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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

UEMS divulgou o resultado do processo seletivo 2010 - Mundovestibular.com.br


A UEMS divulgou hoje resultado do processo seletivo 2010, conforme publicado no edital do vestibular 2010 da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) a lista de aprovados no processo seletivo 2010 da instituição.

Os alunos poderão acessar a lista com os nomes por meio do site do
http://www.vestibular.uems.br

Os vestibulandos poderão acessar a lista através do site da UEMS, www.uems.br os aprovados terão dez dias para providenciar a documentação exigida para a matrícula que deve acontecer nos dias 4 e 5 de fevereiro.
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Unesp já tem as notas do Enem - Mundovestibular.com.br

A Fundação Vunesp confirmou na noite desta quarta-feira (20) que já recebeu a pontuação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dos candidatos que prestaram o vestibular da Unesp (Universidade Estadual Paulista). As notas foram enviadas por volta das 21h pela direção do Inep, órgão de pesquisas do MEC (Ministério da Educação) que é responsável pelo exame, segundo a fundação.

Em compromisso assinado entre a universidade e o Inep, em novembro de 2009, a nota da parte objetiva do Enem, que corresponde às 180 questões de múltipla escolha, deveria ser entregue até 20 de janeiro para a Vunesp. A Unesp decidiu continuar a usar o exame após verificar que mais de 90% dos candidatos usaram o exame para compor nota do vestibular do ano passado.

O MEC fixou o dia 5 de fevereiro como o prazo máximo para a divulgação do resultado do Enem -
no entanto, cogita-se que a entrega seja antecipada para o fim de janeiro. O ministério julga que, com essa data-limite, o início das aulas nas universidades não será afetado em 2010.

Depois do adiamento do Enem para 5 e 6 de dezembro, instituições tradicionais, como USP e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), desistiram de usar o exame. Segundo as universidades, não haveria tempo hábil para usar a pontuação como bônus no processo seletivo. O Enem vale até 10% da nota final dos alunos do vestibular da Unesp.

No próximo dia 29, a universidade divulgará as listas de aprovados e de espera, assim como a classificação de todos os concorrentes. A matrícula será feita nos dias 8 e 9 de fevereiro. Para obter mais informações, ligue para o Disque Vunesp: 11 3874-6300 (de segunda à sexta-feira, das 8h às 20h), ou acesse o site da fundação. Leia as últimas notícias de Vestibular e Concursos
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Estudantes têm nova opção de formação superior com graduação internacional que começa no Brasil - Mundovestibular.com.br

Escolher em que faculdade estudar é mais uma decisão importante na vida de um aluno. Além de pensar na carreira que vai seguir, há muitas opções de faculdades, no Brasil e no exterior. A Australia International Business School (AIBS) apresenta uma proposta inédita e única para os brasileiros: cursos superiores de Business Administration (Administração de Empresas) e Tourism and Hospitality Management (Gerenciamento em Turismo e Hotelaria), 100% ministrados em inglês, que o estudante inicia no Brasil e termina na Austrália. As inscrições já estão abertas e o início das aulas da primeira turma será em março.

Com esse programa inédito, os estudantes têm a oportunidade de obter seu diploma em apenas três anos, sendo 18 meses cursados no Brasil e o restante em uma das universidades parceiras da AIBS, localizadas em diversos lugares da Austrália. O valor da mensalidade, tanto na fase brasileira quanto na australiana, é compatível com o das universidades brasileiras de alto nível. Assim, além de oferecer vivência internacional, essa nova opção representa economia de tempo e dinheiro.

Na AIBS, as classes são pequenas – no máximo, 25 alunos – garantindo integração e melhor aprendizado. Os estudantes terão aulas com uma equipe qualificada de professores estrangeiros e brasileiros, com experiência acadêmica e de mercado de trabalho. Aulas complementares de inglês também são oferecidas gratuitamente pela AIBS para ajudar os estudantes que precisam de reforço no idioma. Tudo isso faz com que os alunos da AIBS iniciem, com vantagem, suas futuras carreiras.

“Vivemos em uma cultura global e interconectada,” afirma o Diretor da AIBS, Ter Yeow Ming. “Acreditamos que os estudantes brasileiros podem se beneficiar com uma experiência de ensino internacional, acessível a todos e voltada para um ambiente de trabalho dinâmico.”

Percurso acadêmico

Nos três primeiros meses de curso, os alunos passam pelo Foundation Course, um preparatório com o objetivo de ensinar conceitos fundamentais de Economia, Marketing,
Contabilidade e Gerenciamento, com aulas realizadas em São Paulo. Também haverá aulas de Business English (Inglês para Negócios), para que os alunos se familiarizem com vocabulário, expressões e formas de comunicação usados no mercado de trabalho.

Na segunda etapa, o Advanced Diploma, também em São Paulo, os alunos terão aulas específicas da carreira escolhida, durante 15 meses. Ao final, o aluno recebe um certificado que permite que ele ingresse em uma das universidades australianas parceiras. A terceira e final etapa do programa, o Bachelor’s Degree, acontece na Austrália, onde os estudantes terão, pelo menos, 18 meses de curso, de acordo com a carreira ou a universidade escolhidas.

Por que Austrália?

A Austrália é um país seguro e com um excelente clima. Outras características são as diversificadas e belas paisagens e um povo caloroso e amigável. Na Austrália, além de estudar, os estudantes estrangeiros poderão trabalhar até 20 horas semanais durante as aulas, e período integral nas férias.

“O grande diferencial da educação no país é a qualidade – de ensino, da experiência de aprender, da infraestrutura e da vida – que os estudantes brasileiros irão aproveitar enquanto estiverem estudando na Austrália”, declara Mark Argar, presidente do conselho consultivo da AIBS e ex-cônsul geral da Austrália em São Paulo.

Com sua excelência de ensino e com custos mais acessíveis em relação a outros países, atualmente, a Austrália tem cerca de 500 mil estudantes estrangeiros.

Background da AIBS

A AIBS chega ao Brasil por meio do Melior Education Group, instituição direcionada a se tornar uma das líderes mundiais em ensino privado. O grupo tem uma rede de escritórios e campi em diversos países na Ásia e Oceania, entre os quais na própria Austrália, China, Índia, Tailândia, Vietnã e Singapura. O crescimento do Brasil nas últimas duas décadas, sobretudo na área de educação, fez com que o país passasse a ser visto como estratégico para a expansão do grupo fora do continente asiático.
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Alunas da Anhembi Morumbi se destacam em premiações artísticas

Atriz há 20 anos, Simone Grande foi buscar no curso de Rádio e TV da Universidade Anhembi Morumbi a formação que faltava para explorar novas possibilidades de atuação dentro do universo artístico do qual já fazia parte.

A peça BUUUU!! A Casa do Bichão, a qual pela primeira vez assina o roteiro sozinha e atua, foi vencedora do Prêmio APCA 2009, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, na categoria Teatro Infantil. “O conhecimento adquirido no curso me passou mais segurança e embasamento. Fiquei mais tranqüila e à vontade para escrever”, afirma a atriz Simone Grande, que faz parte do grupo As Meninas do Conto.

Aluna do 6º semestre de Rádio e TV, a atriz Clarissa Rockenbach segue o mesmo caminho de sucesso de Simone. No espetáculo As Meninas, baseado no romance de Lygia Fagundes Teles e adaptação de Maria Adelaide Amaral, a atriz não só aparece em cena como também responde pela produção. O trabalho realizado em parceria com atrizes de renome como Clarissa Abujamra foi reconhecido com o segundo lugar no Prêmio do Guia da Folha – Melhores de 2009.

“Além de despertar interesse nos alunos que escolhem o curso como primeira faculdade, a graduação de Rádio e TV oferece também conteúdo para profissionais que já estão no mercado de trabalho, em áreas afins, mas que precisam de um embasamento teórico para avançar em suas áreas de atuação”, afirma Valdir Baptista, coordenador do curso de Rádio e TV da Anhembi Morumbi.

Ao final do curso o aluno da universidade estará apto a atuar como produtor, administrador de produção e programação, roteirista, editor, diretor de programas e todas as demais funções em rádio, vídeo e televisão.
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Fatecs de SP liberam listas de segunda chamada do vestibular


As Faculdades de Tecnologia de São Paulo (Fatecs) divulgaram, na tarde desta quinta-feira, a segunda chamada do vestibular 2010. As listas devem ser conferidas nas próprias unidades das Fatecs onde os candidatos pretendem estudar. As matrículas destes novos conocados devem ser realizadas nesta sexta-feira, 22 de janeiro.

No site do vestibular (www.vestibularfatec.com.br) estão disponíveis as listas gerais de classificação, de primeira chamada e de suplência.

Caso as vagas não sejam inteiramente preenchidas, as Fatecs podem realizar novos chamamentos, novamente nas próprias unidades de ensino.

A prova realizada pelos vestibulandos foi composta por 54 questões objetivas e um exercício de redação. Confira a prova e o gabarito.

O curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, na Capital paulista, é o mais disputado, com 663 candidatos para 40 vagas no turno da manhã (densidade de 16,58). O mesmo curso tem concorrência de 16,36, no turno da noite, e de 16,03 no curso noturno da unidade da zona leste da cidade.

As Fatecs oferecem dez cursos superiores de tecnologia e têm, atualmente, mais de 5 mil alunos. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (11) 3471-4103 (para Grande São Paulo) e 0800 596 9696 (demais localidades).
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Memorial de Aires -Machado de Assis

Memorial de Aires, última obra de Machado de Assis, foi publicada em 1908, mesmo ano da morte do escritor. Como Memórias Póstumas de Brás Cubas, esta obra não tem propriamente um enredo: estrutura-se em forma de um diário escrito pelo Conselheiro Aires (personagem que já aparecera em Esaú o Jacó), onde o narrador relata, miudamente, sua vida de diplomata aposentado no Rio de Janeiro de 1888 e 1889. Sucedem-se, nas anotações do conselheiro, episódios envolvendo pessoas de suas relações, leituras do seu tempo de diplomata e reflexões quanto aos acontecimentos políticos. Destaca-se, dando uma certa unidade aos vários fragmentos de que o livro é composto, a história de Tristão e Fidália. Fidélia, viúva moça e bonita, é grande amiga do casal Aguiar, uma espécie de filha postiça de D. Carmo. Tristão, afilhado do mesmo casal, viajara para a Europa, em menino, com os pais. Visitando, agora, o Rio de Janeiro, dá muita alegria aos velhos padrinhos. Tristão e Fidélia acabam por apaixonar-se e, depois de casados, seguem para a Europa, deixando a saudade e a solidão como companheiros dos velhos Aguiar e D. Carmo. Memorial de Aires é apontado como o romance mais projetivo da personalidade e da vida de Machado de Assis. Escrito após a morte de Carolina, revela uma visão melancólica da velhice, da solidão e do mundo. D. Carmo, esposa do velho Aguiar, seria a projeção da própria esposa de Machado, já falecida. A ironia e o sarcasmo dos livros anteriores são substituídos por um tom compassivo e melancólico, as personagens são simples e bondosas, muito distantes dos paranóicos e psicóticos dos romances anteriores. Alguns vêem no Memorial de Aires uma obra de retrocesso a concepções romantizadas do mundo; outros tomam o romance como o testamento literário e humano de Machado de Assis.
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Memorial do Convento -José Saramago

   Romance em tom de crônica histórica. José Saramago é escritor da nova geração do romance em Portugal. Dedica-se, além do romance, ao conto e ao teatro, tendo suas primeiras produções datadas de 1966. Memorial do Convento é de 1982 e representa uma investida no campo da narrativa histórica. O volume percorre um período de aproximadamente 30 anos na História de Portugal à época da Inquisição. O cenário é rico, registrando não só o fato histórico, mas reconstituindo a vivência popular, numa viagem a diferentes povoados ao redor de Lisboa. O rei D. João V necessitava de herdeiros e o ventre de D. Maria Ana não os concebia. Fez ele, então, uma promessa de levantar um convento em Mafra, para que a concepção ocorresse. Em paralelo, segue-se o registro da vida do povo, através do enfoque do soldado que perdeu a mão esquerda na guerra contra os espanhóis. Baltasar Sete-Sóis, em um espetáculo da Inquisição, conheceu Blimunda, mulher de poderes mágicos, que enxergava dentro das pessoas, e cuja mãe, por ter poderes semelhantes, havia sido desterrada para Angola. Desafiando os rigores da religião, ambos se "casam" através de um ritual de sangue. Baltasar torna-se ajudante do Padre Bartolomeu Lourenço, que, sob a proteção do rei, concebia uma máquina de voar, (a passarola). Sob o signo da máquina de voar unem-se ideais: os cultos, representados pelo padre Bartolomeu de Gusmão e pelo músico Scarlatti, e os populares, ancorados em Blimunda e Baltasar. Padre Bartolomeu viaja, enlouquece e morre. Blimunda, após o sumiço de Baltasar, passa a procurá-lo, encontrando-o nove anos depois em circunstâncias trágicas. A narrativa segue direto, sem interrupções, vigorosa e rica. Saramago procura dar à linguagem o tom das crônicas históricas, reveste o vocabulário de termos ricos e realiza malabarismos sintáticos.
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Martini Seco -Fernando Sabino

O texto é dividido em quatro partes, que delimitam as etapas da história e as transformações ocorridas. Vamos, a seguir, acompanhar cada uma dessas partes. Primeira parte Esta parte se inicia com o relato do caso ocorrido em 17 de novembro de 1 957. Um homem e uma mulher entraram em um bar, sentaram-se e pediram dois martinis. Ela foi ao telefone e ele foi ao banheiro. Quando retomaram, a mulher (Carmem) tomou a bebida e caiu morta. Estabelecida a confusão, ninguém sabe como a polícia chegou. Chegou e, inicialmente, supôs tratar-se de suicídio. Entretanto logo surgiram as suspeitas de que se tratava de assassinato. O marido, Amadeu Miraglia, foi considerado como o principal suspeito. Preso, acabou confessando; mais tarde, em juízo, alegou que fora torturado para confessar e acabou absolvido da acusação. Cinco anos depois, Maria, 2º mulher de Amadeu Miraglia, vai à delegacia apresentar queixa, porque desconfia que ele quer inatá-la e que usará veneno para que o caso termine como anterior. Amadeu é interrogado e nega tudo. Levanta a hipòtese de que ela. Maria, pretende matar-se e jogar a culpa nele. Acrescenta que já está acostumado com este tipo de injustiça, pois quando criança também foi acusado pelo pai, injustamente, pela morte de um passarinho. Segunda parte Curiosamente, esta parte se inicia da mesma forma que a primeira, inclusive com a repetição das mesmas palavras. Para o leitor, fica parecendo que Miraglia e a mulher estão envolvidos num novo assassinato, mas na realidade o que se passa é a reconstituição do crime. A partir deste momento, o leitor toma contato com novas informações, que ele terá de juntar às anteriores para compor um quadro de hipóteses coerentes quanto à atitude dos personagens. Miraglia conta que ia se casar com Carmem e que ela estava grávida. Miraglia diz que o filho não poderia ser seu, pois ele era estéril. Miraglia explica que Carmem se suicidou porque não queria admitir lhe fora infiel. Miraglia diz que Maria também queria se matar, porque também estava grávida e sabia que o filho era ilegítimo Em meio a tantas informações, o caso toma vários caminhos, que o comissário Serpa tenta questionar, concluindo que todas as suspeitas apontam para Miraglia. A història se repete: Maria vai com Miraglia ao bar, toma um martini e cai fulminada. Terceira parte Como se pôde ver, esta história acontece como num jogo, o de damas por exemplo, em que novas possibilidades de jogadas vão acontecendo. O detetive Serpa levanta a hipòtese de que Miraglia pretendia matar-se e Carmem, tomando o martini no cálice errado, terminou morrendo. Neste momento, Maria lhe telefona para saber se deve tomar o cálice de martini que Miraglia lhe oferece. Serpa diz que ela deve beber o outro cálice, o que pode configurar um erro, pois se Miraglia pretendia se matar, ela, Maria, morreria fatalmente. Quarta parte Novamente o leitor é levado a crer num real assassinato, que acaba por não ocorrer. Maria não havia morrido e resolve retirar a queixa contra Miraglia, porque se arrependeu e acabou dando o caso como encerrado. Serpa, finalmente, tem uma pista concreta em suas mãos: a morte de uma mulher desconhecida, por envenenamento, no mesmo bar onde ocorreu a primeira morte. O fato leva Serpa a concluir que uma desconhecida havia tomado o martini de Miraglia e morrera, o que confirma que ele pretendia mesmo se matar. O final é inconcluso, não deixando qualquer certeza sobre a culpabilidade ou não de Miraglia.
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Marília de Dirceu -Tomás Antônio Gonzaga

Esta é uma obra pré-romântica; o autor idealiza sua amada e supervaloriza o amor, mas é árcade em todas as outras características. Existe também preocupação com forma. A primeira das três partes de Marília de Dirceu é dividida em 33 liras. Nela, o autor canta a beleza de sua "pastora" "Marília" (na verdade, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas). Descreve sempre apenas sua beleza (que compara a de Afrodite) e nunca sua psique; usa de várias figuras mitológicas; os refrães de cada lira apresentam estruturas semelhantes, mas diferentes de lira para lira. O autor também se dirige a seus amigos "Glauceste" e "Alceu" (Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto), seus "colegas pastores" (os três foram, em algum momento, juizes).O bucolismo nesta parte da obra é extremo, com referências permanentes ao campo e à vida pastoril idealizada pelos árcades. A segunda parte é dividida em 37 liras. Tomás Antônio Gonzaga escreveu esta parte na prisão, após ser preso em 1789. Nela o bucolismo é diminuído, mas a adoração a Marília continua. Nesta parte existe a angústia da separação e o sentimento de ter sido injuriado (as acusações eram falsas e mentirosas). Isto tudo aumenta a declarada paixão por Marília. Aparece também a angústia da separação que sofreu com seu amigo "Glauceste". (Tomás Antônio Gonzaga estava em regime de incomunicabilidade e não sabia do suicídio de Cláudio Manuel da Costa.) A terceira parte não possui apenas suas 8 liras; tem também sonetos e outras formas de poesia. Mas apenas as 8 liras possuem referências a Marília; quando elas acabam começam a aparecer outras poesias de "Dirceu", visto que não escreveu após o degredo.
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Martim Cererê -Cassiano Ricardo

   Publicado em 1928 ( ano do Manisfesto Antropófago de Macunaína e do radicalismo primitivista) , representa o ponto alto da vertente nacionalista e ujanista do verdeamarealismo. Constituido de poemas de rítmo e forma vária, como um "livro de figuras", aproxima- se da técnica do desenho animado ou da estória em quadrinhos. O caráter épico e narrativo de Martim Cererê tem sido alvo de inúmeros trabalhos que procuram dimensionar a participação desses elementos , de qualquer modo, identificáveis no lendário, na visão estética do mito, na universalidade do sentimento que vai buscar o elemento estrangeiro para salientar o elemento nacional, especialmente nas aproximações com o Ulisses grego: "Certo dia, chegou um marinheiro e ouviu o canto da Uiara, Não se faz amarrar ao castro do navio, nem mandou tapar os ouvidos dos demais marinheiros. Saltou logo em terra e ofereceu-se para casar com ela". O enredo desenvolve a lenda do surgimento da noite e do desenvolvimento do Brasil. O índio Aimberê e o marinheiro branco Martim apaixonam- se pela Uiara, que se propõe a se casar com aquele que lhe trouxesse a noite. Martim vai a Àfrica e traz a noite que são os negros escravos. Da união, surgem os bandeirantes, que desbravam; os sertões, plantam o mar verde dos cafezais e constroem as fábricas e arranha-céus da metrópole paulistana. O poema tematiza formação do Brasil, resultante da oposição entre o mundo primitivo, da fantasia, dos mitos (ontem") e "a vida rodando fremindo batendo martelo (hoje) . Dentro da proposta do Verdeamarelismo e do grupo da Anta, para se chegar ao progresso foi necessário "engolir" as matas, o índio, o café e tudo o que ousasse interromper a marcha do progresso. " Os tupis desceram para ser absorvidos. Para se diluírem no sangue da gente nova" ( Manisfesto da Anta) Observe que o Totem dos tupis , a anta não é carnívora. Observe também a oposição entre as propostas da corrente nacionalista e da primitivista ( antropofagia).
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Maria Moisés -Camilo Castelo Branco

Maria Moisés é dividido em duas partes. A primeira parte começa em 1813 com a história de um jovem pastor que, procurando por uma rês perdida, vê a filha do patrão se suicidar de modo misterioso. Então revelam-se os motivos: Josefa, a jovem suicida está apaixonada e tem um caso com um jovem militar. Seu pai é casto e sua mãe carola; quando ela engravida passa a ser escondida dentro de casa. Quando o namorado lhe anuncia que vai fugir, dá a luz (prematuramente, como se descore depois) e carrega a criança. Quando a criança cai no rio, ela se atira para salvá-la e acaba morrendo. A segunda parte começa com uma menina sendo encontrada rio abaixo da cidade onde Josefa morreu por um caseiro. A criança é nomeada Maria Moisés em honra ao patriarca bíblico que teve história análoga. Ela cresce e passa a cuidar de jovens enjeitados. No começo são dois, mas o número logo cresce. Com o tempo Marai vai empobrecendo por causa de sua caridade. Quando pai de Josefa, voltando general do Brasil, chega na cidade, ele começa a montar as peças do quebra-cabeça da morte de sua amada que nunca esqueceu. Ele vai descobrindo a história de Maria e seu estado financeiro, com a quinta hipotecada, em 1850. Ele se dirige então a quinta, paga a Maria mais do que as dívidas e revela então ser seu pai. A história acaba com ambos emocionados, chorando abraçados.
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Mapinguari -Raquel de Queiroz

Mapinguari reúne crônicas selecionadas de dois livros, o Brasileiro perplexo e as menininhas, respectivamente de 1963 e de 1976. Rachel de Queiroz tem sempre o costume de dar aos seus volumes de crônicas escolhidas o nome de uma delas. Na crônica "As Menininhas", de 15 de dezembro de 1975, considera com argúcia a nova geração feminina, seu rítimo alucinante, suas tendência e frustrações, maluquices, sonhos. Mas por que Mapinguari? Por que chamar-se a esta coletânea de crônicas Mapinguari? O que será Mapinguari? Rachel de Queiroz tem a habilidade ou a astúcia de descobrir o que importa. Mapinguari... é uma lenda amazônica, terrível, que ela deve ter ouvido no seu tempo de Belém, quer dizer, nos dias da sua infância de que nos falou em A donzela e a moura torta. Trata-se de um bicho que se deliciaria com a carne humana, com o sangue humano, um bicho descomunal, assustador. Rachel imagina dois seringueiros e reproduz deliciosamente a história tétrica que ouvira. Mapinguari é um pequeno conto, como tantas das crônicas da escritora. Ficção e realidade se misturam densamente, misteriosamente, dentro dela e da sua crônica. Assim como dentro da vida, que ela sabe captar com a agudeza. A crônica "Mapinguari" é de 21 de junho de 1972. Como o "brasileiro perplexo" é de 11 de maio de 1963 e de uma atualidade total. Este é um dos segredos da crônica de Rachel. Vencer o tempo, superar o tempo, simplesmente pela transfiguração da arte. Seu estilo é inconfundível. E aqui vemos crônicas que não se esquecem mais, como "Duas histórias para Flávio, ambas de onça", e "A arte de ser avó", "Cidade do Rio" ou "O ateu", "Velho: o você de amanhã", crônica empregnadas de humanidade. Ficcionista, cronista e dramaturga se unem, nestas páginas marcadas pela vida.
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Manuelzão e Miquelim -João Guimarães Rosa

INTRODUÇÃO A obra de ficção mais conhecida de Guimarães Rosa consta de contos, novelas e um romance monumental, publicado em 1956, que é Grandes Sertão: Veredas - livro que desconcertou a crítica. Entre os livros de contos, destaca-se Sagarana, seu livro de estréia, publicado em 1946, que foi recebido como "uma das mais importantes obras aparecidas no Brasil contemporâneo"; Primeiras Estórias (1962); Tutaméia (Terceiras estórias), de 1967; e o livro póstumo Estas estórias (1969). Corpo de Baile contém várias novelas e, a partir de 1964, foi desdobrado em três volumes: "Manuelzão e Miguilim", "No Urubuquáquá, no Pinhém", e "Noites do Sertão". As duas primeiras, também conhecidas como "Uma estória de amor" e "Campo Geral". Como observa Beth Brait, em "Literatura Comentada", da Abril Editora, "Campo Geral é uma narrativa profundamente lírica que traduz a habilidade de Guimarães Rosa para recriar o mundo captado pela perspectiva de uma criança." Pode-se dizer que Campo Geral é uma espécie de biografia, em que muitos críticos vêem traços autobiográficos do autor. O tema do livro é a infância - a infância de um menino da roça, com usas descobertas da vida. Como sempre, tudo vem trabalhado com o inconfundível estilo de Guimarães Rosa numa linguagem estonteante nos seus recursos expressivos. Quanto a "Uma estória de amor", que focaliza a outra ponta da vida, de forma igualmente lírica, relata-se, ao mesmo tempo que se vai reconstituindo a vida do vaqueiro sessentão Manuelzão, a festa de consagração de uma capela que ele faz construir na fazenda que administra. Toda a narrativa desenvolve-se na véspera de sair uma boiada, o tema boi serve de ligação entre as cenas, reaparecendo aqui e ali, dominante, ora como o próprio animal, ora como vaqueiro ou instrumento de trabalho (contracapa). As duas novelas complementam-se como histórias de um começo e de um fim de vida. Enquanto a do menino é uma constante e por vezes dolorosa descoberta do mundo, a do vaqueiro sessentão é um relembrar também por vezes doloroso do que foi a sua vida, em que as recordações se misturam com os fatos do presente, como se aquela festa fosse a própria súmula de seus dias (contracapa). A NOVELA COMO ESPÉCIE LITERÁRIA Como espécie literária, a novela não se distingue do romance, evidentemente, pelo critério quantitativo, mas pelo essencial e estrutural. Tradicionalmente, a novela é uma modalidade literária que se caracteriza pela linearidade dos caracteres e acontecimentos, pela sucessividade episódica e pelo gosto das peripécias. Contrariamente ao romance, a novela não tem a complexidade dessa espécie literária, pois não se detém na análise minuciosa e detalhada dos fatos e personagens. A novela condensa os elementos do romance: os diálogos são rápidos e a narrativa é direta, sem muitas divagações. Nesse sentido, muita coisa que chamamos de romance não passa de novela. Naturalmente a novela moderna, como tudo que é moderno, evoluiu e não se sujeita a regras preestabelecidas. Tal como o conto, parodiando Mário de Andrade, "sempre será novela aquilo que seu autor batizou com o nome de novela". Como autor (pós)-modernista, Guimarães Rosa procurou ser original, imprimindo, em suas criações literárias, a sua marca pessoal, o seu estilo inconfundível. Suas novelas, contudo, apesar das inovações, sempre apresentam aquela essência básica dessa modalidade literária, que é o apego a uma fabulação contínua como um rio, de caso-puxa-caso. MIGUILIM: ESTRUTURA/ENREDO Campo Geral é uma novela narrada em terceira pessoa. A estória, entretanto, é filtrada pelo ponto de vista de Miguilim, uma criança de oito anos. Por essa razão, a visão de mundo apresentada pelo autor é organizada a partir desta expectativa: a vivência de um menino sensível e delicado, empenhado em compreender as pessoas e coisas que o cercam. A estória se desenvolve no Mutum, um remoto lugarejo das Gerais, e envolve várias personagens. Como é próprio da novela: a mãe, o pai, os irmãos, o tio, a avó e outras que têm relacionamento demorado ou passageiro com essa família. Com cerca de 150 páginas, a novela se organiza à semelhança de Grande Sertão; Veredas, ou seja, a narrativa não é dividida em capítulos e as falas, nos diálogos, não se sujeitam às normas convencionais. A narrativa, entretanto, pode ser dividida em alguns núcleos básico que passamos a descrever: 1) Ao completar sete anos, Miguilim é levado pelo tio Terêz até um lugarejo distante para ser crismado. Nessa viagem, uma lembrança que o marcou e que jamais esqueceu foi o dito de um moço que já estivera no Mutum: "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..." Essa opinião opunha-se à da mãe, que ali morava e vivia queixando-se do triste recanto. Ao voltar, esta será a sua primeira preocupação: dizer à mão "que o Mutum era lugar bonito". A mãe, evidentemente, não lhe deu importância, apontando o morro como causa do seu infortúnio e da sua tristeza. "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." 2) A família de Miguilim é numerosa e compõem-se de pai, mãe, irmãos, avó, tios, empregados, gatos e cachorros. Inicialmente, o seu relacionamento é bom como todos eles, aos poucos, vai-se percebendo a sua maior predileção pelo irmãozinho Dito. Mais novo do que Miguilim, Dito se destaca pela sabedoria e esperteza: "O Dito menor, muito mais menino, e sabia em adiantado as coisas com uma certeza, descarecia de perguntar". "Dava até raiva, aquele juízo sisudo, o poder do Dito, de saber e entender, sem as necessidades". Grande era a amizade que unia os dois. Boa parte da novela concentra-se nessa amizade e nas conversas de ambos: "Era capaz de brinca com o Dito a vida inteira, o Ditinho era a melhor pessoa, de repente, sempre sem desassossego". 3) A morte prematura de Dito vai provocar nele um impacto doloroso e chocante - exatamente Dito que não pensava em morrer e traçava planos para o futuro. "?Eu gosto de todos. Por isso que eu quero não morrer e crescer, tomar conta do Mutum, criar um gadão enorme. Mas Dito morre, e a desolação de Miguilim é total: "Miguilim doidava de não chorar mais e de correr por um socorro". "Soluçava de engasgar, sentia as lágrimas quentes, maiores do que os olhos". "Miguilim sentou no chão, num canto, chorava, não queria esbarrar de chorar, nem podia - Dito! Dito!..." 4) O relacionamento com o pai, a princípio, bom e cordial, vai-se deteriorando e chega ao clímax, quando, numa briga com um parente que os visitava, Miguilim é surrado violentamente por ele. A revolta detém-lhe as lágrimas e Miguilim nutre um ódio mortal pelo pai: "Não chorava, porque estava com um pensamento: quando ele crescesse, matava Pai". A mãe, sempre preocupada e zelosa, afasta-o de casa, mandando-o passar algum tempo com o vaqueiro Salúz. Miguilim retorna carrancudo e ainda mal-humorado: "Chegou e não falou nada. Não tomou bênção". A partir dessa cena, Miguilim começa a ajudar na capina da roça, quando passa mal e põe-se a vomitar. Estava doente, muito doente. O pai se desespera e é tomado de profunda comoção: "Pai chorava, demordia de morder os beiços". Acabou perdendo a cabeça e "se enforcou com um cipó", e Miguilim se restabeleceu. 5) O conflito gerado pelo relacionamento existente entre o pai, a mãe e o tio Terêz, irmão do Pai, é outro núcleo que se destaca na narrativa. Tudo indicava que havia alguma coisa entre a mãe e o tio Terêz, e o pai certamente sabia. Uma vez, Miguilim viu-o bater na mãe e foi surrado também. A partir daí, o tio Terêz, tão amigo de Miguilim afasta-se da casa. O ambiente estava carregado. Um temporal está prestes a desabar, o que fazia o Dito dizer sério: "? Por causa de Mamãe, Papai e Tio Terêz, Papai-do-Céu está com raiva de nós de surpresa..." Tempos depois, quando levava comida para o pai no roçado, tio Terêz aparece a Miguilim e pede-lhe que entregue um bilhete à mãe. Esse bilhete, segredo não revelado nem a Dito, torna-se, por muito tempo, o seu tormento, pois adivinhava o seu conteúdo. Acaba devolvendo-o ao tio. Terêz entende o seu dilema. No final da narrativa, com a morte do pai, tio Terêz retorna e tudo acaba bem: "?Se daqui a uns meses mão se casar com o tio Terêz, Miguilim, isso é do seu gosto? - indagava a mãe". "?Tio Terêz, o senhor parece com Pai..." - dizia Miguilim. 6) A novela se encerra com uma cena altamente simbólica: a descoberta de que era míope e a possibilidade de uma nova vida em outro lugar. Foi assim: De repente, chega ao Mutum, um senhor de óculos (Dr. Lourenço) e a amizade se estabelece: Deus te abençoe, pequeninho. Como é teu nome? Miguilim. Eu sou irmão do Dito. E o homem de óculos logo foi percebendo (era doutor): "Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista?" Era isto mesmo: Miguilim era piticego, tinha vista curta, e não sabia. E então o senhor (que era doutor) tirou os óculos e deu-os a Miguilim: "?Olha, agora! Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. O Mutum era bonito! - agora Miguilim via claramente. E então veio o convite: -O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava para a escola, depois aprendia ofício. E, assim, Miguilim teria uma nova perspectiva na vida: a criança de calça curta ia penetrar, agora, em um novo mundo. PERSONAGENS Além de Miguilim, protagonista da estória., o qual se revela um menino sensível, delicado e inteligente ao longo da narrativa, o universo da novela "Campo Geral" é composto de várias outras personagens: 1) A família de Miguilim é constituída do pai (Nhô Berno), meio seco autoritário; a mãe (Nhanina), que "era linda e tinha cabelos pretos e compridos"; os irmãos Tomezinho e Dito; as irmãs Chica e Drelina; a avó Izidra; e o tio Terêz. 2) Fazendo parte da família, como empregadas da casa, destacam-se a preta Mãitina, Rosa Maria e Pretinha. Ligados à família, mas com alguma independência, destacam-se aqui também, os vaqueiros Salúz e Jé. 3) Ainda no universo da família, podemos inserir aqui os cachorros (sempre individualizados com um nome próprio), o gato Sossõe e o papagaio Papaco-o-Paco. 4) Entre os conhecidos e amigos, destacam-se o alegre e simpático seu Luisaltino, que veio morar com a família e ajudava o Pai no roçado. Para finalizar, é importante observar que, ao contrário da cidade grande onde as pessoas praticamente são anônimas, no mundo roseano tudo e todos têm um nome que os caracteriza e individualiza. MANUELZÃO - SÍNTESE Mais conhecida como Manuelzão, o verdadeiro nome da novela é Uma estória de amor e se passa na Samara, "nem fazenda, só um reposto, um currais-de-gado, pobre e novo ali entre o Rio e a Serra dos Gerais". A novela se abre com a expectativa de uma festa que reuniu muito povo e o padre para benzer a capela "-templozinho, nem mais que uma guarita, feita a dois quilômetros da Casa", que Manuelzão faz construir, a pedido de sua mãe (dona Quilina) , já falecida,. Que é bastante lembrada ao longo da narrativa. Num discurso indireto livre, em que o narrador parece falar pela boca de Manuelzão (tudo é filtrado pela sua ótica), a novela vai sendo conduzida sem divisão em capítulos, tangida como uma boiada, meio caoticamente, a lembrar o mundo inóspito e selvagem do sertão. Tudo gira em torno de Manuelzão, senhor da festa e da novela, que desbrava aquelas terras, cujo verdadeiro dono (Frederico Freyre) raramente aparecia por lá. De cima de seu cavalo e dos seus quase 60 anos, Manuelzão contempla a azáfama do povo nos preparativos da festa e vai reconstituindo o seu passado de "porfia", "fazendo outros sertões, comboiando boiadas, produzindo retiros provisórios". "Na Samara, Manuelzão conduzira o início de tudo, havia quatro anos, desde quando Frederico Freyre gostou do rincão e ali adquiriu seus mil e mil alqueires de terra asselvajada - Te entrego, Manuelzão, isto te deixo em mão, por desbravar! E enviou o gado." Sessentão solitário do sertão, que não destila o fel da casmurrice nem da solidão, Manuelzão busca no passado distante o Adelço, "filho natural, nascido de um curto caso", agora já com 30 anos, casado com a Leonísia, e pais de sete filhos, seus netinhos. Entretanto, embora "mouro trabalhador", o Adelço não é bem visto por ele, Manuelzão. De repente, na calada da madrugada, quando todos dormiam, o inesperado: o riacho, dito "Seco Riacho", que abastecia a casa com sua água e formosura, cessou. "Foi no meio duma noite, indo para a madrugada, todos estavam dormindo. Mas cada um sentiu, de repente, no coração, o estalo do silenciozinho que ele fez, a pontuda falta da toada, do barulhinho. Acordaram, se falaram. Até as crianças. Até os cachorros latiram. Aí, todos se levantaram, caçaram o quintal, saíram com luz, para espiar o que não havia (...).O riacho soluço se estancara, sem resto, e talvez para sempre. Secara-se a lagrimal, sua boquinha serrana. Era como se um menino sozinho tivesse morrido". Criatura boa e humilde, talqualmente a mãe, dona Quilina, era o velho Camilo, que ali viera aportar a sua velhice, depois de "asilar-se em ranchos ou cafuas mal abandonadas no campo sujo". Seo Camilo "era apenas uma espécie doméstica de mendigo, recolhido, inválido, que ali viera Ter e fora adotado por bem-fazer, surgido do mundo do Norte: Ele asséste mais é aqui, às vezes descasca um milhozinho, busca um balde d'água. Mas tudo na vontade dele. Ninguém manda, não.... A festa tem início realmente, na véspera, com chegada do padre (frei Petroaldo), que é recebido com foguetes e muita alegria. "A voz do povo levantou um louvor, prazeroso. Via-se, quando se via, era muito mais gente, aquela chegança, que modo que sombras. Gente sem desordem, capazes de muito tempo calados, mesmo não tinham viso para as surpresas". Outras pessoas iam chegando para a festa: João Urúgem, homem estranho que vivia isolado como bicho; o senhor de Vilamão, "homem de muitas possas, de longes distâncias dentro de suas terras", já alquebrado e velhinho, "o cabelo total embranquecido, trajado de vestimenta que não se usava mais em parte nenhuma- o cavour"; "chegava também o Lói, ex-vaqueiro, vestido com a baeta - um capote feito de baeta" e, fazendo muita algazarra , como se estivessem tangendo uma boiada, o Simão Faço mais seu irmão Jenuário e outros: "? Eh, Manuelzão, já fomos, já viemos...". Chegou ainda "seo Vevelho, com seus filhos, tocadores de música". Assim, tocando a sua narração (mais dele do que do narrador que se mistura), Manuelzão vai ruminando casos e mais casos, ali em meio àquele povão, na animada festa: "?Estória! - ele disse, então. Pois, minhamente: o mundo era grande. Mas tudo ainda era muito maior quando a gente ouvia contada, a narração dos outros, de volta de viagens". Na calda da noite, dando uma trégua na festa, ecoam, por entre silêncios atentos e não dormidos, as estórias de Joana Xaviel, "essa que morava desperdida, por aí, ora uma ora noutra chapada": "O seguinte é este..." Joana ia contando suas estória de reis, rainhas e vaqueiros, que Manuelzão escutava, deitado, na espreita de o sono chegar: "Se furtivava o sono, e no lugar dele manavam as negaças de voz daquela mulher Joana Xaviel, o urdume das estórias. As estórias - tinham amarugem e docice. A gente escutava, se esquecia de coisas que não sabia". Nas elocubrações de Manuelzão, vira-e-mexe, a beleza de Leonísia, sua nora: "Leonísia era linda sempre, era a bondade formosa. O Adelço merecia uma mulher assim? Seu cismado, soturno caladão, ele encabruava por ela cobiças de exagero, um amuo de amor; a ela com todas as grandes mãos se agarrava". Manuelzão ruminava: bem que o Adelço, depois da festa podia ir no seu lugar conduzindo a boiada, no comando, para longes distâncias. Afinal, não já estava sessentão? Não era ele quem mandava? "Eh, Manuel J. Roíz não bambeia!..." "Ele Manuelzão nunca respirara de lado, nunca refugara de sua obrigação". "Montado no meu cavalo eu abri este sertão..." No dia seguinte, a festa coma a missa celebrada. "A Capelinha estava só de Deus: Fazendo parte da manhã lambuzada de sol, contra o azul, mel em branca, parecia saída de um gear". Manuelzão, "a frente de todos, admirado por tantos olhos", dirige-se ao altar para beijar a Santa e dizer um padre nosso. Depois saiu, pois a capelinha era muito pequena, e "o aperto dava aflição". "O povoame enchia a chã, sem confusão nenhuma. Mesmo aqueles com os revólveres na cintura, armas, facas. Ao que Manuelzão, cá bem atrás ficou, no coice. Gostava todos aprovassem essa simplicidade sem bazófia, e vissem que ele fiscalizava". Após a celebração, a festa prossegue com danças, contradanças e muita alegria. Quadras ecoam dos violeiros do sertão, numa animação cheia de brincadeira, com o Pruxe, seo Vevelhoi e Chico Bràabóz no comando: Seu subi pelo céu arriba numa linha de pescar: preguntar Nossa Senhora se é pecado namorar!... -Olerê, canta! O Rio de São Francisco faz questão de me matar: pra cima corre ligeiro, pra baixo bem devagar... -Olerê, canta! Depois de muita festança e alguma comilança, a festa vai-se acabando. Ainda não. O velho Camilo, "todo vivido e desprovido", ia contar um caso - o fantástico "Romance do Boi Bonito, que vaqueiro nenhum não agüentava trazer no curral..." Até que assucedeu, brotado de repentemente, um vaqueiro encantado, por enquanto chamado apenas de Menino, que, montado num Cavalo de conto de fada, domou o Boi Bonito: ...O Boi estava amarado, chifres altos e orvalhados. Nos campos o sol brilhava. Nos brancos que o Boi vestia, linda mais luz se fazia. Boi Bonito desse um berro, não agüentavam a maravilha. E esses pássaros cantavam. O vaqueiro Menino foi "dino" (= digno): não quis dote nem nenhum prêmio pela proeza - queria tão-somente que livre Boi Bonito pastasse naquelas pairagens: "Vosmecê, meu Fazendeiro, há-de me atender primeiro, dino. Meu nome hei: Seunavino... Não quero dote em dinheiro. Peço que o Boi seja soltado. E se me dê esse Cavalo. Atendido, meu Vaqueiro, refiro nesta palavra. O Boi, que terá por seus os pastos do fazendado. Ao Cavalo, é já vosso. Beija a mão, meu Vaqueiro. Deus vos salve, Fazendeiro. Vaqueiros, meus companheiros. Violeiros... Fim Final. Cantem este Boi e o Vaqueiro, com belo palavreado..." Inebriado pela estória de seo Camilo, Manuelzão se revigora: apesar de seus 60 anos quase, ele está pronto para mais uma proeza - conduzir a boiada desbravando bravamente os caminhos do sertão das Gerais. PERSONAGENS Ao contrário de Muguilim, em que se focaliza um universo bastante limitado, coerente com a faixa etária do protagonista, em "Manuelzão", por estar a personagem na outra ponta da vida, tendo, portanto, passado por lugares vários, conhecendo gente e mais gente, o universo é bem maior.,. Aqui, pois, sugestivamente, a novela é povoada de gente que não acaba mias, reunida na Samarra para a festa de Manuelzão. Tudo gira, sem dúvida, em torno de Manuelzão, cuja trajetória de vaqueiro desbravador do sertão vai sendo reconstituída em meio à festa do presente. Ao contrário de Dom Casmurro, em que a velhice é marcada por mágoas e ressentimentos, aqui a vida é uma festa, movida por muita alegria e poesia, não obstante haver na novela também alguns lampejos de baqueamento. Apesar de vaqueiro sessentão, Manuelzão vai em frente, resistindo à idade, pois "de todo não queria parar". No final, sugestivamente, a novela se encerra com o início de uma nova jornada: "A boiada vai sair". Como é próprio da gente do sertão, o perfil de Manuelzão marca-se pela dedicação ao trabalho de vaqueiro e administrador da Samarra, tudo fazendo de uma forma abnegada e obstinada: "Eh, Manuel J. Roiz não bambeia!..." "Ele Manuelzão nunca respirara de lado, nunca refugara de sua obrigação". Por outro lado, ao longo da narrativa, percebe-se como traço de sua personagem, além da pródiga hospitalidade demonstrada com a festa, uma necessidade obsessiva de ser reconhecido e admirado como homem de valor: "Ah, todo o mundo, no longe do redor, iam ficar sabendo quem era ele, Manuelzão, falariam depois com respeito". Quanto às outras personagens, as que mais se destacam já ficaram esparramadas pela síntese que se fez da novela. LINGUAGEM Filtrado pelo ponto de vista de uma criança, a narrativa de Miguilim apresenta, coerentemente, uma linguagem que utiliza recursos morfológicos, sintáticos e semânticos, que reproduzem bem a expressividade da linguagem infantil, o mesmo acontecendo em Manuelzão, em que tudo é visto pela ótica do adulto. Por outro lado, também coerentemente, com o mundo apresentado, o registro da linguagem coloquial, tal como é falada pelo sertanejo, combina bem com a gente simples e rude que povoa as duas novelas. 1) Como é próprio da linguagem infantil, são constantes os diminutivos reduzidos em "-im", a começar pelo próprio nome Miguilim. "...tretava coragem de chegar pertim". "Miguilim, me dá umm beijim!" Algumas vezes o diminutivo é usado indevidamente, em função da expressividade. "E agorinha, agora, que ele carecia tanto de qualquer assinzinho de socorro". "Você me ensinazinho a dançar, Chica?" Em Manuelzão, expressando a ótica do adulto e combinado com o mundo apresentado, ocorre, com freqüência, o aumentativo, expresso não só no nome do protagonista como ao longo de toda a narrativa: "Laço, lação! Eu gosto de ver a argolar estalar no pé-do-chifre e o trem pular pra riba!" 2) Como é próprio da linguagem popular, é muito freqüente, em ambas as novelas, o uso duplo de negativas ("Mas nem não valia") e o emprego do advérbio não no final ("Ninguém manda, não"). 3) Outra coisa freqüente é o uso constante de sufixo -mente em situações não convencionais: "Mesmamente que acabavam a arrancação de inhame" "Só um caxinguelê ruivo se azougueou, de repentemente" "Pois, minhamente: o mundo era grande" 4) Como é próprio da linguagem interiorana, a presença de arcaísmo é freqüente: "Menino, eu te amostro!" "Escuta, Miguilim, você alembra..." 5) Também constantes são as inversões, como nos exemplos abaixo: "se coçando das ferroadas dos mosquitos, alegre quase" "...touro do demônio, sem raça nenhuma quase" 6) Reflexo da sintaxe popular, a silepse, caso de concordância ideológica aparece com freqüência: "A gente vamos lá!" "Ah, todo o mundo, no longe do redor, iam ficar sabendo quem era ele" 7) Outra coisa que se destaca na linguagem roseana é a aliança com a poesia, em que o autor explora recursos próprios da poesia, como aliterações, ecos, sonoridades, rimas, etc: "Teu lume, vaga-lume?" "Miguilim, me dá um beijim!" Refletindo a visão altamente lírica que ocorre em ambas as novelas, há passagens de oura poesia, como esta de "Manuelzão": "Fizeram noite, dançando. As iaiás também. O quando o dia já estava pronto pra amanhecer, céu já se desestrelando. No seguinte, na rompidinha do dia, a vaqueirama se formou". A esse propósito, Beth Brait, em "Literatura Comentada", afirma que "a lírica e a narrativa fundem-se e confundem-se, abolindo intencionalmente os limites existentes entre os gêneros." 8) Em suma, Guimarães Rosa "não se submete à tirania da gramática", fazendo largo uso da semântica, da sintaxe e da morfologia populares. Nesse sentido, em função da expressividade, são freqüentes na sua linguagem erros de colocação, de regência, de concordância etc. "Não truxe os óculos, Manuelzão. Assim, não dletreio..." "O que eu não posso agora é campear ela..." 9) Por outro lado destaca-se no estilo de Guimarães Rosa a inventividade - o gosto para criar palavras novas, usando sempre os recursos e possibilidades que a língua oferece: "Vezes que sucede de um adormorrer na estrada" "Tinha vergonha de saberem que estava lá em sua casa, em luademéis" "...ia ter mãezice de tolerar os casos, coisas que a todos desapraz?" "...mas insofria por ter de esperar" "O cachorrinho era com-cor com a Pingo" "O cachorro Gigão caminhara para a cozinha, devagaroso" "O vaqueiro Jé está dizendo que já vai dechover" "Mas agora o Gigão parava ali, bebelambendo água na poça" "Se encontrou com padrinho Simão, correu ensebado, veadal" "Tinha de ser lealdoso, obedecer com ele mesmo" "... enquanto Pai estivesse raivável" "As estórias - tinham amarugem e docice" "Carecia de um filho, prosseguinte" 10) Outro aspecto que reflete bem o mundo sertanejo e sabedoria popular é o suo constante ditados ditos populares, sempre, com rimas e musicalidade: "Lá chove, e cá corre..." "Eh mundão! Quem me mata é Deus, quem me come é o chão..." "Chuva vesprando, cachorro soneja muito" "Estou triste mas não choro. Morena dos olhos tristes, esta vida é caipora" "Mourão, mourão, toma este dente mau, me dá um dente são!" 11) Comuníssimo também em ambas as novelas, em mais aliança com a poesia, é o uso da frase nominal, sem estrutura oracional, desguarnecida de verbo: "Os violeiros desnudavam, Seo Vevelho, mais os filhos. A sanfona. Chico Bràabóz, preto cores pretas, mas com feições. Ô homem da pólvora quente!" 12) Combinando com a atmosfera festiva de "Manuelzão", são freqüentes, sobretudo nessa novela, quadras e versos, que refletem bem o gosto popular: O galo cantou na serra da meia-noite p'r'o dia. O touro berrou na margem no meio da vacaria. Coração se amanheceu de saudade, que doía... 13) Sempre em busca de originalidade, uma constante na ficção roseana, são comuns os jogos de palavras com verdadeiros achados como estes: "Lá é Cristo, cá é isto..." "Os bois todos andando, p'r'acolá, p'r'acoli" Como se pôde ver, o mundo ficcional roseano não é fácil, pois a linguagem sai do convencional, do já-feito, buscando um maneira nova de expressão: "O impulso primeiro é desistir", diz Beth Braitm que desafia: "Quem se atreve a adentrar espaço de eleitos?" ESTILO DE ÉPOCA A originalidade da linguagem de Guimarães Rosa, a sua inventividade e criatividade configuram bem o estilo de época (pós)-modernista. Essa preocupação em fazer diferente, saindo do convencional, é, sem dúvida, uma das grandes característica do estilo de época contemporâneo. É o próprio Guimarães quem fala: "Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros". Outra coisa que marca bem o estilo de época na obra é a capacidade revelada pelo escritor (pós)-modernista para refletir sobre problemas universais, partindo de uma realidade regional. É o que diz a contracapa de "Literatura Comentada": "Nele , quanto mais - aparentemente - particularizado o tema, mais universal ele é. Quanto mais simplórios seus personagens, mais ricas sua personalidades. Assim, rudes sertanejos refletem de forma peculiar e extremamente sutil os grandes dramas metafísicos e existenciais da humanidade". É isto que se vê em Guimarães Rosa e outro grandes escritores na nossa Literatura: há sempre uma dimensão universal no aparentemente regional. "O sertão que vem de Guimarães Rosa não se restringe aos limites geográficos brasileiros, ainda que dele extrais a sua matéria-prima. O sertão aparece como uma forma de aprendizado sobre a vida, sobre a existência, não apenas do sertanejo, mas do homem". Como dizia o próprio Guimarães: "o sertão é o mundo". ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES Além de apresentar o mundo sertanejo nos seus costumes, crendice e maneira próprio de ser, "Campo Geral" retrata basicamente a infância de um menino da roça nas suas incertezas, dúvida, angústias, crendices e descobertas do mundo e da vida. 1) Ao longo da novela, não são poucas as cenas e passagens em que se pode perceber a ruindade adulta em oposição ao sentimento puro e nobre da criança. Revela-o não só a história de cadela Pingo-de-Ouro, quase cega, que á doado aos outros pelo pai, como também a cena da caça ao tatu em que as pessoas grandes são recriminadas pela criança, na sua inocência e pureza. "Então, mas por que é que Pai e os outros se apraziam tão risonhos, doidavam, tão animados alegres, na hora de caçar àtoa, de matar tatu e os outro bichinhos desvalidos? " Miguilim via essas coisas e não compreendia. Na sua inocência de criança ficava a nódoa da imagem perversa: "Miguilim inventava outra espécie de nojo das pessoas grandes." "Miguilim não tinha vontade de crescer, de ser pessoa grande, a conversa das pessoas grandes era sempre as mesmas coisas secas, com aquela necessidade de ser brutas, coisas assustadas". 2) Como já deixamos claro no enredo, difícil e doloroso foi-se tornando o relacionamento de Miguilim com o pai. A cena da surra revela bem o sadismo e a prepotência do adulto ao espancar uma criança pequenina e indefesa: "(Pai) pegou o Miguilim, e o levou para casa, debaixo de pancadas. Levou para o alpendre. Bateu de mão, depois resolveu: tirou a roupa toda de Miguilim e começou a bater com a correia da conta. Batia e xingava, mordia a ponta da língua, enrolada, se comprazia. Batia tanto, que Mãe, Drelina e a Chica, a Rosa, Tomezinho, e até Vovó Izidra, choravam, pediam que não desse mais, que já chegava. Batia. Batia..." 3) A cena do bilhete, em que tio Terêz pede a Miguilim para entregá-lo à mãe, evidencia outro drama crucial para a criança: a angústia gerada pela dúvida entrer entregar ou não entregar o bilhete. Angustiava-se ante o compromisso assumido com o tio e a consciência de que estava fazendo alguma coisa errada. Nem mesmo Dito, com toda a sua sabedoria, pôde dar-lhe uma resposta que pudesse aliviar-lhe o tormento: nem mesmo a mãe, nem mesmo o vaqueiro Jé pôde tirar-lhe a dúvida que roía a alma: "Mãe, o que a gente faz, se é mal, se é bem, ver quando é que a gente sabe? Vaqueiro Jé: malfeito como é, que a gente se sabe? Menino não carece de saber Miguilim. Menino, o todo quanto faz, tem de ser é malfeito..." Ainda bem que o tio Terêz foi bom e compreensivo e aceitou o bilhete de volta: "Miguilim, Miguilim, não chora, não te importa, você é um menino bom, menino direto, você é meu amigo!" 4) O mundo da criança é sempre povoado de superstições e crendices que refletem o adulto. Algumas dessas crendices e superstições revelam bem o poder e a influência da religião com seu conceito de pecado, além de expressar também aspectos da cultura popular. Em "Campo Geral", várias passagens podem ser destacadas como exemplos: "Contavam que esse seo Deográcias estava excomungado, porque um dia ele tinha ficado agachado dentro da igreja". "Ah, não fosse pecado, e aí ele havia de ter uma raiva enorme, de Pai, deles todos, raiva mesmo de ódio, ele estava com razão". "Entre chuva e outra, o arco-da-velha aparecia bonito, bebedor; quem atravessasse debaixo dele - fu" - menino virava mena, menina virava menino: será que depois desvirava?" "Por paz, não estava querendo também brincar junto com o Patori, esse era um menino maldoso, diabrava. Ele tem olho ruim, - a Rosa dizia - quando a gente está comendo, e ele espia, a gente pega dor-de-cabeça..." "Ali no oratório, embrulhados e recosidos num saquinho de pano, eles guardavam os umbiguinho secos de todos os meninos, os dois irmãozinhos, das irmãs, o de Miguilim também - rato nenhum não pudesse roer, caso roendo o menino então crescia para ser só ladrão" "Quando a estória da Cuca, o Dito um dia perguntou: ?Quem sabe é pecado a gente ter saudade de cachorro?" 5) Por meio do contato com seo Aristeu e sobretudo através das conversas com Dito, muitas lições de vida Miguilim vai aprendendo: "O Dito dizia que o certa era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma". Era uma bela lição essa que o Dito ensinava a Miguilim: a alegria de viver. Aliás, a mesma lição é transmitida a ele por seo Aristeu, quando estava doente sem estar, e pensava em morrer. Foi só seo Aristeu fazer umas graças e Miguilim se restabeleceu da enfermidade. "Vai, o que você tem é saúde grande e ainda mal empenada." No final, com o happy-end provocado pelo destino, Miguilim chorava de emoção: "Sem alegre, Miguilim... Sempre alegre, Miguilim", Miguilim, de óculos nos olhos míopes, agora enxergavam diferente - tinha uma nova visão do mundo e da vida. Tendo também o mundo do sertão como pano de fundo, a ponto de parecer uma obra tipicamente regionalista, "Manuelzão" focaliza esse universo nos seus costumes, nas suas crendices, nas suas labutas, no seu sentimento religiosos e, sobretudo, na sua espontaneidade. Aqui certamente porque ainda não foi corroído pela civilização, o sertanejo se revela bom e puro, aproximando-se do bon sauvage dos românticos. 1) Maunelzão, como expressa o título, é realmente "uma estória de amor", em que tudo vem lindamente misturado: gente, bichos, coisas - a natureza. Aqui, gente rica e gente pobre, brancos e negros, homens e mulheres, reunidos numa capelinha minúscula, se irmanam numa festa de confraternização. Tal como em "Miguilim", também aqui a visão que se passa é positiva, alegre, apesar da rudeza do sertão inóspito. "Seo Camilo, a estória é boa! Manuelzão, sua festa é boa!" 2) Diferente de Dom Casmurro, de Machado de Assis, em que a velhice é apresentada como uma fase amarga da vida, marcada pela solidão e pelo desencanto, aqui, apesar de algumas incertezas, Manuelzão e outros velhos da novela não sentem esse drama ou, pelo menos, não têm consciência dele Solteiro a vida toda, largado pelo mundo como vaqueiro desbravador do sertão, é bem verdade que Manuelzão, aos 60 anos, começa a sentir saudade da estabilidade doméstica que nunca teve, sentimento que se desperta sobretudo com a presença de Leonísia, sua nora, casada com o Adelço: "Nem havia de ter coragem: e a Leonísia sendo tão bonita - mulher para conceder qualquer felicidade sincera". Entretanto, a velhice era uma realidade a que não podia fugir. Ali estava o velho Camilo e o senhor Vilamão, já no ocaso da existência, que esperavam, com paciência e sem revolta, o adormorrer inevitável: "A gente olhava aquela lamparina se esprivitando no arder, no umbral da porta, e daqui a pouco, no empretecer das estrelas, era o fim da festa se executando". 3) Não obstante, Manuelzão vais resistindo como pode. "De todo não queria parar, não quereria suspeitar em sua natureza própria de um anúncio de desando, o desmancho, no ferro do corpo. Resistiu. Temia tudo na morte". Mas agora nem não carecia ter medo do adormorrer. Enquanto não chegava, ele, Manuel Roíz, bravamente ia desbravar mais de uma boiada pela Gerais imensas do sertão sem fim. 4) Bonita também e altamente positiva é a visão da vida envelhecida sem envilecer, que é mostrada como manancial de sabedoria, em que vêm beber as gerações do porvir a fim de se dar continuidade à festa, que deve ser a vida de cada um. Entretanto, como ensina o final do livro, "a festa não é pra se consumir - mas para depois se lembrar..." Esse lembrar, sem dúvida, é o que fica e é o grande consolo dos que se aproximam da dimensão maior, que se conquista com o adormorrer.
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Manhã Transfigurada -Luís Antônio de Assis Brasil

   Poder-se-ia afirmar que esta obra é a continuação de seu primeiro livro, Um Quarto de Légua em Quadro. Com efeito, as personagens são descendentes dos primeiros portugueses que por aqui aportaram a partir da primeira metade do século XVIII. Os fatos ocorrem nas proximidades de Viamão. A narrativa inicia com o casamento do sargento Miguel de Azevedo Beirão, fazendeiro da Lagoa dos Patos, com Dona Camila. Na noite de núpcias, Miguel descobre que Camila não era virgem. Pede às autoridades eclesiásticas a anulação do casamento. Quando o sacristão Bernardo leva uma intimação a Camila, para que fique enclausurada na própria casa enquanto correr o processo de anulação das bodas, esta pratica uma aventura sexual com o sacristão, a fim de se vingar do marido. Bernardo apaixona-se pela senhora que, ao se aproximar do padre Ramiro, é tocada pelo amor deste. O padre, por sua vez, entra num dilema: corresponde ao amor de Camila ou se mantém fiel ao celibato? Enquanto isso, o sacristão fica possesso por um ódio surdo ao padre Ramiro. Configuram-se, ao mesmo tempo, o triângulo amoroso do romance romântico e a angústia barroca que se apodera do pároco. O final trágico, pois, numa manhã, na véspera da celebração religiosa, Bernardo passa a perseguir o sacerdote Ramiro campanário acima. No alto da torre Bernardo acerta um golpe com o turíbulo na cabeça do padre, que morre imediatamente. A seguir, desequilibra-se da torre, vindo a morrer sobre as pedras. A obra relata as dificuldades, os preconceitos e o abandono a que foram submetidos os imigrante portugueses que vieram desbravar as paragens da Província de São Pedro do Rio Grande. Em Manhã Transfigurada:·         A narrativa é ambientada em Viamão, no século passado, o que nos remete a uma característica da obra de Assis Brasil: a pesquisa histórica.·         A novela é centrada na personagem Camila, e através de sua trajetória podemos perceber a condição de submissão a que a mulher estava exposta na época.·         No início do relato, Laurinda apronta o vestido que Camila usará para ir à igreja, logo, o caso Camila com Bernardo já ocorreu, assim como o clima de sedução que se estabelece entre Camila e o padre Ramiro. Isto caracteriza a quebra da linearidade. Somente após este início, um flash back nos esclarece o adultério que ocorre envolvendo Camila e Bernardo e a atmosfera que se cria entre o padre e a mulher.·         Quando Camila seduz Bernardo, está tentando afirmar-se como mulher, desejada, capaz de atrair um homem, uma vez que a rejeição do esposo a deprimira muito. Já o Padre Ramiro desperta na moça o que ela acredita ser o verdadeiro amor.
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Manifesto da Poesia Pau-Brasil -Oswald de Andrade

Manifesto da Poesia Pau-Brasil - Oswald de AndradeEm 1924, Oswald de Andrade, no Manifesto da poesia pau-brasil (Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 18/03/24), defendia uma condição para o poeta: “sem reminiscências livrescas. Sem comparação de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.Foi inicialmente publicado no jornal Correio da Manhã, edição de 18 de março de 1924: no ano seguinte, uma forma reduzida e alterada do manifesto abria o livro de poesias Pau-Brasil. No manifesto e no livro Pau-Brasil [ilustrado por Tarsila do Amaral], Oswald propõe uma literatura extremamente vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil. Ou, como afirma Paulo Prado ao prefaciar o livro:“Oswaldo de Andrade, numa viagem a Paris, do alto de um atelier da Face Clichê – umbigo do mundo – descobriu, deslumbrado, a sua própria terra. A volta à pátria confirmou, no encantamento das descobertas manuelinas, a revelação surpreendente de que o Brasil existia. Esse fato, de que alguns já desconfiavam, abriu seus olhos à visão radiosa de um mundo novo, inexplorado e misterioso. Estava criada a poesia” pau-brasil “.”Texto na íntegra:A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, donas de casa tratando de cozinha.A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de base e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.A poesia Pau-Brasil, ágil e cândida. Como uma criança.Uma sugestão de Blaise Cendrars: - Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.Uma única luta - a luta pelo caminho. Dividamos: poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho...Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado - o artista fotográfico.Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Straviski.A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.Só não se inventou uma máquina de fazer versos - a havia o poeta parnasiano.Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases:1a) a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e marmé, Rodin e Debussy até agora.2a) o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.A sínteseO equilíbrioO acabamento de carrosserieA invençãoA surpresaUma nova perspectivaUma nova escalaQualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese; contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.Uma nova perspectiva.As outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão de ótica. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.Uma nova escala:A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficina técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloqüente, um pavor sem sentido.Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pegá" e de equações.Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.Oswald de Andrade (Correio da Manhã, 18 de março de 1924)
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Manel Capineiro -Lima Barreto

Manel Capineiro - Lima BarretoQUEM CONHECE a Estrada Real de Santa Cruz? Pouca gente do Rio de Janeiro. Nós todos vivemos tão presos à avenida, tão adstritos à Rua do Ouvidor, que pouco ou nada sabemos desse nosso vasto Rio, a não ser as coisas clássicas da Tijuca, da Gávea e do Corcovado.Um nome tão sincero, tão altissonante, batiza, entretanto, uma pobre azinhaga, aqui mais larga, ali mais estreita, povoada, a espaços, de pobres casas de gente pobre, às vezes, uma chácara mais assim ali. mas tendo ela em todo o seu trajeto até Cascadura e mesmo além, um forte aspecto de tristeza, de pobreza e mesmo de miséria. Falta-lhe um debrum de verdura, de árvores, de jardins. O carvoeiro e o lenhador de há muito tiraram os restos de matas que deviam bordá-la; e, hoje, é com alegria que se vê, de onde em onde, algumas mangueiras majestosas a quebrar a monotonia, a esterilidade decorativa de imensos capinzais sem limites.Essa estrada real, estrada de rei, é atualmente uma estrada de pobres; e as velhas casas de fazenda, ao alto das meias-laranjas, não escaparam ao retalho para casas de cômodos.Eu a vejo todo dia de manhã, ao sair de casa e é minha admiração apreciar a intensidade de sua vida, a prestança do carvoeiro, em servir a minha vasta cidade.São carvoeiros com as suas carroças pejadas que passam; são os carros de bois cheios de capim que vão vencendo os atoleiros e os "caldeirões", as tropas e essa espécie de vagabundos rurais que fogem à rua urbana com horror.Vejo-a no Capão do Bispo, na sua desolação e no seu trabalho; mas vejo também dali os Órgãos azuis, dos quais toda a hora se espera que ergam aos céus um longo e acendrado hino de louvor e de glória.Como se fosse mesmo uma estrada de lugares afastados, ela tem também seus "pousos". O trajeto dos capineiros, dos carvoeiros, dos tropeiros é longo e pede descanso e boas "pingas" pelo caminho.Ali no "Capão", há o armazém "Duas Américas" em que os transeuntes param, conversam e bebem.Pára ali o "Tutu", um carvoeiro das bandas de Irajá, mulato quase preto, ativo, que aceita e endossa letras sem saber ler nem escrever. É um espécime do que podemos dar de trabalho, de iniciativa e de vigor. Não há dia em que ele não desça com a sua carroça carregada de carvão e não há dia em que ele não volte com ela, carregada de alfafa, de farelo, de milho, para os seus muares.Também vem ter ao armazém o Senhor Antônio do Açougue, um ilhéu falador, bondoso, cuja maior parte da vida se ocupou em ser carniceiro. Lá se encontra também o "Parafuso", um preto, domador de cavalos e alveitar estimado. Todos eles discutem, todos eles comentam a crise, quando não tratam estreitamente dos seus negócios.Passa pelas portas da venda uma singular rapariga. É branca e de boas feições. Notei-lhe o cuidado em ter sempre um vestido por dia, observando ao mesmo tempo que eles eram feitos de velhas roupas. Todas as manhãs, ela vai não sei onde e traz habitualmente na mão direita um bouquet feito de miseráveis flores silvestres. Perguntei ao dono quem era. Uma vagabunda, disse-me ele."Tutu" está sempre ocupado com a moléstia dos seus muares.O "Garoto" está mancando de uma perna e a "Jupira" puxa de um dos quartos. O "Seu" Antônio do Açougue, assim chamado porque já possuiu um muito tempo, conta a sua vida, as suas perdas de dinheiro, e o desgosto de não ter mais açougue. Não se conforma absolutamente com esse neg6cio de vender leite; o seu destino é talhar carne.Outro que lá vai é o Manel Capineiro. Mora na redondeza e a sua vida se faz no capinzal, em cujo seio vive, a vigiá-lo dia e noite dos ladrões, pois os há, mesmo de feixes de capim. O "Capineiro" colhe o capim à tarde, enche as carroças; e, pela madrugada, sai com estas a entregá-lo à freguesia. Um companheiro fica na choupana no meio do vasto capinzal a vigiá-lo, e ele vai carreando uma das carroças, tocando com o guião de leve os seus dois bois - "Estrela" e "Moreno".Manel os ama tenazmente e evita o mais possível feri-los com a farpa que lhes dá a direção requerida.Manel Capineiro é português e não esconde as saudades que tem do seu Portugal, do seu caldo de unto, das suas festanças aldeãs, das suas lutas a varapau; mas se conforma com a vida atual e mesmo não se queixa das cobras que abundam no capinzal.- Ai! As cobras!... Ontem dei com uma, mas matei-a .Está aí um estrangeiro que não implica com os nossos ofídios o que deve agradar aos nossos compatriotas, que se indignam com essa implicância.Ele e os bois vivem em verdadeira comunhão. Os bois são negros, de grandes chifres, tendo o "Estrela" uma mancha branca na testa, que lhe deu o nome.Nas horas do ócio, Manel vem à venda conversar, mas logo que olha o relógio e vê que é hora da ração, abandona tudo e vai ao encontro daquelas suas duas criaturas, que tão abnegadamente lhe ajudam a viver.Os seus carrapatos lhe dão cuidado; as suas "manqueiras" também. Não sei bem a que propósito me disse um dia:- Senhor fulano, se não fosse eles, eu não saberia como iria viver. Eles são o meu pão.Imaginem que desastre não foi na sua vida, a perda dos seus dois animais de tiro. Ela se verificou em condições bem lamentáveis. Manel Capineiro saiu de madrugada, como de hábito, com o seu carro de capim. Tomou a estrada pra riba, dobrou a Rua José dos Reis e tratou de atravessar a linha da estrada de ferro, na cancela dessa rua.Fosse a máquina, fosse um descuido do guarda, uma imprudência de Manel, um comboio, um expresso, implacável como a fatalidade, inflexível, inexorável, veio-lhe em cima do carro e lhe trucidou os bois. O capineiro, diante dos despojos sangrentos do "Estrela" e do "Moreno", diante daquela quase ruína de sua vida, chorou como se chorasse um filho uma mãe e exclamou cheio de pesar, de saudade, de desespero:- Ai mô gado! Antes fora eu !...Era Nova, Rio, 21-8-1915.
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Macunaíma -Mário de Andrade

Rapsódia escrita em 1926 e publicada em 1928, traz uma variedade de motivos populares que Mário de Andrade juntou de acordo com as afinidades existentes entre eles. Trata-se de uma espécie de "coquetel" do folclórico e do popular do Brasil. Mário de Andrade mistura o maravilhoso e o sobre-humano ao retratar as façanhas de um herói que não apresenta rigorosos referenciais espaço-temporais – Macunaíma é o representante de todas as épocas e de todos os espaços brasileiros. Macunaíma, que leva o subtítulo de "herói sem nenhum caráter", é também o nome do personagem central, um herói ameríndio que trai e é traído, que é preguiçoso, indolente, mas esperto e matreiro, individualista e dúbio. Destituído da auréola idealizada dos românticos, Macunaíma é o índio moderno, múltiplo e contraditório. Nasce na selva, filho de uma índia tapanhumas, fala tardiamente e só anda quando ouve o som do dinheiro. Vira príncipe e trai o irmão Jiguê ao brincar com as cunhadas, primeiro Sofará e depois Iriqui. Vira homem e mata a mãe, enganado por Anhangá. Casa-se com Ci, a mãe do mato, guerreira amazonas da tribo das Icamiabas. Macunaíma torna-se o Imperador do Mato Virgem. Após seis meses, tem um filho. A criança morre, transformando-se em planta do guaraná. Ci, cansada e desiludida, vira a estrela Beta da Constelação Centauro. Antes de morrer, porém, Ci deixa ao esposo a muiraquitã, uma pedra talismã que lhe daria a garantia de felicidade. Mas o herói perde a pedra que acaba nas mãos do rico comerciante peruano Venceslau Pietro Pietra, colecionador de pedras em São Paulo. Em companhia de seus dois irmãos – Maanape e Jiguê – vem para São Paulo a fim de reconquistar a pedra, que simboliza seu próprio ideal. Porém, Venceslau, que está disfarçado de comerciante, é na verdade o gigante Piaimã, comedor de gente; por isso, as investidas de Macunaíma contra ele não dão resultado. Só depois de apelar para a macumba Macunaíma consegue derrotar o gigante. Reconquistada a pedra, Macunaíma retorna ao Amazonas e se deixa atrair pela Iara, perdendo definitivamente a pedra. Como já não vê mais graça no mundo, vai para o céu, onde se transforma em estrela da Constelação Ursa Maior, ficando relegado ao brilho inútil das estrelas.
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Madame Pommery -Hilário Tácito

 Crônica de mudanças urbanas e sociais. Foi com o pseudônimo de Hilário Tácito que o engenheiro civil José Maria de Toledo Malta publicou, pela editora de Monteiro Lobato, em 1919, seu único romance, Madame Pomerry. Ao longo do tempo, o volume foi sendo esquecido, ressurgindo através de um trabalho de preservação da memória pré-modernista, desenvolvido pelo setor de filologia da Fundação Casa de Rui Barbosa. Madame Pommery é uma espécie de crônica de costumes, que tem como cenário a cidade de São Paulo do começo do século. Hilário preocupou-se em focalizar as rápidas transformações ocorridas no meio urbano, contemplando-as paralelamente à vida que se escoava divertida em um bordel, o Paradis Retrouvé em que os consumidores passam da "cervejada à champanha francesa", em alusão às transformações ocorridas. O fio da meada é a história da prostituta polaca Madame Pommery, esperta, matreira, dotada de especial tino para "negócios" e as relações da cafetina com os círculos mais abastados da sociedade paulistana, que culminam com o enriquecimento e com o casamento de Madame Pommery e a conseqüente entrada para uma vida mais sóbria na sociedade. Em comentários paralelos, o narrador, em terceira pessoa, não omite o que lhe vai à cabeça, bem como tem por hábito explicar os processos que fazem parte da composição da obra, além de tecer considerações a respeito de suas observações. Aspectos Relevantes Como toda obra pré-modernista que se preze, a análise dos tipos sociais urbanos, a crítica ágil da hipócrita sociedade burguesa, numa denúncia da existência de dois Brasis, múltiplos em suas riquezas e composições é sempre o cerne de toda a narrativa. O discurso ágil e os galicismos são típicos ao traçar a coloquialidade da fala na escrita.
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Macário - Álvares de Azevedo

  É a peça de teatro de Álvares e Azevedo, passada em dois atos. No primeiro ato o jovem estudante Macário chega numa taverna para passar a noite e começa a conversar com um estranho. O estranho revela ser Satã e leva-lhe a uma cidade (possivelmente São Paulo, não fica claro, mas a referência está lá) de devassidão, povoada por prostitutas e estudantes, onde Macário tem uma alucinação envolvendo sua mãe. Macário então acorda na pensão e a atendente reclama que ele dormiu comendo. Ele acha que foi tudo um sonho, mas ambos vêem pegadas de pés de cabra queimadas no chão. O segundo ato, passado na Itália, acentua a confusão: Macário e outros estudantes aparecem em cena, confusos, deprimidos e em busca do amor puro e virginal. Seu amigo Penseroso acaba matando-se por amor enquanto Macário está bêbado. A peça acaba com Macário sendo levado por Satã a uma orgia em um bar, algo reminescente de Noite na Taverna.
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Cinemática - Movimento Uniforme (Prof. Toid)

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