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sábado, 20 de fevereiro de 2010
Noite na Taverna - Álvares de Azevedo
Postado por Marlon às 04:41
Noite
na Taverna é uma narrativa (novela ou conto) construída em sete partes,
contendo epígrafes e os nomes de cada personagem, como subtítulos,
antecedendo as narrativas, contadas em uma taverna. Há, na última
parte, o entrelaçamento da história de Johann e de alguns personagens. Primeira parte
Johann, Bertram, Archibald, Solfieri, o adormecido, Arnold e outros
companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas,
enquanto as mulheres dormem ébrias sobre as mesas. Falam das noites
passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito
da imortalidade da alma, sendo mais velho, parece não crer nela, por
isso, Archibald o censura pelo materialismo. Solfieri acredita na
libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só
se voltam para Deus quando estão próximos da morte, Deus é, pois, a
"utopia do bem absoluto". Segunda parte Solfieri
decide contar sua história, conforme sugere Archibald, desejoso de
histórias fantásticas, cheias de sangue e paixão. Conta, então, que uma
noite, ao vagar por uma rua, em Roma, passa por uma ponte, quando as
luzes dos palácios se apagam. Vê a sombra de uma mulher chorando, numa
escura e solitária janela, parecendo uma estátua pálida à lua. Ela
canta mansamente, saindo para a rua, sempre seguida por Solfieri. Pela
manhã, ele percebe que está em um cemitério, sem saber, ao certo, se
adormeceu ou desmaiou. Sente muito frio, adoece, delira, tendo visões
com a bela e pálida mulher. Retorna a Roma um ano depois, sem encontrar
alento nos beijos das amantes, perseguido pela visão da mulher do
cemitério. Certa noite, muito bêbado, após uma orgia, se encontra num
templo muito escuro e, vendo um caixão semi-aberto, crê que a mulher
está lá dentro. Arranca-lhe a mortalha, faz amor com ela, que, pela
madrugada, dá sinais de vida, retornando da catalepsia para desmaiar em
seguida. Solfieri coloca sua capa sobre a moça e foge com ela. Encontra
com o coveiro e depois com a patrulha, que o considera um ladrão de
cadáveres. Justifica-se, apresentando a esposa desfalecida. Ao chegar
em casa, a moça grita, ri e estremece, morrendo 2 dias depois. Solfieri
levanta o piso do quarto para dar lugar ao túmulo, suborna, antes, um
escultor que lhe faz em cera a estátua da virgem. Aguarda um ano para
estátua definitiva ficar pronta. Volta-se para Bertram, recordando-lhe
a visita deste em sua casa e de a ter visto por entre véus, sendo a ela
apresentado como "uma virgem que dormia". Os amigos surpresos com a
história desejam saber se se trata de um conto, mas ele jura por todo
mal existente que não. Como prova, mostra sob a camisa a grinalda de
flores mirradas, pertencente à moça. Terceira parte A
seguir, Bertram, um dinamarquês ruivo, de olhos verdes, conta que,
também, uma mulher, uma donzela de Cadiz, Angela, o levou à bebida e a
duelar com seus três melhores amigos e a enterrá-los. Quando decide
casar com ela e consegue lhe dar o primeiro beijo, recebe carta do pai,
pedindo seu retorno à Dinamarca. Encontra o velho já moribundo, chora,
mas por saudades de Angela. Dois anos depois, vende toda fortuna,
coloca o dinheiro num banco de Hamburgo e volta para a Espanha.
Encontra a moça casada e mãe de um filho. A paixão persiste e os
amantes passam a se encontrar às escondidas, vivendo verdadeiras
loucuras noturnas até que o marido, enciumado, descobre tudo. Uma
noite, Angela, com a mão ensangüentada, pede ao rapaz para subir até
sua casa e por entre a penumbra, ele encontra o marido degolado e sobre
seu peito, o filho de bruços, sangrando. Angela deseja fugir em sua
companhia, saem pelo mundo, ela vestida de homem vive grandes orgias.
Foge mais tarde, deixando o rapaz entregue às paixões e vícios. Bertram
bêbado e ferido é atropelado por uma carruagem, diante de um palácio,
sendo socorrido por um velho fidalgo, pai de uma bela menina, que, mais
tarde, foge para casar-se com Bertram. Vendida em uma mesa de jogo a
Siegfried, um pirata, ela o mata e o envenena, afogando-se a seguir. De
dissipação em dissipação, o rapaz resolve matar-se no mar na Itália,
mas salvo por marinheiros, fica sabendo que a pessoa que o salvou
acabou, acidentalmente, morta por ele. São socorridos por um navio e
Bertram é aceito a bordo em troca de que combatesse se necessário. Mas,
apaixona-se pela pálida mulher do comandante e, durante uma batalha
contra um navio pirata, ele o trai, fazendo amor com a mulher. O navio
encalha em um banco de areia, despedaçando-se aos poucos - os náufragos
agarram-se a uma jangada e, em meio à noite e à tempestade, o casal
vive horas de amor. Vagam a ermo pelo mar as três figuras, sobrevivendo
de bolachas e, mais tarde, tiram a sorte para ver quem morrerá. O
comandante perde, clama por piedade, mas Bertram se nega ouvi-lo,
prefere a luta. Mata o comandante, que serve, por dois dias, de
alimento a Bertram e a mulher. Ela propõe morrerem juntos, ele aceita.
O casal gasta as últimas energias se amando. A mulher, enlouquecida,
começa a gargalhar, Bertram febril a sufoca. Ela é levada pelas águas,
enquanto o rapaz é salvo pelo navio inglês, Swallow. Quarta parte A
próxima história é a de Gennaro. Sua narrativa é sobre um velho pintor,
Godofredo Walsh, casado com uma jovem de 20 anos, Nauza, que lhe serve
de modelo e é amada como a filha do primeiro casamento, Laura, garota
de 15 anos. Gennaro, aos 18 anos, é aprendiz de pintor e aluno de
Godofredo. Vive na casa do mestre como um filho, recebendo, no
corredor, antes de dormir, beijos de Laura. Um dia, desperta e a
encontra em sua cama, perdendo a cabeça diante da estonteante beleza da
virgem. A cena se repete ao longo de 3 meses, quando a menina lhe diz
que deve pedi-la em casamento, porque espera um filho. O moço nada
responde, ela desmaia e se afasta, tornando-se cada dia mais pálida. O
pintor definha com a tristeza da filha, passeia pelos corredores à
noite e deixa de pintar. Uma noite, Gennaro é chamado, porque Laura
está morrendo e murmura seu nome. O moço aproxima-se e, ela,
sussurrando-lhe ao ouvido o perdão, diz que matou o filho e dá o último
suspiro. O velho passa o ano endoidecido, chora todas as noites no
quarto da morta, arfando ou afogando-se em soluços. Enquanto isso, o
rapaz e Nauza amam-se em seu leito. Uma noite, o velho o arranca da
cama e o leva até o dormitório de Laura. Levanta o lençol que cobre um
painel, descortinando a imagem moribunda de Laura, que murmura algo no
ouvido do cadavérico Gennaro. Atordoado, o aprendiz confessa tudo a
Godofredo. No dia seguinte, o velho se comporta naturalmente, sem
mencionar o ocorrido, lamenta apenas a falta da moça. Sonâmbulo, repete
a mesma cena ao longo de várias noites e, numa delas, Nauza é
testemunha. Uma noite de outono, após a ceia, Walsh convida Gennaro
para um passeio fora da cidade. Após contornar um despenhadeiro, pede
ao rapaz para esperá-lo, dirigindo-se a uma cabana de onde sai uma
mulher. Depois, junta-se a Gennaro e ao chegar à beira de um penhasco,
descreve a traição, envolvendo a filha e a esposa. Pede ao rapaz para
jogar-se precipício abaixo. Gennaro assim o faz, mas, após uma noite de
delírios, acorda salvo por camponeses, em uma cabana. Decide retornar à
casa de Walsh e pedir-lhe perdão, entretanto encontra pelo caminho o
punhal do pintor. Decide vingar-se, mas encontra Nauza e Godofredo
envenenados e apodrecidos, talvez, com o veneno obtido com a mulher da
cabana. Quinta parte É a vez de Claudius Hermann
narrar suas loucuras e orgias e de como desperdiçou uma fortuna no
turfe, em Londres, onde vê uma bela amazonas, a duquesa Eleonora,
esposa do duque Maffio. Antes de prosseguir com a história, Bertram
indaga sobre a poesia, descrita como um punhado de sons e palavras vãs,
enquanto Claudius a considera um prazer extremado, o que há de belo na
natureza. Os colegas os interrompem, pedindo ao narrador que retome a
história. No dia em que avista a bela duquesa, Hermann dobra sua
fortuna e, à noite, no teatro, a vê, mais uma vez. Ao longo de 6 meses,
encontra a senhora em bailes e teatros até que decide comprar de um
criado a chave do castelo. Entra, sorrateiramente, quando ela já está
adormecida e coloca-lhe nos lábios narcótico. Aguarda que durma
profundamente e, então, a possui, repetindo o fato, noite após noite,
durante um mês. Certa vez, após um baile, entra no quarto de Eleonora e
vendo um copo com água junto à sua cabeceira, derrama nele o narcótico.
Entram a duquesa e o duque que, antes de sair do quarto, prometendo-lhe
retornar, bebe um pouco do líquido, seguido por ela. Claudius sabe que
Maffio não virá ao quarto e que Eleanora dormirá profundamente. Ergue-a
do leito e foge com ela numa carruagem, chegando, ao meio-dia, a uma
estalagem. Mais tarde, a duquesa desperta e surpresa por não estar em
seu palácio, grita por socorro, desespera-se, ameaçando jogar-se pela
janela. O rapaz lhe declara profundo amor e lhe descreve o rapto,
dando-lhe duas horas para pensar se fica ou não com ele. Inconformada a
princípio, decide aceitar o amor oferecido, pois a família e amigos,
certamente, não a aceitariam mais. Ao retornar, Claudius a encontra
debruçada sobre um de seus versos. Interrompe a narrativa, retira um
papel do bolso, mostrando o verso aos colegas. Conta que Eleonora lhe
respondeu que ficava, mas caiu desmaiada.Dito isso, o rapaz tomba por
sobre a mesa, calando-se. Archibald o sacode, implora para que
desperte. Solfieri e os companheiros desejam saber sobre a duquesa, mas
o rapaz está confuso, não se recorda de mais nada.Ouvem a gargalhada do
louro Arnold que despertando, dá continuidade ao relato, dizendo que um
dia Claudius entrou em casa e encontrou sobre a cama ensopada de sangue
dois cadáveres; o Duque de Maffio matou Eleonora e enlouquecido,
suicidou-se em seguida. Arnold estende a capa no chão e volta a dormir.
Sexta parte Johann decide contar sua história. Está em
um bilhar em Paris, jogando com Artur que, numa jogada definitiva para
Johann, se encosta à mesa, por descuido ou de propósito. A mesa
estremece e Johann é levado à derrota. O perdedor, enlouquecido de
raiva, desafia o parceiro para um duelo. Antes porém, Artur pede ao
adversário que, caso morra, entregue a carta, que está em seu bolso, e
o anel no seu dedo, para uma mulher que dirá, mais tarde quem é. Saem
com duas pistolas, uma carregada, a outra não; Artur é alvejado e
morre, apontando para o bolso. Johann tira-lhe o anel, colocando-o em
seu dedo e, a seguir, encontra dois papéis no bolso do morto: uma carta
para a mãe, e outra indicando o horário e endereço para um encontro. O
rapaz decide tomar o lugar de Artur. Descobre que aí mora a virgem
namorada do rival que acaba na cama com Johann, num quarto escuro. De
repente, interrompe a narrativa, enche o copo e o bebe com
estremecimento. Prossegue, narrando que ao sair do quarto, encontra um
vulto à porta, cuja voz lhe soa familiar. É atacado com uma faca, luta
ferozmente com o vulto; um homem desconhecido, que deixa cair o punhal,
morrendo sufocado pela mão de Johann. Ao se retirar, tropeça numa
lanterna e decide ver o rosto do estranho, estremece, a luz da lanterna
se apaga. Vai arrastando o corpo até um lampião e, para sua surpresa,
descobre tratar-se de seu irmão. Louco de terror retorna ao quarto,
mas, outra vez, interrompe a narrativa, bebe mais um copo. Diz que
encontrando a donzela desmaiada, a levou para a janela e percebeu que
estava com a irmã nos braços. Última parte É noite
alta na taverna, todos dormem. Entra uma mulher pálida, vestida de
negro, procurando alguém com uma lanterna na mão. Vê Arnold, tenta
beijá-lo, mas o deixa em paz, voltando-se para Johann, tornando-se,
subitamente, sombria. Traz, além da lanterna, um punhal, que crava no
pescoço deste último, enxugando as mãos ensangüentadas no cabelo do
ferido. Vai até Arnold e o desperta. Ele a reconhece; é a irmã de
Johann, agora transformada na prostituta Giorgia, a quem Arnold pede
que lhe chame de Artur, como outrora. O rapaz recorda-se do duelo, do
tempo passado no hospital para se recuperar, o desespero e a vida de
devassidão a que se entregou por não encontrar mais Giorgia. Deseja
ficar junto dela agora, mas a moça acha que é tarde demais, pede-lhe
apenas um beijo de despedida, porque vai morrer. Leva Arnold até o
corpo de Johann, dizendo que o matou por ter sido por ele desonrada, a
ela que era sua irmã. Arnold horrorizado cobre o rosto, enquanto
Giorgia cai ao chão. Arnold aperta o punhal contra o peito e cai sobre
ela, sufocando os dois gemidos de morte. A lâmpada apaga-se.