante
da grande aventura da vida. Seja através da visão retrospectiva dos anos
mais antigos do passado (elemento do memorialismo), seja pela notação
diária dos fatos transpostos num lirismo de primeira água. São as marés
montantes do passado, como queria Mário Quintana, que chegam sem avisar,
e tanto são motivo de apreensão quanto de surpresa e maravilhamento. A
face amargurada, marcante em Cony, dá sempre lugar a um certo tom
elegíaco e à índole lírica. As suas memórias, que a rigor talvez Cony
nunca escreveria, aqui estão, como em Quase memória, disfarçadas, quem
sabe exorcizadas. É a sua história, o belo e o feio da humana lida, que
aos poucos ele dilui e transfixa nos romances e nas crônicas. Neles,
Cony sabe rir como poucos deste circo do mundo, com toda sua carga de
frustrações e desastres, sua beleza e sua glória. Ri de um universo que é
regido dos altos tronos, seja por Deus, o diabo ou um ser qualquer que
se arrogue. Descido aos infernos de sua saudade e de sua incompreensão
das coisas, o cronista revive uma fantasia de carnaval antigo, as rezas
da mãe contra possíveis desgraças, os extraordinários balões que o pai
fabricava, os tantos personagens de rua do subúrbio do menino, o amigo
Otto Maria Carpeaux, a visão das mãos do pai morto, impressionante
visão: “Mãos que começaram a ficar mais brancas e mais quietas: dentro
delas, o nada cheio de tudo o que ele fora”. O lirismo é mesmo o
elemento fixador desses movimentos de fluxo e refluxo da memória, pois
Cony vê as coisas com os olhos transfigurados do poeta. Se podemos dizer
que o seu humor é uma doce herança machadiana, na crônica sua veia
lírica só encontra paralelo em escritores da estirpe de Rubem Braga,
Antonio Maria e Drummond. E também José Carlos Oliveira ou o Tabajara
Ruas de Um porto alegre (Mercado Aberto, 1998). São cronistas que
escrevem iluminados pelo poeta que não deixam de ser. Líricos deste
tempo escuro e trepidante.
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Olhai os Lírios do Campo - Érico Veríssimo
Postado por Marlon às 19:03
Modernismo da segunda fase. Olhai os Lírios do Campo é dividido
em duas partes de doze capítulos cada. Na primeira parte Eugênio, o
personagem principal, vai tendo flashbacks de seu passado enquanto se
dirige ao hospital onde está Olívia. Vai lembrando sua infância pobre,
quando tinha pena de seu pai e era humilhado na escola por sua condição
social, a escola de Medicina (o preço dele ir à escola de Medicina foi
não esmerarem-se na educação de seu irmão Ernesto, que se torna um
vagabundo). Na faculdade conhece Olívia, que se torna uma grande amiga e
com quem tem uma noite de amor no dia do estopim da Revolução de 30.
Eugênio conhece a futura esposa, Eunice, num atendimento a uma empregada
desta e casa-se com ela apenas para ascender socialmente, sem ter
nenhum amor. Preso num casamento sem amor, num emprego de fachada na
fábrica do sogro rico e com uma amante a quem não ama, Eugênio
reencontra Olívia, que estava numa colônia de italianos. Ela
apresenta-lhe Anamaria, sua filha. No presente (finais da década de
1930), ao chegar ao hospital já mais otimista sobre o estado de saúde de
Olívia do que na partida, Eugênio recebe a notícia de que ela morreu. A
Segunda parte, passada no presente após a morte de Olívia, é no
presente e intercalada por partes de algumas das cartas que Olívia
escreveu para Eugênio e nunca lhe enviou. Eugênio toma coragem e
separa-se da esposa, abandona a amante, vai viver com a filha (na casa
onde Olívia morava com um casal de alemães) e volta a clinicar para os
pobres. Eugênio vai assim, sempre com a memória de Olívia, mesmo que ela
vá desaparecendo aos poucos, redimindo-se e vendo melhor a pobreza de
que sempre tinha tanto asco. Mas não sem seus momentos negros, como o
caso de Simão e Dora. Dora é a filha de sua amante (que é uma mãe
negligente) com um engenheiro fascista e workaholic que dá mais
importância ao prédio que está construindo do que a ela. Ela se apaixona
por Simão, um jovem e pobre estudante judeu. A união é desaprovada
pelos pais e ela acaba morrendo num aborto feito por uma parteira após
Eugênio negar-lhes o ato. Mas por todo o tempo Eugênio vai se ligando a
uma vida mais simples, a amigos mais simples e verdadeiros como o
céptico Dr. Seixas a quem admirava quando criança. A história acaba com
ele e Anamaria saindo para passear num ensolarado dia de verão de Porto
Alegre.
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O Vermelho e o Negro - Stendhal
Postado por Marlon às 19:02
Filho de um humilde carpinteiro,Julien Sorel sonha com uma
vida intensa e gloriosa. Sua desmedida ambição o leva a conviver com a
burguesia provinciana e com a aristocracia parisiense. Ainda assim
Julien continua a ser um pobre no mundo dos ricos. A partir desses
elementos, Stendhal criou um magistral romance psicológico, considerado o
mais significativo da literatura francesa do século XIX.
O Uruguai - Basílio da Gama
Postado por Marlon às 19:01
Em O Uruguai Basílio da Gama faz algumas inovações: usa versos
decassílabos brancos e um tema contemporâneo para um poema épico feito
por dois motivos: exaltar o Marquês de Pombal e sua política, e criticar
os jesuítas. No poema é narrada, apesar de ainda exaltar a natureza
(que não chega a ser bucólica), a tomada de Sacramento pelos portugueses
após o Tratado de Madri em 1750. No drama principal, além dos
personagens jesuítas caricaturizados e do herói português que comandou a
tomada, os índios Sepé (o famoso Sepé Tiaraju), Cacambo e Lindóia. Sepé
morre logo no começo e depois o também guerreiro Cacambo morre.
Lindóia, que era sua esposa, fica extremamente deprimida e deixa que uma
cobra a pique.
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O Tronco do Ipê - José de Alencar
Postado por Marlon às 19:00
A história tem comoo cenário a Fazenda Nossa Senhora do
boqueirão, na zona da mata fluminense. Um velho tronco de ipê, outrora
frondoso, representa a decadência da fazenda. Bem próximo, numa caban,
mora o negro Benedito, espécie de feiticeiro, que guarda o segredo da
família. Mário, o personagem central, que viveu desde criança na
fazenda, juntamente com a prima Alice, descobre que o pai da moça,
Joaquim, é o assassino de seu pai. Desesperado, Mário tenta suicídio,
pois não pode se casar com a filha de um assassino. Mas o negro Benedito
o impede, contando-lhe o segredo: Joaquim não matou o pai de Mário. Ele
foi tragado pelas águas do Boqueirão e está enterrado junto ao tronco
do ipê. Mário reconcilia-se com a vida e casa-se com Alice.
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