O Encilhamento é
um romance de primeira ordem, com intrigam mistura de elemento
paisagístico e de análise psicológica numa língua deliciosa, a que não
faltam palavras de gíria de época e de gírias que permaneceram.
Nascido na transição do realismo para o simbolismo, Taunay
contraponteia magnificamente um romance de amor com as cenas de desvario
das ruas, ou com reuniões galantes e elegantes, onde se desenrolavam os
episódios do encilhamento.
Há caricaturas esplêndidas. Aquelas personagens existiram
mesmo, e os estudiosos têm dificuldades em identificar figuras dos fins
do Império e do início da República.
Crises econômico-finaceiras foram exploradas com graça.
Na segunda edição, aparece O Encilhamento afirmando o nome do
verdadeiro autor.
Publicado em folhetins da "Gazeta de Notícias", do Rio de
Janeiro, em 1893, teve então o melhor acolhimento do público fluminense.
Pouco depois a Livraria Magalhães editou-o em volume, conservando,
contudo, o criptônimo do folhetinista: Heitor Malheiros.
Novela vivaz, interessante, variada, repleta de documentos
humanos, a historiar uma série de episódios pitorescos e curiosos,
aspectos característicos da vergonha da época, como aquela que, no Rio
de Janeiro, determinara a inflação papelista, exagerada, em 1890.
De perto observou o romancista estas cenas deprimentes de
pilhagem e desvairamento, a que veio por cobro à reação florianista,
após o 23 de novembro.
Foi uma das inúmeras vítimas do tremendo craque de 1891 - 1892
que arrasou as grandes e velhas instituições financeiras fluminenses,
essas cujos títulos desde muito eram para o público, valores de inteira
confiança quase tão reputados pela solidez quanto os papéis de estado,
como o antigo Banco do Brasil, por exemplo. Daí o conhecimento de causa
do autor em descrever os cambalachos, negociatas e tranquibérnias dos
grandes e insaciáveis piratas bolsistas e sua seqüela de devoradores da
economia pública e particular.